- Com esta série não é pretendido fazer história, mas sim é visado, ao lado das imagens, que poderão ser úteis aos leitores, a sintetizar em seus acontecimentos principais a vida no Brasil Império, antes e depois, inserida na História.

Não se despreza documentos oficiais ou fontes fidedignas para garantir a credibilidade; o que hoje é uma verdade amanhã pode ser contestado.

A busca por fatos, dados, informações, a pesquisa, reconhecer a qualidade no esforço e trabalho de terceiros, transformam o resultado em um caminho instigante e incansável na busca pela História.

Dividir estas informações e aceitar as críticas é uma dádiva para o pesquisador.

Este blog esta sempre em crescimento entre o Jornalismo, Crônicas, Causos e a História.

Haverá provavelmente falhas e omissões, naturais num trabalho tão restrito.

Qualquer texto, informação, imagem colocada indevidamente, dúvida ou inconsistência na informação, por favor, comunique, e, aproveito para pedir desculpas pela omissão ou inconvenientes.

(Consulte a relação bibliográfica e iconográfica)

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Em História, não podemos gerar Dogmas que gerem Heresias e Blasfêmias e nos façam Intransigentes.

Acompanhe neste relato, que se diz singelo; a História e as Transformações do Brasil e do Brazil.

Poderá demorar um pouquinho para baixar, mas vale à pena

jpmcomenta@gmail.com

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Último Baile do Império

Império do Brazil
Baile da Ilha Fiscal
O Último Baille do Império

Luxo e Ostentação antecederam o fim do Império

Com a trama da República já nos calcanhares, o Império se divertiu à larga no Baile da Ilha Fiscal, o último baile na Capital do Império, Rio de Janeiro, que parou para ver o desfile de elegância.

Com essa recepção, o Império reforçava os laços de amizade com o Chile, bem como tentava reerguer o prestígio da Monarquia, bastante abalado pela propaganda republicana.

O Fim Glamuroso

- Jamais o Rio de Janeiro havia servido de cenário para tanto Fausto e Cintilância.
Em 09 de novembro de 1889, sábado, os salões do Palácio da Ilha Fiscal, na entrada da Baía de Guanabara, inaugurado em abril, para abrigar o serviço marítimo da Alfândega, foram palco do baile mais extraordinário entre todos os promovidos pelo Império.

Foi também o último baile, o apagar das luzes da Monarquia no Brasil, realizado apenas seis dias antes que as forças chamadas republicanas, instaurassem no país a nova ordem.

Com um pouco de criatividade podemos imaginar como foi a realização da maior festa realizada pelo Império Brasileiro, a pedido do Visconde de Ouro Preto.
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Afonso Celso de Assis Figueiredo
Visconde de Ouro Preto
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- A homenagem aos oficiais do Cruzador chileno Almirante Cochrane era apenas um pretexto do Presidente do Conselho de Ministros, Visconde de Ouro Preto (Afonso Celso de Assis Figueiredo).
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Cruzador chileno Almirante Cochrane
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Baia com a Ilha Fiscal e o cruzador chileno
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Bandeira do Chile

1887, dois AnosAntes


Em junho de 1887, a saúde do imperador havia declinado consideravelmente, e seus médicos sugeriram que ele buscasse tratamento na Europa.

A princesa Isabel assumiu, pela terceira vez, a regência do Império.

Enquanto em Milão (Itália), passou duas semanas entre a vida e a morte, recebendo até mesmo a extrema unção.

1888, um Ano Antes

Era o prenúncio, ainda que longínquo, de um Terceiro Reinado. Com esse aviso, a campanha republicana começou a ganhar musculatura. Caía o ministério do conservador Cotegipe, assumindo outro conservador, instigado, contudo, pela a Abolição.

O 13 de Maio, decretado sob o gabinete João Alfredo, estabeleceu um armistício entre os que se batiam contra “o emperro” do regime.

Passada a euforia diante do ato, o medo tomou conta dos que não queriam um reinado de Isabel I e seu consorte, o conde d’Eu. Sem ter parte direta no governo, o real cônjuge preenchia as condições previstas na Constituição para receber o título de imperador.

E já se tinha certeza de que seria um reinado de beatices e camarilhas.

Em 22 de maio de 1888, acamado e ainda se recuperando, recebeu a notícia de que a escravidão havia sido abolida no Brasil.
Com voz fraca e lágrimas nos olhos, murmurou:

"Demos graças a Deus. Grande povo! Grande povo!" e desatou a chorar copiosamente.

22 de agosto de 1888, Pedro II retornou e desembarcou no Rio de Janeiro.
O país inteiro o recebeu com um entusiasmo jamais visto.

Da capital, das províncias, de todos os lugares, chegaram provas de afeição e veneração.


Com a devoção expressada pelos brasileiros com o retorno do imperador e da imperatriz da Europa, a monarquia aparentava gozar de apoio inabalável e parecia estar no ápice de sua popularidade.

Sobre sua chegada, Raul Pompéia deixou um emocionado relato:

“Ao cais Pharoux, vimos em todo o correr da amarração uma considerável massa de povo que começava a afluir para esperar a entrada do vapor francês. No alto do pão de Açúcar, alunos da Escola Militar estenderam com a inscrição Salve, em letras encarnadas de seis metros, uma toalha como um bilhete de saudação ao monarca de volta. Os passageiros do Aimoré correram à amurada, desempenhando-se as comissões de entusiasmo que vinham a bordo, por conta de não sei quantas corporações oficiais, com toda a efusão de sinceridade aclamatória […]. No Arsenal formavam a Escola da Marinha, a Escola Militar, muitos colégios, as escolas municipais fardados de branco como pequeninos soldados, de polainas, patrona aos rins e comblain em descanso. No Arsenal ainda e pela rua Direita, formava a tropa em grande gala. Por todo o itinerário determinado dos imperantes, perfilava-se a ornamentação de colunatas de escudos e galhardetes, às sacadas flamejavam colchas abertas e apinhadas as senhoras ao sol com a coragem feminina da curiosidade […] o entusiasmo popular não foi o que se chama verdadeiramente um delírio, mas foi evidente e sincero. À porta do Arsenal, vi uma pobre velha enxugando lágrimas nas costas da mão. Por todo o trajeto do coche do monarca manteve-se constante o fervor dos vivas e não tinham conta os lenços agiotados das janelas, como um escrutínio de cambraia, as famílias brasileiras, votando paz e felicidade ao velho esposo da imperatriz”.

Não havia lembrança de tão calorosa acolhida à pessoa do monarca. Nessa alegria pública residiria, explica Sérgio Buarque de Holanda, ao menos o desejo de provar o espírito de constante fidelidade de seus súditos. Havia, também, quem julgasse que apenas a pessoa do imperador, e só ela, podia assegurar a adesão popular ao regime. Entrementes, houve luminárias e fogo no Engenho Novo, Botafogo e São Cristóvão.

E conclui Raul Pompéia:

“compreende-se bem como rodeou a cidade, sábia de lealdade e cortesã, a espiral ardente do regozijo público, coleando cerimônias de muito longe até centralizar-se e acabar nos jardins da imperial residência”.

Moralidade e as idéias contrárias

Em entrevistas publicadas em Ordem e Progresso, Gilberto Freyre confirma o apreço no qual transitava o imperador, apreço que se prolongou mesmo depois de seu exílio. Houve quem guardasse moedas e selos com sua efígie, quem considerasse que “moralidade, só na monarquia”, quem lembrasse as alusões lisonjeiras à sua figura. Um imenso saudosismo dos tempos do Império se prolongou por muito tempo depois da Proclamação da República.

Com o imperial casal voltava, também, D. Pedro Augusto, filho de D. Leopoldina e Augusto de Saxe-Coburg-Gotha, cujas ambições em relação ao trono não eram disfarçadas, fazendo até parte da correspondência trocada entre membros da família real.

Ao noticiar o retorno do monarca, a imprensa internacional mencionava não só este detalhe, mas outro: a recente organização do partido republicano.

No campo das idéias, assistia-se às conferências de Silva Jardim no Teatro Lucinda ou na Sociedade Ginástica Francesa. Falava-se muito na “revolução adorada” – a francesa – em soberania e em vontade popular.

O autor lembra que na primeira conferência a Guarda Negra organizada por José do Patrocínio criou problemas ao conferencista.

Os hotéis, conta-nos Gilberto Freyre, começaram a ser pontos de reunião. Nas suas salas nobres e nos restaurantes, juntavam-se tanto os príncipes do comércio quanto da lavoura, das indústrias, das finanças, da política, das letras, do magistério.

Centros por vezes luxuosos e até nababescos que se distinguiam pela pompa na decoração. Refletida em seus espelhos, a elite degustava sopas e sorvetes (de pitanga, de caju, de cajá), combinações desenvolvidas pelo italiano Francioni, o “maior importador de gelo do Brasil”. Nos terrasses a gente importante encontrava-se para saborear uísque Dewar’s e cerveja, muito ao gosto dos novos senhores da economia. Esses, segundo Gilberto Freyre, “gente sempre de sobrecasaca preta e chapéu alto”. Célebre por sua cozinha e seu salão era o Globo, que reunia para banquetes os membros do Parlamento e publicava seu anúncio em francês:

“Ce magnifique restaurant offre aux étrangers arrivant à Rio, toutes les commodités pour Lunch, Dîners…”.

Membros da elite, todos ali passavam. Do conservador e radicalmente abolicionista João Alfredo, ao escravocrata barão de Cotegipe que aí encontrava cocottes, a Quintino Bocayuva, Aristides Lobo e outros “denodados propagandistas da Repú- blica que discutiam os meios de empregar para o advento do novo regime”.

Os sifões Prana Sparklets se encarregavam de prometer água gasosa mineral igual em ação terapêutica às de Vichy.

A mania das águas minerais servia para a burguesia lutar contra disenterias e febres tifóides. O rococó como estilo decorativo não podia deixar de corresponder psicologicamente a um estado de ânimo que se tornou, nessas várias expressões da vida republicana, característica de uma nova época, marcada pela ascensão repentina de indivíduos pobres à situação de ricos e até de nababos.
Eram os filhos do Encilhamento.

O Grande Baile

Embora D.Pedro II nunca tenha sido um grande apreciador de festas, nunca se viu no Brasil uma festa com tanto luxo. Uma fartura total de comida.

Tudo havia sido planejado para tornar inesquecível o Baile da Ilha Fiscal, promovido pelo Imperador, no sábado, dia 09 de novembro de 1889. Aquela seria a última festa do Império, já que seis dias depois, o Imperador seria deposto e exilado.

1889 ,O Ano 

Não começava bem aqui, mas, lá fora, Levasseur terminava o extenso ensaio que publicaria na Grande Encyclopédie sobre o império do Brazil, e o país participara da Grande Exposição Universal, em Paris, com um pavilhão decorado com ramos de café, vitórias-régias e frutas tropicais.

O fatídico ano foi, também, próprio para páginas do que alguns, de nariz torcido, chamam “petite histoire”.

Este período se passa no Rio de Janeiro, capital do Império do Brazil. Mais precisamente nos últimos meses desse ano.. 

Ilha Fiscal
Século XIX
***
Teve vez, aí, uma série de acontecimentos que preencheram a crônica mundana. Eles culminaram no histórico evento que ocorreu numa ilha. Uma das muitas disseminadas nos 412 quilômetros quadrados de superfície da Baía de Guanabara. Uma dessas “pedras soltas no colar da cidade”, como já dissera um cronista. Na imediata vizinhança da Ilha das Cobras existia um parcel rochoso e elevado mais conhecido como Ilha dos Ratos. Foi arrasado e cercado de cais de atracação para servir de depósito de materiais e armazém aduaneiro.

Rio de Janeiro, capital do Império

Diante dela, estendia-se o Rio de Janeiro comercial, como queria Raul Pompéia.
Na Rua do Ouvidor, o negócio fino das jóias e das idéias, estas últimas distribuídas em livrarias e cafés. Nas confeitarias, segundo ele, o também comércio inocente do namoro.
Alfaiatarias populares, como a Baliza, se acomodavam na Rua do Hospício, enquanto as sapatarias exibiam seus produtos na Rua do Carmo.
Tipografias e 3 cervejarias concentravam-se na Rua Nova do Ouvidor, rua impregnada de um “cheiro” de Leipzig, deduzido das emanações combinadas da tinta de impressão e do lúpulo.
A carne verde preferia as Ruas da Assembléia e da Uruguaiana.
Chá, cera e rapé formavam o clã mercantil da Rua da Candelária .
Ferragens, na Rua Direita.
Café, “o grande café em sacas, o rei café em grão, com sua entrada de símbolo na própria bandeira nacional”, tinha seu endereço na cruz das ruas Municipal e dos Beneditinos.
O comércio da carne seca estendia-se em mantas pela Rua do Rosário abaixo, “acentuando-se em apuro seboso com a pujante variedade de toucinho e queijos, aldeada, além da rua Direita, por todos os arredores da igreja da Lapa dos Mercadores”.

A cidade era conhecida por sua insalubridade e sujeira. Tinha entranhas feitas de ruas estreitas e sinuosas e prédios colados e super-povoados. Surtos epidêmicos fustigavam a população indefesa. As questões de higiene e salubridade eram ignoradas pelas autoridades, assim como os problemas ligados a transportes, abastecimento e esgotos.

A abertura das ruas se fazia “sem a menor atenção ao futuro estado higiênico. Qualquer indivíduo, por exemplo, o caixeiro, do leiloeiro encarregado de vender o terreno riscava as séries de lotes separados pelas ruas de direção que ele imaginou. Tirava-se a planta impressa, fazia-se o anúncio e vendia-se tudo; as construções começavam imediatamente, sem preparação prévia do terreno nem estabelecimento dos encanamentos necessários às habitações das grandes cidades”.

Na última década do século a população carioca aumentara expressivamente em virtude da imigração estrangeira e nacional, predominantemente constituída por adultos. Mesmo considerando a expansão do setor manufatureiro, da construção civil e dos serviços em geral, o aumento acelerado tornava inviável a absorção de toda essa mão de obra. A solução de sobrevivência significava improvisar com trabalho autônomo.

Multiplicavam-se os vendedores ambulantes, empalhadores, amoladores, lustradores, pequenas oficinas de reparação, além da enorme gama de ocupações que João do Rio arrolou como “profissões ignoradas”: tatuadores, trapeiros, apanha-rótulos, selistas, ledores de buena-dicha, ratoeiros. Além das oficinas artesanais e de pequenos consertos, a feitura de comestíveis para venda e o pequeno comércio fixo, as pessoas lutavam pela sobrevivência no imenso espaço de trabalho que eram as ruas do Rio.

“Aparentemente confuso esse espaço possuía uma organização própria e uma articulação com o sistema capitalista que se afirmava.”

Os vendedores ambulantes, licenciados ou não, tinham uma área de atuação determinada, onde se tornavam conhecidos e constituíam freguesia. As fotos de Marc Ferrez e João Goston revelam seus rostos. Seus gritos e pregões que enchiam os ares foram repertoriados por Luís Edmundo.

Trabalhadores autônomos e assalariados representavam mais de 2/3 da população que contava, em 1890, com cerca de 1.230 professores, 266 jornalistas, perto de seis mil funcionários públicos e cerca de onze mil militares entre Exército, Armada e Polícia.

Rio de Janeiro., capital do Império, Fervilhava.
Os estoques das lojas de tecidos se esgotaram em poucos dias. Costureiras e alfaiates não davam conta de tantas encomendas. 

Já no início da tarde daquele sábado, o Rio de Janeiro passou a viver um clima diferente. Acabou mais cedo do que de costume o movimento no centro, à exceção do que se verificava nas lojas de roupas finas. Nelas, fervilhavam as senhoras e senhoritas em busca de suas requintadas toaletes de seda, rendas de Bruxelas, chamalote ou veludo.

Nos alfaiates, o movimento não era menor. Os cavalheiros acorriam em busca de suas casacas feitas especialmente para a ocasião. Os mais ousados faziam os últimos ajustes em seus vestons - essa extravagante indumentária recém-surgida no mundo da moda, composta de vestes compridas e pretas com gola, inteiras de seda.

Os festeiros se apressavam também para conseguir dar os últimos retoques no trato pessoal.

As filas nos barbeiros eram enormes, e muitos cavalheiros que desejavam apenas fazer a barba tinham que esperar pacientemente até que se fizessem nas melenas dos jovens, a ferro quente, as pastinhas, tão populares entre eles.

A Trama

Enquanto a cidade formigava sob o “calor senegálico” – como queria Raul Pompéia –, na cena política moviam-se atores de dois grupos distintos: os Militares e a Burguesia comercial.

Escrevendo sobre o assunto no fatídico ano, e às vésperas da República, Rui Barbosa observara que datavam do lusco-fusco do Segundo Reinado as comoções capazes de abalar a autoridade moral da monarquia no espírito do soldado brasileiro.
As “junturas do arcabouço”, diz, já interiormente corroído “pelos vícios do poder pessoal”, começavam a estalar quando o país deixara de saber quem era o chefe de Estado.

Rui Barbosa

Não eram contraditórias suas afirmações de que o poder pessoal desgastara o edifício monárquico. Rui Barbosa simplesmente resumia a idéia de que o poder do imperador, embora exercido com brandura e moderação, preservara o país dos riscos a que poderia estar submetido.

“Enquanto D. Pedro II governou este país, nunca houve o menor estremecimento entre o governo e a força militar. Sua Majestade soube alimentar sempre e com extrema delicadeza, se não o entusiasmo pelo rei, ao menos essa tranqüilidade nas fileiras militares, a observação automática dessa disciplina que faz das organizações armadas a base da paz ambicionada pelos governos liberais e confundida por eles com a verdadeira segurança.”

Tudo isto significava que, da maneira como fora exercido, o poder pessoal permitira esconder a deterioração existente no aparelho militar. A ausência ou presença de um chefe de Estado normalmente atuante não teria sido bastante para animar ou deter a ação destruidora que já começara. Tanto o país quanto o regime ainda deram mostras de pujança sob o ministério de Rio Branco.

José da Silva Paranhos Junior
Barão de Rio Branco

Mas a crise mundial de 1875 colocou tudo a perder.

A Economia no Governo Imperial

Dois anos mais tarde, seguiu-se a grande seca de (1877-80) impondo à nação sacrifícios superiores aos ordinários e produzindo devastação comparável nas finanças públicas, as quais exigiriam uma guerra externa.

Em 1888, resolveu-se a questão do “elemento servil” sem pensar em estratégias de integração dos cativos.

Nos nove anos que antecederam o fim da monarquia sucederam-se dez governos diferentes, representando pontos de vista diversos e opostos.

O câmbio despencara a partir da grande seca, indo de 27 pence por mil réis a 22 dinheiros e mantendo a queda.

“As finanças públicas prosseguiram no seu caminho para o desconhecido”, escrevinhava um político.

Por outro lado, o mercado de fundos públicos desenvolvia extraordinária atividade; organizavam-se companhias industriais e comerciais todos os dias e os bancos elevavam o capital, esperando poder converter-se em estabelecimentos emissores, nos termos do decreto de 06 de julho de 1889.

Na Bolsa do Rio de Janeiro, os títulos de empresas recém-fundadas eram imediatamente negociados a prêmio. O visconde de Figueiredo era um dos novos milionários. Raul Pompéia o tinha na conta de “rei de ouro do baralho financeiro na atualidade”. Recebia com feéricas festas como a que ofereceu no cassino Fluminense, na qual reuniu “a aristocracia da Corte, todo o orgulho dos crachás da nossa sociedade, toda a coleção marmórea de belas espáduas nuas do high-life feminino”.

Diz Sergio Buarque de Holanda que, “vista a distância, a queda do regime não pode surpreender muito. E não seria este o primeiro caso na história, e nem o único, a mostrar como um surto rápido de progresso material, seguindo-se a uma prolongada era de prostração, longe de sustar, pode, ao contrário, apressar mudanças de caráter revolucionário. Por outro lado, a recuperação mostrada pelo país encobria um fundo falso.

A situação não deixava de oferecer aspectos curiosos. O valor total das exportações não aumentara muito e as importações subiram um pouco. As fontes de renda continuavam a provir da alfândega e nada prometia aumento de renda.

Aconteceu que o governo conseguira três anos antes um empréstimo de seis milhões de libras.

Em 1888, outro de mais seis milhões. “O império era bom pagador e tinha crédito: fazia dívidas novas para pagar dívidas velhas e com isso melhorava a situação cambial”.

A Política

Ao quadro financeiro e econômico somava-se outro. Este, - político.

Em julho de 1889, caía o ministério João Alfredo afogado nos números de transações inescrupulosas. Ninguém queria substituí-lo; nem Paulino de Souza, chefe dos “ultras” do partido, numa tentativa de salvar a Coroa pela indenização aos antigos senhores de escravos. Nem o liberal Saraiva. O partido conservador mostrava assim sua fragilidade.

Aceitou-a o visconde de Ouro Preto, estadista mineiro conhecido por inabalável intransigência.

A leitura do programa de governo, feita a 11 de junho de 1889, já se passou entre vaias e apupos e gritos de “Viva a República”.

Em julho de 1889, festejaram-se as comemorações do 14 de julho e a queda da Bastilha e pelas ruas da cidade chocaram-se os que cantavam a “Marselhesa” com os membros da Guarda Negra organizada por José do Patrocínio formada por antigos escravos fiéis à princesa Isabel, alguns deles capoeiristas armados de cacetes – os Petrópolis – e navalhas que revidaram a cantilena com truculência.

José do Patrocínio

Um tiro de revólver disparado contra o imperador D. Pedro por um jovem estudante português adepto do republicanismo na saída do teatro.

No dia 15 de julho de 1889, reacendeu a simpatia pelo velho e combalido monarca.

Incidentes com militares na forma de prisões, ou indicações recusadas, infrações disciplinares bem como o deslocamento de Deodoro da Fonseca (Proclamdor da República), que deixava seu exílio em Mato Grosso, aumentaram a tensão.

Deodoro da Fonseca

Um boato, contudo, fazia ferver os quartéis. O de que as remessas de batalhões para as províncias tinham por escopo deixar espaço de manobra para a Guarda Nacional, que garantiria sem maiores problemas a assunção do Terceiro Reinado.

Crescia a indignação dos militares que, como Deodoro da Fonseca, ameaçavam levar ministros a julgamento em praça pública, assestar a artilharia e culpar o governo imperial por falta de patriotismo.

No mês de outubro de 1889, começaram as articulações entre oficias descontentes e civis republicanos. O incidente em torno da demissão do tenente-coronel Medeiros Mallet pelo ministro da Guerra, somado aos boatos de que o governo pretendia dar um golpe no Exército, facilitou a aproximação.

João Nepomuceno Medeiros Mallet

João Nepomuceno de Medeiros Mallet (Bagé, 16 de maio de 1840 — Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1907) foi militar e político brasileiro.

Nota:
- Por ocasião da Proclamação da República, recebeu o encargo de levar ao imperador D. Pedro II a ordem de partida imediata para a Europa.

Outrora, durante a Questão Militar, a iniciativa dos contatos partira dos republicanos; Freyre (op. cit., p. 421) lembra que tais encontros lhe valeram o “escândalo das popelines” armado contra Cotegipe por Cesário Alvim, agora, são os oficiais os que tomam a dianteira, a começar pelo major Sólon de Sampaio Ribeiro e pelo capitão Mena Barreto.

A exaltação militar não tinha limite, nem conhecia conveniência, expandindo-se mesmo diante do comandante e dos oficiais do cruzador chileno Almirante Cochrane, então fundeados no Rio de Janeiro e que iriam participar dos festejos das bodas de prata dos príncipes imperiais.

Em baile organizado no então Cassino Fluminense, onde se achavam os oficiais da marinha chilenos, os príncipes receberam as maiores manifestações de simpatia.

Em compensação, uma semana mais tarde, houve banquete na Escola Militar da Praia Vermelha em homenagem aos oficiais do navio chileno. O tenente-coronel Benjamim Constant tomou a palavra para saudá-los e aproveitou a ocasião para defender o Exército das acusações de indisciplina que lhe faziam os amigos do governo, achando-se presente o ministro da Guerra.

Os alunos saudaram o orador estrepitosamente aos gritos de “Viva a República… do Chile”, forçando a pausa para marcar a intenção.

A impunidade em que ficaram os responsáveis por essa e outras manifestações que tinham com freqüência por alvo o tenente-coronel Benjamim Constant parece indicar que o governo começava a temer uma incompatibilidade sem remédio com a classe militar.

Enquanto ferviam nos bastidores políticos as tensões, em cena e entre os grupos identificados com novas políticas, nunca se conjugou tanto o verbo festejar.

Se o império de Pedro II fora grandemente marcado por celebrações festivas que misturavam datas religiosas, populares e oficiais, natalícios de monarcas e princesas, procissões, entrudos e carnavais, seu final prometia um desfecho singular, ele, também, em torno de um motivo festivo.

Se por décadas a monarquia transformara suas aparições em espetáculos, às vésperas da República a agenda social se excedeu.

A atenção estava focada na visita ao Rio de um navio chileno e o gabinete ministerial usou a ocasião para organizar uma série de eventos, cujo fim era demonstrar a saúde da nação e o prestígio do regime.

Assim era o Brazil Imperial e Republicano, e seus governos. 
Assim é o Rio de Janeiro.
Bem Vindo

Objetivo do Baile

Oficialmente seria homenagear o comandante Bannen do navio chileno Almirante Cochrane, ancorado no Rio de Janeiro havia duas semanas, em retribuição a igual colhida emà recepção que os brasileiros tiveram quando estiveram em Valparaíso, no Chile.

Couraçado chileno Almirante Cochrane

Na realidade as finalidades seriam:

- Confirmação das Bodas de Prata da Princesa Isabel e do Conde D´Eu que já tinha ocorrido em 15/10/1889,

- Fortalecimento da Monarquia, ameaçada por tantos que defendiam ideais republicanos.

Mas o real objetivo do evento, que funcionou às avessas, era tentar revigorar a imagem do Império na opinião pública e sensibilizar a nobreza empobrecida pela abolição da escravatura para a preservação da Monarquia.

Então organizou aquela que seria, segundo o Visconde de Ouro Preto, "a maior e mais importante" festa entre todas já promovidas pelo Império.
 ***

Visconde de Ouro Preto
Presidente do Conselho de Ministros

Assim como ficou conhecido, o Baile da Ilha Fiscal foi organizado com requinte, e segundo alguns críticos com muita pompa e excentricidade, o que serviu como o derradeiro pretexto para o fim da Monarquia Constitucional Parlamentarista e Proclamação da República.

O motivo alegado para o baile era diplomacia envolvendo uma homenagem aos oficiais do navio chileno "Almirante Cochrane".

Entretanto, alguns interpretam também como se o Baile fosse uma demonstração de força ou tentativa de promover e revigorar o regime Monarquico, que ainda tinha bastante apoio popular, mas encontrava crescente e forte oposição política, embora dentro do parlamento o Governo tinha maioria.

A oposição vinha de setores tidos tanto como progressistas como também de setores retrógrados e reacionários. Existia a insatisfação nos circulos militares nacionalistas e progressistas, e também oposição por parte de politicos Republicanos. Existia também a perda de prestígio do Imperador devido à abolição da escravatura em 1888, e assim os setores que eram contrários à abolição da escravatura se voltaram contra a Monarquia.

A Escolha do Local do Baile
Era necessário escolher o local do baile, se a festa acontecesse no Paço de São Cristóvão, os militares do Exército, cujo quartel da Artilharia ficava ali ao lado, teriam a faca e o queijo nas mãos para proclamar a República. Bastava cercar o Imperador e seu ministério.

O mesmo aconteceria se o baile fosse realizado em Petrópolis.

Os revoltosos precisariam apenas explodir as pontes ferroviárias para deixar o governo imperial isolado.

- A solução seria uma ilha.

Monarquista, a Armada (Marinha de Guerra brasileira), a terceira do mundo na época, daria a cobertura.
E ainda poderia contar com a ajuda da Marinha chilena, que enviara o encouraçado Almirante Cochrane para exercícios na Baía de Guanabara.

Só faltava escolher a ilha. - O que não foi muito difícil.
***
Ilha Fiscal


A Ilha Fiscal

A Ilha Fiscal estava logo ali, com seu belo palácio recém-construído, com seu estilo mourisco aos moldes de outros majestosos que existem na região do Alverne, na França.

Foi escolhido o posto de vigilância aduaneira, destinando-o a servir de sede da Guardamoria e quartel dos guardas da Alfândega.

A Ilha Fiscal na Baía de Guanabara, junto às instalações do estaleiro da Marinha do Brasil e fronteira ao centro histórico da Cidade do Rio de Janeiro, em frente à atual Av. Presidente Vargas e à Igreja da Candelária, próximo ao Paço Imperial da Praça XV (antigo Cais Pharoux).

Inaugurada depois de 7,5 anos de obras em abril de 1889, à entrada da Baía de Guanabara, 200 metros do centro do Rio de Janeiro - que ficava numa ilha, pelo povo conhecida como "Ilha dos Ratos".

O Prédio

O prédio em estilo neogótico ocupa 1.000 metros quadrados da ilha, foi projetado em 1881 e inaugurado em 27 de abril de 1889.

O palácio foi destinado para quartel da guarda de fiscalização do porto e tornou-se famoso por ter abrigado, no Império o último baile da Corte, organizado pelo Visconde de Ouro Preto em homenagem à guarnição do encouraçado chileno "Almirante Cochrane", em 09 de novembro de 1889.

No século XIX, o Conselheiro José Antônio Saraiva do Ministério da Fazenda, recomendou a construção de um posto alfandegário para o controle das mercadorias importadas e exportadas pelo porto do Rio de Janeiro naquela época a Capital do Império.

A posição da ilha era bastante adequada para a instalação dos inspetores da Alfândega, devido à proximidade dos pontos de ancoragem das embarcações para carga e descarga, sendo o transporte delas executado por pequenas embarcações.

A Joia da Coroa

A decisão da construção da edificação, assim como do seu estilo arquitetônico foram do Imperador D. Pedro II, tendo em conta não denegrir a beleza da paisagem da Serra do Mar. Após uma visita de dom Pedro II à ilha – encantado com a vista, ele disse que ela era:

“Como um delicado estojo, digno de uma brilhante jóia”.

O baile foi o primeiro grande evento do palácio.
A Ilha da Fantasia
Nunca houve tanto luxo no Brasil quanto no baile da Ilha Fiscal
Bela vista do Paraíso.

O governo optou pela construção de um pequeno castelo em estilo manoelino, gótico-provençal, inspirado nas concepções do Arquiteto francês Violet-le-Duc, com projeto de autoria de Adolpho José Del Vecchio - então Engenheiro-Diretor de Obras do Ministério da Fazenda, onde se destacavam as agulhas e as ameias medievais a adornar a silhueta da edificação.

O projeto de Del Vecchio foi contemplado com a Medalha de Ouro na exposição da Academia Imperial de Belas Artes, tendo apresentado a seguinte argumentação:

"A construção planejada, tendo de ser levantada isoladamente em uma ilha, projetando-se sobre um fundo formado pela caprichosa Serra dos Órgãos, encimada por vasto horizonte, e de frente para a entrada da baía, devia causar impressão agradável aos que penetrassem no porto, suficientemente elevada para que pudesse facilmente ser vista de qualquer ponto entre a mastreação dos navios, e prestar-se ao mesmo tempo à fiscalização do ancoradouro."


No palacete podem ser admiradas obras de cantaria artística em granito fluminense, móveis de jacarandá e ébano, forrados em couro de Córdoba, o parquet do piso, o relógio central montado pela Krussman & Co, e o maior brasão do Império, este também executado em granito fluminense. Tudo em perfeito estado de conservação.


Na parte superior do castelo, após subir uma escada em caracol com 38 degraus e revestida em cantaria podemos vislumbrar a sala onde foi realizada a troca de bandeiras entre Chile e Brasil.   

       
A sala é ricamente ornada com vitrais ingleses, que retratam de um lado D. Pedro II e, do outro a Princesa Isabel, ladeados por brasões, além do belíssimo piso confeccionado em parquet.

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Ilha Fiscal - 1889
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O nome “Ilha Fiscal”

A Ilha Fiscal fica na Baía de Guanabara, junto às instalações do estaleiro da Marinha do Brasil e fronteira ao centro histórico da Cidade do Rio de Janeiro, em frente à atual Av. Presidente Vargas e à Igreja da Candelária, próximo ao Paço Imperial da Praça XV (antigo Cais Pharoux).


A posição daquela ilha era bastante cômoda para os inspetores da Alfândega, devido à proximidade dos pontos de fundeio, sendo que o translado de mercadorias poderia ser executado em embarcações miúdas, sem grandes dificuldades.

Antes chamada Ilha dos Ratos (não se sabe se por conta da quantidade de roedores ou pelo formato das pedras ao seu redor), a Ilha Fiscal recebeu seu atual nome após ser transformada em posto de fiscalização de navios.


Primitivamente denominada como ilha dos Ratos, o seu atual nome é porque ali funcionou o posto da Guarda Fiscal, que atendia o porto da então Capital, no século XIX, sendo que ela ficou mesmo famosa na história por ter abrigado o famoso Baile da Ilha Fiscal, a última grande festa do Império antes da proclamação da República, em Novembro de 1889.

Ilha Fiscal

O Organizador do Baile

Foi seu organizador o barão de Sampaio Viana “que depois a entregou ao Sr. Comendador Hasselmann.

Segundo os jornais da época, enormes toldos abrigavam várias mesas de buffet e, no lado oeste, havia enormes mesas para a ceia enfeitadas com coroas de flores artificiais. O serviço foi feito pela empresa Casa Pascoal.

Toda a porcelana usada foi produzida especialmente para a ocasião.

Mudança da Data do Baile

Tudo estava preparado para a festa, inicialmente programada para 19 de outubro de 1889, quando chegou a notícia da grave doença do rei de Portugal – Dom Luis I, sobrinho do Imperador, que faleceu no dia seguinte.

Em respeito ao luto, a comemoração – que reuniria a Família Imperial, membros do governo, o corpo diplomático, altas patentes militares e a nata da sociedade da corte, foi transferida para o sábado, 09 de novembro de 1889.
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Dom Luis I - O Popular 
11.11.1861/19.10.1889

A Cereja do Bolo

A cereja do bolo, no entanto, foi o Baile da Ilha Fiscal. Na crônica urbana, não se falava em outra coisa que não os preparativos para o evento.
E Raul Pompéia registra:

“Ainda vibravam, no ânimo da Família Imperial, as impressões do grande baile que, nos salões do cassino Fluminense, ofereceu o comércio, em comemoração das bodas de prata da sereníssima princesa imperial D. Isabel e seu augusto consorte, gratas impressões, como devia produzir a homenagem dos representantes idôneos das classes poderosas da nação, que se andava imaginar distanciada do trono, em represália de despeito contra excelsa consumadora do grande golpe de maio do outro ano; ainda viviam recentes as recordações da festa, de uma festa efusiva e sincera como não é muito de uso na monarquia brasileira, consagra-se aos príncipes quando veio a notícia do passamento de el-rei d. Luís I abafar bruscamente toda a alegria. O momento nacional, caracterizado por uma precipitação vertiginosa de festas, paralisou-se repentinamente em respeito ao luto da Imperial Casa e, ao mesmo tempo, a imensa mágoa que veio contristar a nação portuguesa. Todas as festas projetadas em honra dos marinheiros chilenos foram declaradas suspensas. Nas ruas, onde, há pouco tremulava o pano largo das bandeiras arvoradas pela chegada dos ilustres viajantes despiram as meias hastes do funeral. Todas as repartições públicas brasileiras, acompanhando o Consulado português, todas as associações portuguesas, as inúmeras que há na Corte, muitas nacionais, muitas casas particulares decoraram-se com essa demonstração de condolência. Os negociantes portugueses cerraram as portas de seus estabelecimentos. As associações portuguesas vestiram de crepe as inscrições de suas fachadas. O edifício de granito retalhado e mármore do Gabinete Português de Leitura, na rua Luís de Camões, desfraldou das altas sacadas sobre as rendas do pórtico manuelino panejamentos negros […] foram proibidos espetáculos de toda espécie. Os bailes de algumas sociedades já anunciadas para sábado, dia imediato ao falecimento do monarca foram adiados, tal qual o famoso do governo aos chilenos, no edifício da ilha Fiscal que, falhando, rendeu a algumas instituições de caridade uma lauta e inesperada distribuição de manjares, tudo que se podia deteriorar, do que os comissários da festança tinham mandado preparar para o grande banquete”.

A Imprensa

A imprensa, contudo, foi o mais eficiente termômetro para captar os signos desse “fim de festa” do Império do Brazil.

Às vésperas da Abolição contava o Rio de Janeiro com 70 jornais redigidos em língua francesa, inglesa, alemã e italiana.

O mais importante, o Jornal do Commercio, contava mais de 66 anos de existência “dando de seis a oito páginas por dia a oito colunas e com tiragem de 16 a 18.000 exemplares”; se seguem o Diário Oficial, Gazeta de Notícias, País, Diário de Notícias, todos matutinos.

Vespertinos eram a Gazeta da Tarde, Gazeta do Rio e Novidades.

Fragmentos de jornais de época demonstram a agenda cheia que empurrava os visitantes chilenos entre grupos militares e os da sociedade civil.

Não se deve perder de vista, na leitura da agenda que envolveu o Baile da Ilha Fiscal, que, como toda forma de segmentação social, as identidades partilhadas podiam agir umas contra as outras, quando o jogo de interesses e as tensões as colocavam em concorrência.

Destaca-se nas notas da imprensa, reunidas na Coleção Festas Chilenas do Arquivo Nacional, o papel das comunidades de interesse envolvidas com a Proclamação da República. Atuando como “corpos” constituídos por cooptação, portadores de normas e regras de conduta, possuidores de privilégios comuns, os militares republicanos são as figuras mais evidentes.

No mesmo nível, mas agindo de maneira fluida e funcionando como órgão de defesa coletiva contra mudanças, vê-se um segmento misto, solidário a um tipo de vida em comum, aos ensinamentos recebidos sobre a monarquia, marcados, aparentemente, pela proteção mútua, códigos e jargões próprios, uma concepção hierarquizada das relações sociais, a defesa de privilégios e a vontade de resolver problemas inerentes ao grupo em seu interior.

Ambos disputaram uma agenda em torno da presença de oficiais chilenos de tirar o fôlego.

Nesse sentido, uma seleção de documentos ilustrativos e inéditos sobre o evento. Eles conduzem, contudo, a uma tese tornada clássica na obra de José Murilo de Carvalho: a do alheamento em torno da Proclamação da República.

Na manhã de 31 de outubro de 1889, o Jornal do Commercio anuncia “visita ao Museu Nacional onde o comandante e oficiais do Almirante Cochrane foram recebidos pelo diretor dr. Lacerda e Orville Derby”; à tarde, houve visita ao quartel do corpo militar da polícia para examinar as obras do novo edifício, capela e hospital.
A visita foi seguida de “delicioso lunch e dessert” com vários brindes.

Em 01 de Novembro de 1889, visita ao Corcovado, com saída do Largo do Machado num “bond graciosamente cedido pela Companhia do Jardim Botânico… depois subiram em trem especial até o Corcovado. Infelizmente a cerração impediu que os nossos hóspedes pudessem apreciar o belo panorama que do alto se descortinava, mas, aproveitando pequenos espaços conseguiram ver alguma coisa.[…] Pouco antes da uma hora foi servido no hotel das Paineiras profuso almoço no qual se trocaram vários brindes”, o grupo de estrangeiros visitou o IHGB onde foram brindados com a presença do imperador, suas altezas reais, o príncipe D. Pedro e os ministros do Império; “grandes festões de flores enfeitavam o teto da sala profusamente iluminada. Distribuiu-se um retrato do Almirante Cochrane e o discurso do barão Homem de Mello. À esposa do comandante Bannen, foram oferecidos dois exemplares de Brazileiras Célebres e dois elegantes ramos de flores feitas de penas de aves do Brazil. Ao comandante foi oferecida uma medalha comemorativa da Lei Áurea de 13 de maio”.

“O Conselheiro Olegário começou agradecendo a Sua majestade seu comparecimento e tudo o quanto lhe devia o Instituto para a celebração daquela festa […]. O Príncipe D. Pedro leu um importante trabalho sobre mineralogia no Chile, passando em resenha as minas de prata e cobre”. Sobre esta visita escreve um jornalista que preferiu o anonimato: “Os povos civilizados do estrangeiro não podem, não poderão nunca imaginar os requintados tormentos que temos infligido à república do Chile na pessoa de sua brilhante oficialidade. Ainda não os levamos à fogueira, mas já os levamos ao Instituto. O Instituto, essa abominável instituição que faz o terror da literatura indígena, é uma das poucas formas de suplício que escaparam da Inquisição. A roda, o palo são gozos celestiais ao pé daquilo. Ao menos, não se escapa vivo… É uma casa aparentemente inofensiva em que cavaleiros graduados em diferentes cousas, quase todos de mais de 40 anos, se exibem como homens de letras e ciências, fazendo uns discursos pesados que nos dão uma idéia aproximada do infinito e lendo uns trabalhos que são a própria eternidade em montanhas de papel almaço. As sessões do Instituto tiram aos estranhos a quem são propinadas todo o amor da existência; invade-os uma incrível melancolia, um desgosto da vida que lhes traz fatalmente um remate da morte… Pois nós levamos os chilenos ao Instituto![…] Martirizados oficiais, eu continuo a lamentá-los do fundo d’alma! Por que os não matam logo de um só golpe?… Mas este prolongamento de tortura, esta lentidão do amplexo sufoca, estas sessões do Instituto… oh! não! la mort sans phrases!”.

No dia seguinte, a manchete de O Jockey anunciava: “Corrida em Homenagem à Nação Chilena”.


E o texto:

“Assombrosa a corrida que o Derby realizou domingo último em homenagem à nação chilena. Uma concorrência excepcional encheu as arquibancadas das mais famosas e elegantes senhoras de nossa alta sociedade. As mais finas toilettes emoldurando corpos graciosos e perfumados a heliotrópio e à malva, chapéus arabescados de rendas e fitas flamboiantes, estridentes, coroando cabeças louras de madonas místicas e aclamadas e privilegiando de graça primorosa as luzidias tranças negras, cujo perfume lembra uma floresta de sândalo incendiada, róseos bebês desempenados e garbosos rapazes, de grosso bengalão e monóculo rutilante ao olho, Mefistófeles esportivo, o Bilac, o adorável e harmonioso poeta, davam um aspecto fenomenal e deslumbrante à arquibancada. Na pelouse, fervilhavam os apostadores, suando as brancas camisas, sob um sol a 80º centígrados. Tudo se deu na melhor ordem sendo o supremo encanto da corrida o sexto páreo – Chile – Brazil – do qual foi vencedor a nervosa e incomparável égua (ilegível)”.

Em 02 de novembro de 1889, a manchete é esportiva:

“Foi uma festa brilhante a das regatas realizada ontem na enseada de Botafogo e cujos convites foram feitos pelo Sr. Ministro da marinha, Barão de Ladarío. À uma hora da tarde, partiram do cais Pharoux as duas barcas Ferry destinadas aos convidados. A família imperial foi na galeota a vapor e o ministério e o corpo diplomático numa barca”.

Depois de oito páreos disputados, […] o prêmio dado aos marinheiros que tripulavam as embarcações vencedoras foram:

Aos do Cochrane, moedas de ouro de 20$;
Aos dos outros vasos de guerra, moedas de ouro de 5$000.

Nos intervalos das regatas houve a bordo das barcas animadas danças. Foi servido um profuso lunch.

Segundo outro jornal, as barcas estavam enfeitadas de flores e arbustos, o lunch era da casa Ferreira, as medalhas foram entregues pelo imperador. “Depois das cinco horas deixaram a enseada de Botafogo as barcas e lanchas e vieram passar em continência pelo Almirante Cochrane levantando-se por esta ocasião muitos vivas e tocando a música o hino chileno”.

Por fim, membros do gabinete e oficiais chilenos jantaram no Hotel Londres.

No dia 03 de novembro de 1889, o comandante Bannen recebeu professores e alunos do Internato Pedro II. Depois, visitaram junto com seus oficiais as oficinas e o museu do Arsenal da Marinha. Dele, passam a percorrer as ilhas da baía, inclusive Paquetá, onde o comendador Hasselman ofereceu “lauto almoço” aos chilenos.

Na embarcação, “[…] cadeiras de lado a lado da proa à popa, solenemente estendidas, uma grande mesa, posta como se sabe pela casa Paschoal e muito inspecionado pelo Marcelino a julgar pela habilidade com que dirigiu sua falange de copeiros encasacados, todos muito diligentes, parecendo todos combinados no sinistro desempenho de garantir uma indigestão geral”.

“O primeiro serviço foi de café e licores logo ao embarque. Em seguida, e em viagem, sandwichs e aperitivos. Às 11,30 em frente à Paquetá e com o Orion fundeado, um almoço, um excelente e delicado almoço, saboreado ruidosamente sob o imenso pavilhão toldo à vista da formosa ilha, que mostrava a olho nu o verde claro de sua flora, as formas precisas das grandes pedras, as casinhas brancas destacando-se do matiz multicor das chácaras floridas. Hasselman foi levar o Orion a um ponto do qual se pudesse apreciar de um golpe de vista a maior extensão possível de nossa baía, que mereceu as honras de aclamação do mais sincero entusiasmo, quando patenteou-se no olhar de todos, majestosa e serena, desde a encosta do pão de Açúcar até a ponta do Arsenal […]. Os moradores da ilha fizeram festiva recepção aos nossos hóspedes que foram saudados pelo Dr. Campos da Paz.”


Seguiu-se uma visita à ilha, quando os moradores recebem os visitantes com fogos. “O Orion regressou às 5 horas da tarde. Depois de profuso lunch foi submetida a votos a proposta do comandante Bannen de que as pessoas presentes fossem ao Almirante Cochrane. Aprovada por unanimidade de votos das senhoras que tinham estado a ouvir boa música todo o dia, mas, tinham dançado pouco e lembravam-se que o tombadilho do Cochrane é maior do que o do Orion. […] e não preciso dizer mais, porque o leitor já sabe que a música de bordo foi chamada a postos, que se organizaram quadrilhas, que dançou-se muito e animadamente.” 

Convidados 

Originalmente, o baile seria em 19 de outubro, mas o rei de Portugal, D. Luiz, morreu, e seu sobrinho Pedro II mudou a data da festa.

O imperador Dom Pedro II, pela primeira e última vez na vida, decidiu convidar 2 mil pessoas para um baile – alguns registros republicanos falam em 5 mil pessoas incluindo a Família Imperial e os 300 tripulantes do cruzador chileno Almirante Cochrane, os números não são absolutos.

Emissao dos Convites

Em 04 de novembro de 1889, a distribuição dos 2 000 convites começou..

Os convites entregues ao convidados também eram luxuosos e carregavam ostentação desnecessária, mas talvez usual para a época ou para o tipo de evento a que os organizadores se propunham.

Convite para o baile, assinado pelo Visconde de Ouro Preto

A alta sociedade brasileira prestigiou maciçamente esta festa.


Na semana do baile, desabou um temporal (chuva intensa) no Rio de Janeiro.

Enquanto isto, dois mil convites eram distribuídos aos representantes das nações vizinhas, integrantes do governo e nobres da Corte.
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Bilhete de ingresso 

Em 04 de novembro de 1889, “Espetáculo de gala no Teatro S. Pedro de Alcântara é organizado pela imprensa fluminense”.

Presentes:

“Suas majestades e altezas imperiais, com o corpo diplomático, oficiais da armada nacional e do exército brasileiro e do couraçado Almirante Cochrane”.

Em 05 de novembro de 1889, as manchetes anunciavam:

“Deve realizar-se hoje o jantar oferecido por Sua Alteza o Príncipe D. Pedro a oficialidade do Almirante Cochrane”; “Chapéus altos de palha de seda do fabricante Johnson, o que há de moderno em Londres, recebeu pelo vapor Plato a chapelaria Aristocrata, na rua do Ouvidor n.149 em frente à Notre Dame de Paris e vende-os por pre- ços cômodos”;
“Esteve brilhante o espetáculo de gala realizado ontem no teatro São Pedro em homenagem aos nossos ilustres visitantes […]”.

Paranhos Pederneiras substitui Rui Barbosa, que não compareceu “por motivo de doença”, e saudou a nação chilena.

“A concorrência foi extraordinária; nem lugar para um alfinete, quer na platéia, quer nos camarotes, quer nas galerias”. “O que é verdade é que depois disto [o jornalista refere-se à festa no teatro] só terão eles o baile da ilha Fiscal, antiga dos Ratos. O termômetro festeiro está baixando muito; ontem, o da Imprensa, teve brusca de um grau vizinho a zero à sombra no teatro São Pedro”. Assina a nota o jornalista Juvenal, sem esclarecer o efeito dos apupos endereçados à Família Imperial.

“O teatro apresentava o mais belo aspecto. Nas galerias viam-se bandeiras de todas as nacionalidades, na segunda ordem sanefas verdes e amarelas e na primeira, sanefas com cores chilenas e na fronte, troféus de bandeiras diversas, escudos com dísticos alusivos ao Chile, ao comandante, à oficialidade chilena. Nas frisas, as sanefas eram brancas e encarnadas. As comissões – compostas, entre outros, por José do Patrocínio, Paranhos Pederneiras, Carlos de Laet, Coelho Neto, Paula Ney – receberam Suas Majestades, Altezas e nossos convidados. Ouviu-se o hino chileno de pé. Seguiu-se a primeira parte do concerto, depois a comédia Santo com a minha mãe, a segunda parte do concerto, representou dois atos dos Sinos de Corneville. Os camarotes estavam todos ocupados e se viam neles membros do ministério, do corpo diplomático e consular, senadores, deputados, generais e oficiais superiores da armada e exército, representantes de todas as classes sociais e avultado número de senhoras.”

Em 06 de novembro de 1889, a coluna “Foguetes” destilava ácido:

“Desventurados oficiais chilenos. Cada vez mais a sua sorte é digna de lástima. Tudo o que há de suplício lhes tem sido infligido desde o retrato zincográfico até a reportagem attachée. Não lhes faltava mais nada; deram-lhes de quebra dois espetáculos numa só noite. Eles suavam frio e suavam de cansaço e suavam de esforço para não se mostrarem fatigados. Foram agüentando e agüentando com cara alegre; mas, chegou um momento em que falou mais alta a natureza – o sono deitou-lhes seu véu transparente e quando acabou o espetáculo, os remoídos corpos dos massacrados oficiais restauraram as forças entregues às delícias dos lençóis. Ufa! Que suadouro! E chamarem aquilo de homenagem! Castigo é que foi. Uma homenagem que vai desde às 8 até 1 da madrugada é dura de roer, lá isso é mesmo. E tudo para quê? Para ouvirem a Companhia Emília Adelaide representar a moderna comédia histórica do século passado; o Vasquez cantar de tenor nos Sinos de Corneville e o Dr. Pederneiras fingindo de Rui Barbosa fazer o discurso oficial. Sombra implacável! Pavoroso espectro! No camarote de bordo, nas refeições, nos passeios, nas visitas, nas festas… por toda a parte a reportagem attachée… Ela surgelhes de um registro d’água ao voltar uma esquina […] persegue-os disfarçada de book-maker ambulante. Valha-me Deus! O que faltará para martirizar os briosos oficiais da armada chilena? […] Já suportaram uma missão do Instituto Histórico […] já suportaram um pedaço de discurso, sim, porque se o conselheiro Ruy Barbosa não estivesse doente, a saudação havia de ser outra. Para grandes festas, grandes discursos e o ilustre parlamentar não é homem de meias medidas; não podia fazer um discurso comprido, ficou em casa cuidando de restabelecer a saúde um tanto abalada pelos ataques que têm ferido o governo. Felizmente a família imperial deu o exemplo; retirou-se do seu camarote; a oficialidade fez outro tanto e o ministério e o corpo diplomático e as famílias e os respeitadores das Instituições foram saindo também, repletos, empanturrados, ameaçados de uma congestão cerebral. Só ficou o comandante do Almirante Cochrane. A platéia estava deserta, estavam desertos os camarotes… Mas, o bravo leão do mar não abandonou seu posto: sozinho afrontou os elementos até o final. Extrema coragem!”.

Em 06 de novembro de 1889, entre as provas de simpatia e distinções com que têm sido acolhidos nesta capital os dignos oficiais do encouraçado chileno Almirante Cochrane, grata e indelével lhes há de ficar na memória a suntuosa festa de ontem no Paço Leopoldina.

O elegante palácio à rua duque de Saxe abriu e iluminou seus salões, recebendo sua alteza o príncipe D. Pedro de Saxe e Bragança a oficialidade daquele navio com um suntuoso banquete que, pelo justo motivo da morte de sua majestade o rei de Portugal, havia sido adiado só podendo ser realizado ontem. Imponente e deslumbrante era o aspecto da mesa na grande sala de jantar do palácio, brilhantemente iluminado e ostentando flores em profusão. Artísticos candelabros de bronze e finíssimos cristais guarneciam os ângulos da sala, ornados de folhagens e os aparadores sobre os quais figuravam a antiga e rica baixela da família. Ao fundo, dominando a sala em elegante cavalete, viase a bela marinha do artista brasileiro Castagneto, representando o Riachuelo e o Almirante Cochrane saudando-se mutuamente e esbatendo os seus perfis na luz serena do céu.

Presentes à mesa de D. Pedro: visconde de Beaurepaire Rohan, conselheiro Duarte de Azevedo, conde de Carapebús, barão de Ivinhoim, chefe de divisão Foster Vidal, senador Dantas, marquês da Gávea, visconde da Penha, visconde de Garças, barão de Ladário, visconde de Cruzeiro, senador Taunay, barão de Santa Martha, conde da Estrela, barão de Maia Monteiro, entre outros.

No menu: hors d’oeuvres: conserves, olives, radis, thon à l’huile, beurre frais. Potages: creme de Pluver, consommé à l’impériale Releves: Poisson fin bouilli au beurre d’anchois, cotelettes de pigeons à la Pompadour, Piéces froides: galantine de Poisson á la gelée. Aspic de foie gras em Bellevue Coup du millieu: punc à la Romaine Rotis: paon trufé Entremets: choux-fleurs en beurre de noisette; pudding aux andives, gelé dánanas, parfait à la vanilla, dessert varie Vins: Madeire, Xerez, Sauterne, Rhin, Chateau Margaux, Champagne Roederer, Muscat, Tokay, Port Vieux.

Não compareceram o presidente do senado, o presidente do supremo tribunal da relação, os generais do exército e da armada e o chefe de polícia: a festa foi bastante animada […] o que causou reparo, digamos francamente, o que deu motivo a estranheza foi o fato de não se acharem presentes – os acima citados. Se o distribuidor dos convites fosse o famigerado comendador alemão Hasselman não faltaria um só guarda da Alfândega ao banquete. E por não ter sido é que a gente fica a parafusar na história. Se foi esquecimento é outro caso, mas, mesmo assim é para se estranhar que tal cousa se desse, quando se tratava de um banquete embora íntimo, cutucava a Gazeta da Tarde.

No mesmo dia do jantar, oficiais chilenos estiveram na Academia de Belas Artes onde foram recebidos por Vitor Meirelles.

Vitor Meirelles

Em 06 de novembro de 1889, foi feita visita ao Imperial Colégio Militar, um majestoso edifício construído pelo marquês do Bonfim. No antigo palacete foram os chilenos recebidos por guarda de honra sob o comando de um aluno de 12 anos, o tenente Mário Soares Pinto; lhes foi oferecido um “magnífico lunch” com muitos brindes; assistiram a uma “sessão literária” sob a presidência de Álvaro Fontenelle em que se recitaram poesias em francês.

Seguiu-se um “assalto de armas” no qual se destacaram no florete Américo Leal, Alberto Figueiredo, Diogo Hermes da Fonseca, entre outros.

Depois houve visita ao Asilo dos Meninos Desvalidos, “estabelecimento cuja boa ordem e asseio os impressionou favoravelmente”. Aí tocou a banda de alunos e os oficiais percorreram as oficinas. Bandeiras ornamentavam a estação de bonde onde desembarcaram os convidados, com bandeiras de várias nações.

Em 07 de novembro de 1889, a agenda é novamente voltada para a festa:

“Foram ontem visitar o encouraçado chileno diversas senhoras e cavalheiros. Visita ao Arsenal de Guerra com lunch e banda de música dos menores do Arsenal. Recebidos pelo conselheiro Cândido Oliveira, ministro interino da Guerra, ministro do Chile, conde da Estrela, barão Homem de Mello, diretor do Arsenal. O trapiche estava enfeitado com bandeiras, troféus e escudos etc…Lendo-se num deles ‘Viva Chile’. Flores desfolhadas foram atiradas sobre visitantes”.
Visitada a “oficina de obras brancas”.
Encontro com os torneiros. “Sobre as Machinas, um troféu com o retrato de Sua majestade o Imperador e por cima o estandarte do pessoal dos machinistas; houve troca de brindes e presentes”.


Uma barraca que servira ao imperador “na Copacabana, bem enfeitada e servida encontrava-se na entrada. Na sucessão de brindes, o coronel diretor Fausto de Souza saudou o comandante e os oficiais chilenos. Bannen retribui e brinda a prosperidade do Brazil. Sublinhe-se que tenente coronel Leite de Castro saudou o Sr. Conde d’Eu, lembrando antes os importantes serviços por ele prestados na paz e na guerra do país que adotou como pátria. Os dois últimos brindes foram do Sr. Ministro do Chile e o coronel Fausto a S.M o Imperador, o primeiro cidadão, o mais patriótico defensor deste Império, homem generosos e o monarca querido do seu povo e admirado e respeitado no estrangeiro”.

O jornalista tem destas descrições. O leitor é ávido em saber do que se passa; já não se contenta hoje com a notícia de um fato consumado, quando este fato tem antecedentes. Ele quer ser informado das minudências e dos detalhes desses antecedentes; não permite um trabalho metódico de acumulação de dados para que se lhe relate um acontecimento com prólogo, ação e epílogo, e fica na exigência de quem se habituou a esforços de reportagem.

Trajes e Roupas 

Tudo no Baile da Ilha Fiscal foi luxo e exagero.

- Mulheres cobertas de jóias, usando vestidos (de seda, renda, chamalote ou veludo) comprados nas casas mais sofisticadas da Rua do Ouvidor, no centro do Rio de Janeiro - Mme. Roche, Palais Royal, Wellimcamp.
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Rua do Ouvidor
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Rio de Janeiro 
Paris Tropical  - 1889 
- A estreita Rua do Ouvidor era o centro das compras, da moda vinda de Paris e dos encontros na capital do Império em 1889.
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Atual Rio Branco altura da Rua do Ouvidor
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Estilo Francês, segunda metade do século XIX
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Estilo Vitoriano
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Vestidos - 1890
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Os cabelos, penteados por cabeleireiros franceses da Casa A Dama Elegante, no mesmo endereço.
Senhoras plantaram-se nos salões de beleza 72 horas antes da festa para conseguir quem lhes emperequetassem.

Muitas ficaram três dias sem tomar banho e dormiram três noites sentadas para não estragar o penteado.
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- Homens  com casacas, jaquetas e uniformes de gala que abusavam das brilhantinas inglesas da Fritz Marck and Co. nos cabelos e nos bigodes.
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Apenas os homens da Corte e os militares tinham acesso aos barbeiros especializados em cortar bigodes à titlé (garoto esperto), chicard (chique), grognards (soldados da Guarda Napoleônica) e rostillon (cocheiro de carruagens de gala).

"Pelo bigode se podia conhecer a origem de um homem no Brasil Império"

Rui Barbosa descreveu a cena com sua conhecida ironia:

"Os ministros escovavam as casacas para o baile dos arrependidos e a Guarda Nacional narcisava ao espelho a bizarria marcial dos seus figurinos para a batalha das contradanças".
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Barbearia típica da época
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Toillete da Família Imperial
O traje da imperatriz Thereza Cristina não chegou a causar impressão especial – trajava um vestido de renda de chantilly preta e guarnecido de vidrilhos.


Já o traje da princesa Isabel , no entanto, causou exclamações de admiração pelo luxo e pela beleza.
Ela portava uma roupa de moiré preta listada, tendo na frente um corpete alto bordado a ouro.
Nos cabelos, carregava um diadema de brilhantes.

Princesa Isabel (referencia)

D. Pedro II trajava uniforme de almirante, cmte em chefe da Armada Imperial.


Nota:
- O colunista Desmoulins, do Correio do Povo citou o mau gosto a que se entregaram muitos dos convidados. Criticou ainda os homens que, no salão, mantinham seus chapéus ingleses do Wellicamp e do Palais Royal enfiados na cabeça.
(Estão expostas na Ilha Fiscal, réplicas dos trajes típicos utilizados naquele baile).

Dia do Baile

Em 09 de novembro de 1889, lê-se que: “corre como certo que o negócio da marinha não está liquidado, achando-se embrulhados no negócio o diretor, o lente, o ministro e o deputado intermediário […]. Que o barão de Ladarío estava de braço dado com o sr. Henrique de Carvalho, o que quer dizer que estavam se reconciliando[…] que o barão da Ventania está com vontade de adoecer, hoje, para não ir à ilha dos Ratos”.

Os jornais vespertinos, todavia, já publicavam informações sobre o “Grande Baile”:

“A ilha Fiscal foi transformada em ilha de fadas, uma verdadeira maravilha, um paraíso perdido em pleno oceano. E tudo isto devido ao bom gosto e, sobretudo grandíssima atividade do guarda-mor da Alfândega, o sr. Comandante Hasselman”.

Mais algumas horas e aqueles que nos honram com sua leitura reconhecerão que tudo aquilo do que imaginaram. Ao baile! Ao baile! É hoje a senha da cidade”.

“Dentro de poucas horas estará satisfeita a ansiedade dos que felizes puderam conseguir entrada para o baile aos oficiais chilenos no palácio da guardamoria, onde a gentileza do governo imperial e o apurado gosto artístico do sr. Comendador Adolfo Hasselman se uniram para saudar condignamente a República do Chile na briosa oficialidade do Almirante Cochrane. Muito terão de ver, de admirar e de aplaudir os que participarem da festa e nela figurarem; os que não puderam obter os cobiçados convites leiam esta pequena descrição de notícia da magnificência que se preparou e que hoje deslumbrará a todos na Ilha Fiscal. Os convidados embarcarão no cais Pharoux que estará brilhantemente iluminado e ornamentado e onde tocará a banda de música do corpo militar de polícia.”

Outra coluna exibe artigo em negrito sobre “A Festa de Hoje”:

“Chove… pingos d’água muito miúdos, como que peneirados…”

Os chilenos vão à tarde à Imprensa Nacional e ao Corpo de Bombeiros da Polícia em “bond especial que se achava na rua dos Arcos e que lhe foi oferecido pelo bacharel São Romão, ativo ajudante de tráfico da companhia de Carris Urbanos”, seguindo em direção ao Corpo de Bombeiros onde assistiram exercícios do tipo “pára-quedas, saco salva vidas, escadas de assalto, executados com grande habilidade pelos praças[…]. Com grande admiração viram ainda a um simples toque de clarim, saírem das respectivas baias, os animais para se colocarem pacificamente nos varais das bombas[…]. Às quatro horas, lunch e brindes, erguendo vivas à República do Chile, ao seu presidente e a Sua majestade o Imperador[…]”

No dia da festa, ainda houve tempo para outras atividades dos chilenos: “pela manhã, visita ao Hospital São Sebastião e Laboratório pirotécnico de Campinho. No primeiro compareceram o Imperador com suas altesas”.

“[…] se a chuva não persistir pondo uma nota fria nesta belíssima festa”.

A reunião do Conselho do Estado

Dois fatos se deram naquele dia:

“ […] antes da hora da festa o gabinete tinha assistido à sessão do conselho do estado pleno para ouvir sua opinião sobre o crédito de seis mil contos para acorrer as despesas coma seca do norte […] a essa reunião esteve presente o conselheiro Andrade Figueira que se constitui o terror dos governos dissipadores dos dinheiros públicos ( e sobre este), só vive e só tem vivido de corrupção, pela corrupção e para a corrupção […] até o senhor Mayrinck, o conselheiro, o deputado geral, o incorporador do banco Constructor, o presidente do banco Predial e de Crédito Real do Brazil fez sua entrada triunfante envergando vistoso fardão que pelo brilho parecia do generalíssimo Terra Marinque, e adornado de suas gloriosas condecorações. […] O ilustre conselheiro preferiu apresentar-se fantasiado em oficial de mentira a comparecer como representante da nação, embora também de mentira, envolvido em sua casaca, que mais assenta em um homem circunspeto que não pertence à nobre classe militar. Engana-se quem acredita que pelo nome e prestígio tem o poder de reabilitar uma instituição que caiu fatalmente pelo ridículo. [Sobre o comendador Malvino Reis disse o conde Motta Maia] ‘é um militar de bobagem que só tem pelejado em campos de salmoura, trazendo ao peito penduradas amostras de lata de goiabada; é com esta gente piramidalmente ridícula e colossalmente desfrutável que pretende o governo organizar a milícia que defenderá as instituições monárquicas intimidando o exército que procura enfraquecer, disseminando por todo o Império, para com mais segurança e mais comodamente decretar sua dissolução. Quando chegar o momento da ação, travando-se a luta, a debandada não será deste mundo’”.

Segundo o historiador Milton Teixeira: o dinheiro gasto no baile, 100 contos de réis, foi retirado pelo visconde de Ouro Preto, presidente do Conselho de Ministros, do ministério da Viação e Obras Públicas – ele estaria originalmente destinado a socorrer os flagelados da seca no Ceará.

A Reunião Republicana

No mesmo dia, ao entardecer, enquanto os convidados elegantemente trajados chegavam para o baile, no Clube Militar, o professor de matemática, tenente-coronel Benjamin Constant, encabeçava uma reunião conspiratória  com os republicanos para articular o fim e queda da monarquia.
Militares armam golpe com apoio dos barões do café.
Ele era o líder da ala intelectualizada do Exército, os “científicos”, grupo que contrastava com o dos militares de carreira mais velhos, os “tarimbeiros”, ao qual pertencia o marechal Deodoro da Fonseca.

Ambos estavam unidos num ressentimento contra o poder público, que deixara o Exército numa situação de penúria. Na reunião, decidiu-se pelo golpe militar, que veio em 15 de novembro de 1889. Entre os fatores importantes para seu sucesso estava o apoio da oligarquia cafeeira paulista.

A Igreja Católica, descontente com a influência da maçonaria, ajudou a enfraquecer a imagem do imperador. O golpe ainda solucionou um debate antigo, que voltou à tona após um atentado a tiros sofrido pelo imperador em 16 de julho de 1889: se Pedro II morresse, o trono ficaria à deriva – a princesa Isabel era impopular entre a elite e o conde D`Eu, estrangeiro.

O Patrono da República, depois de conspirar também queria ir ao Baile

Benjamin Constant 

Nota:
- De acordo com Renato Lemos, professor de História na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ainda na noite do dia 9, após a reunião conspiratória, Benjamin Constant chegou a tomar um barco para a Ilha Fiscal com a família, que queria ver o baile.
Mas eles não desembarcaram porque estavam sem convites.

Iluminação

Todo o serviço de iluminação “a giorno” e elétrica foi muito bem feito pela Casa Leon Rodde. Era superior a 10.000 o número de lampiões venezianos e copos de cores.

O Palácio da Ilha Fiscal projetava-se em meio a uma iluminação feérica feita com 700 lâmpadas elétricas.

No alto da torre, um holofote produzia um foco de 60 000 velas, mais da metade da força projetada pela iluminação da Torre Eiffel.

Milhares de velas, 10.000 lanternas venezianas utilizadas na decoração e holofotes do couraçado Almirante Cochrane e outros navios da marinha ancorados por ali complementavam a iluminação.

O edifício ornamentado externamente com lanternas venezianas atraiu dezenas de embarcações para as proximidades.
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***

Nota:
Em 2006, a Marinha organizou um projeto com o propósito de montar uma iluminação de verão para a Ilha Fiscal, e graças à parceria com a BR Distribuidora, a Marinha presenteou a Cidade do Rio de Janeiro com a beleza da construção do engenheiro Del Vecchio em sofisticada iluminação como no dia do grande Baile.

O Lugar “mais iluminado do mundo”

A Ilha Fiscal contava com um gerador de energia, instalado num barracão ao lado do palacete, que forneceu eletricidade para milhares de lâmpadas dentro e fora do edifício.

Além das milhares de velas, balões e lanternas venezianas, os holofotes do couraçado chileno Almirante Cochrane e de outros navios da Marinha ancorados ali perto faziam com que a ilha fosse o lugar “mais iluminado do mundo”, como escreveram os jornais da época.

A luz elétrica era uma quase novidade e, por isso, o império iluminou o quanto pode a ilha, prédios, a água, adivinhando o efeito mágico que seria ver a luz esparramada em negras águas.

Os navios de guerra brasileiros, saídos do porto, vão lhe fazer guarda de honra. Funcionando em todos eles poderosos projetores de luz elétrica que hão de fazer aquele lado da baía um verdadeiro lago de prata majestoso e fantástico.

Decoração do Palácio Mourisco

Ao chegar à Ilha Fiscal, os convidados desembarcavam em meio a um bosque.

Nas paredes do torreão, um quadro simbolizando a recepção ao navio Almirante Cochrane mostrava ninfas e golfinhos saindo da baía para oferecer ramos de flores aos marinheiros chilenos.

O prédio, em estilo mourisco, teve seus salões decorados com palmeiras, vasos franceses, flores da terra, balões venezianos, lanternas chinesas, milhares de velas, bandeiras brasileiras e chilenas.

Dos seis salões, dois decorados com motivos florais as paredes se escondiam sob cachos de flores naturais e palmas, dois maiores decorados com motivos navais entre tapetes vermelhos, âncoras douradas e prateadas, foram colocados retratos recém-pintados do almirante Cochrane e do almirante Greenfell e os outros dois com espelhos.

Existiam mais duas salas.
Um salão de jogos e um salão toucador para as senhoras.

Foram armadas duas mesas em forma de ferradura, para 250 talheres cada uma.
Nas cabeceiras das mesas, dois enormes pavões empalhados estendiam as caudas multicoloridas, seguiam-se pratos de peixe e de caça colocados alternadamente com  enormes castelos de açúcar, em cujos torreões foram colocados bombons.
Sobre elas toalhas de linho branco, talheres de prata, louças importadas e copos de cristal.

À frente de cada prato havia nove copos de formatos diferentes, três brancos e seis coloridos.
Tudo servido por um batalhão de garçons devidamente paramentados.

O Cenário

A Ilha foi especialmente decorada e iluminada,

Desde o cais até a ilha estender-se-á uma linha de batelões.

Em frente ao ponto de desembarque fundeará o Orion, cruzador da alfândega.

Seguem-se outros quatro focos iguais no saguão onde vão ser armados dois quadros transparentes, um dos quais a alegoria – O Brazil recebendo o Chile.

A linha de frente é ocupada por um enorme pavilhão onde está armada a grande lunette. Este pavilhão assenta em 24 colunas laterais e é iluminado por 96 lâmpadas com a força iluminativa de 1920 velas.

À esquerda, levanta-se outro pavilhão, onde está o buffet e que tem duas salas. Na primeira, e em todo o comprimento, estendem-se duas mesas em forma de ferradura, de tapetes verdes e tem espaçosas janelas, cujos intervalos são preenchidos por panos das cores chilena e nacional.

Na parte de trás da ilha, foram montadas duas mesas, em formato de ferradura, onde foi servido um jantar para 500 convidados, sendo 250 em cada mesa.

Em cada uma das colunas sobre que assenta este pavilhão, há um escudo, um brasileiro e outro chileno, com nome do Presidente da República, das províncias e dos mais ilustres nomes da marinha.

A sala destinada á Família Imperial pode ser vedada por amplas cortinas que a separam inteiramente da outra sala; nesta, há 50 lâmpadas com força iluminativa de 1344 velas, além de 40 candelabros e 14 lâmpadas. A mesa desta sala foi posta para servir com cadeiras; toda a mobília é de apurado gosto.

À direita e à esquerda são os salões de danças, três de cada lado e o de toilette das damas à esquerda e da Família Imperial, à direita.

Duas orquestras tocarão nos terraços laterais; uma na sala do bufett, uma banda de música na torre a do Arsenal de guerra.

A decoração das salas é inteiramente igual […] festões de flores ocultam lâmpadas; o espaço entre as janelas, preenchido por espelho em fundo veludo grená; o tapete é de um vermelho rubro artisticamente posto para quebrar o efeito de palidez da luz elétrica sobre as toilettes.

Sobre os espelhos… coroas de flores, guardando âncoras de ouro e prata […] todas as dependências são iluminadas por luz elétrica.

Há folhagens em todas as dependências.

Vários e inúmeros móveis foram especialmente trazidos para festa, principalmente para decorar e ambientar os salões mais reservados ao Imperador e Princesa Isabel, mas o conforto foi proporcionado por toda a Ilha.

O salão acima é apenas um dos seis do Palácio da Ilha Fiscal.

A foto é a única que se conhece, tirada por Marc Ferrez quando tudo já estava pronto, e só recentemente foi encontrada por técnicos da Biblioteca Nacional no acervo da editora José Olympio doado à instituição.

Por razões desconhecidas, ela não foi incluída nos 10 volumes que constituem a coleção História dos fundadores do Império do Brasil, de Octávio Tarquínio de Sousa, lançada nos anos 1950.
“Festa única em seu gênero nos anais da sociedade brasileira dificilmente ela será igualada”

O Povo prestigia e acompanha o Evento 

Desde as 6 horas da tarde, a população da Corte, em revoadas alegres e sedentas do feérico espetáculo, encaminhasse para o cais Pharoux, cais dos Mineiros, praia de D. Manuel e toda a extensão do cais de onde se pode avistar no salso elemento bem de perto, ao espetáculo […] as barcas ferry estavam apinhadas de passageiros que pagavam contínuas passagens para assistir ao esplendor da iluminação de cores variegadas.

As eminências que estão mais próximas, achavam-se literalmente cobertas de povo e muitas famílias levaram grande parte da noite a observar os efeitos de iluminação, os acordes das bandas marciais e o movimento do povo.

Não havia uma casa perto do local do baile que estivesse desocupada; tinham sido invadidas por famílias; os hotéis, casas de saúde, árvores do paço, chafariz, escadas que dão para o mar, tudo estava repleto […] os nossos encouraçados encandeavam o público com a projeção da luz dos seus holofotes movediços que relampejavam como um chicote luminoso todo o vasto horizonte da nossa cidade.

No livro Esaú e Jacó, Machado de Assis recorda que ao anoitecer os cariocas se dirigiram ao Cais Pharoux, atual Praça XV, para ver “as cesta de lustres no meio da escuridão tranqüila do mar”.

Na baía vogavam lanchas a vapor e embarcações de todo o gênero garridamente empavesadas e iluminadas a giorno, algumas delas tendo à bordo excelentes bandas que executavam tépidas barcarolas e lânguidas habaneras […]

Uma banda da polícia animava a noite do povo, que não pôde participar da festa. Lá tocavam fandangos e lundus, danças populares bem diferentes das valsas que animavam o castelo.

O povo que prestigiava o evento vaiando ou aplaudindo os convidados.
A impressão que se tinha era que boa parte dos 500 000 habitantes que contava o Rio de Janeiro naquela época estava lá.


Deslocamento e Cortejo
A Família Imperial veio de São Cristóvão. 
Quando a carruagem atingiu o Campo de Santana, um imprevisto. Havia um grande engarrafamento.

A Família Imperial chegou ao cais pouco antes das 22H00.


D. Pedro II, a imperatriz Theresa Cristina e o príncipe D. Pedro Augusto embarcaram primeiro.

Cais Pharoux 
Cais Pharoux, que dá acesso à ilha, e nas ruas próximas para ver chegarem os convidados.

Nota:
- Em 1816, surgia seu hotel, (Hotel Pharoux) que se tornaria uma das mais conhecidas instituições do século XIX carioca. Localizava-se na rua Fresca (depois rua Clapp), esquina do Largo do Paço (Praça XV), com os fundos dando diretamente para o mar, onde havia um cais de desembarque, que acabou sendo obviamente consagrado como Cais Pharoux.
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Cais Pharoux
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Nota:
- Em meados dos anos 1810, desembarcava no Rio de Janeiro aquele que se tornaria um dos personagens mais conhecidos do século XIX, e uma das forças originais na transformação dos costumes locais pela introdução de uma cultura mais metropolitana, Louis Pharoux.
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Caís Pharoux
Início século XIX
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Caís Pharoux
Início século XX

Nota:
- A república foi proclamada seis dias depois do baile, e o imperador embarcou no mesmo Cais Pharoux de onde partiam os ferry-boats para levar os convidados para o baile, hoje conhecido como Praça XV, onde recentemente recuperaram-se as escadarias utilizadas para o embarque para a Ilha.

Suas Majestades no Cais Pharoux 

Na chegada de Suas majestades e Altezas Imperiais ao cais Pharoux foram recebidos pelo sr. Presidente do Conselho, barão de Sampaio Viana e comissão nomeada.

Nessa ocasião, saudaram as fortalezas e como fora convencionado, subiu aos ares uma enorme girândola e no cais e na ilha queimaram-se fogos cambiantes de muitas cores.

SS. MM. Imperiais dirigiram-se para a ilha na barca que partiu às 9 1/2, e SS. AA. a Sra. Condessa e o Sr. Conde d’Eu na seguinte, que deixou o cais pouco depois das 10 horas.

Família Imperial
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Dom Pedro II em traje de Almirante
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Imperatriz D. Theresa Cristina
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Dom Pedro Augusto
Príncipe Imperial
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Quinze minutos depois foi a vez da princesa Isabel e do conde D’Eu.
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Princesa Imperial Isabel e Conde D'Eu
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- Ao contrário do que se poderia imaginar a "galeota", que sempre foi utilizada pela Família Imperial nos seus passeios pela baía da Guanabara, não foi utilizada aquela noite.

Nota:
- A galeota, com 24 metros de comprimento para 11 remadores em cada bordo, levando na popa uma cabine forrada de veludo para a família Imperial, totalmente reformada, foi construída em Salvador, em 1808, por ocasião da vinda da Família Real portuguesa para o Brasil e trazida para o Rio de Janeiro em 1809, tendo sido usada até os primeiros governos republicanos para deslocamentos pela baía de Guanabara. Esse modelo não tem similares em toda a América.



Embarque e Transporte dos Convidados

A suntuosidade da festa começava ainda na ponte flutuante montada junto ao cais para o embarque, ornamentada com seis grandes arcos e dois candelabros de gás.

Realizar-se-á hoje o Baile da Ilha Fiscal oferecido aos oficiais chilenos, havendo das sete horas da noite em diante, barcas para conduzir os convidados.

Às 8 horas da noite, largará do cais Pharoux, em primeira viagem, uma barca que fará viagens sucessivas enquanto houver convidados a transportar.

De meia noite em diante a barca começará a viagem de regresso, de meia em meia hora. O encouraçado chileno ficou em frente à ilha, mais ou menos no lugar em que está ancorado.

O transporte dos convidados só começaria às 20H00.

Às 8 1/2 partia a “Primeira”, fazendo depois cinco viagens, e chegando à ilha Fiscal, na última, às 11 1/2. Havia conduzido cerca de quatro mil pessoas, número aumentado pelas que tinham ido em outras embarcações.

A barca “Ferry”, que conduzia os convidados, estava garbosamente enfeitada e iluminada “a giorno”.

Houve corre-corre, empurra-empurra.
Madames perderam a compostura e outras pagaram mico, caindo na água do cais.

Foi um prato para o público e os jornais. 

Os convidados embarcavam em 03 barcaças a vapor que saíam do cais Pharoux,(atual praça XV de Novembro), centro do Rio de Janeiro (No século XX, como resultado de escavações realizadas, foram localizadas as escadarias utilizadas pela Corte para chegar aos ferry-boats.

Da ponte, os convivas eram levados até a ilha pela barca Primeira, coberta de tapetes luxuosos e ornamentada com as bandeiras brasileira e chilena.

Segundo o Jornal do Commercio do Rio (11 de novembro 1889), a ilha foi:

"Transformada num cenário encantado, onde demoiselles vestidas de fadas e sereias recepcionavam os convivas".
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O Desembarque e Recepção

O desembarque é feito numa ponte movediça que atravessará da ilha à barca, guardada por 12 marinheiros armados; na entrada, sobre dois postes, há quatro lâmpadas de força iluminativa de 800 velas.

Ao desembarcar os convidados eram recepcionados por moças vestidas de fadas.

Suas Majestades Chegam a Ilha

Recebidos na ilha por uma multidão enorme de convidados, Suas Majestades e Altezas foram saudadas calorosamente. Uma verdadeira ovação.

Na Ilha quando era inaugurada a iluminação elétrica do castelo e a banda executava o Hino Nacional, o Imperador tropeçou numa presilha do tapete e só não levou um tombo porque foi amparado por dois jornalistas

Espirituoso, Reagiu com bom-humor::

“A monarquia tropeçou, mas não caiu”.

Bandeira do Império do Brazil

Pouco depois começou o  Baile
O que ele foi; difícil de dizer.

Naquele novembro de 1889, enquanto as senhoras se preparavam para o rega-bofe, homens conspiravam em confeitarias.

Durante o Baile, o clima de rivalidade entre monarquistas e republicanos não se manifestou.

Recepção e Cerimonial  na Ilha
Uma vez no palácio, os membros da Família Imperial foram conduzidos a um salão em separado, onde já se achavam reunidos membros do corpo diplomático estrangeiro, oficiais e alguns eleitos da sociedade carioca.

A festa e a diabetes deixou de D. Pedro II abatido, e ficou a mercê, a recepção aos convidados não foi realizada pela Família Imperial que chegou ao local em torno das 22H00.

O Quadro

Autores comentam que neste quadro existem mensagens subliminares, sendo as principais a coroação que não ocorreu da princesa Isabel e a movimentação do grupo republicano para tomar o poder.
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Último Baile
Óleo sobre tela de Francisco Aureliano de Figueiredo e Melo (1856-1916), 1905, 
3.035 x 7.080

- O quadro registra o último baile realizado pelo Império brasileiro.
Nessa monumental tela, o artista registra duas alegorias, uma das quais faz alusão à República, que é proclamada poucos dias após a realização do baile em 15 de novembro de 1889 e a outra à Coroação da Princesa Isabel, que nunca chegaria a ocorrer.

Dom Pedro II e a Família Real aparecem à direita, em torno do qual as pessoas se aglutinam, porém deixando um espaço vazio diante dele, e tendo perto, imediatamente ao lado os oficiais do Encouraçado Almirante Cochrane. D.Pedro é o homem de barbas longas, cuja face aparece bem iluminada.

Este quadro também tem particularidades interessantes. Salvo engano começou a ser pintado antes da proclamação da república, e o que talvez devesse ser apenas uma representação do baile, acabou incorporando alegorias que aparecem na parte superior do quadro, talvez feita ao final do trabalho.

Amplie a imagem para ver o quadro em sua totalidade, e poderá ser observado que, entre as nuvens uma mulher caminha com a bandeira do Brasil à frente do que seriam os republicanos representando a chegada da república.

Do outro lado a representação do Regime Monárquico Parlamentar.

A mulher que segura a bandeira, seria uma alusão à Marianne, uma figura alegórica que representa a República Francesa, que apareceu em um famoso quadro de Delacroix chamado "A Liberdade guiando o povo".

Esta figura, de forma alegórica, passou a representar a república de um modo geral, existindo inclusive estátuas representando "Marianne" em um salão do Palácio Tiradentes, erguido no início do Século 20 no Rio de Janeiro, antiga sede da Câmara dos Deputados e onde os Presidentes da República tomavam posse.

Acrescentando esta alegoria, talvez o pintor tenha se livrado de parecer partidário do Império ou de fazer apologia da Monarquia, e assim teve seu quadro aceito sem o risco de tê-lo retalhado aos pedaços.

Nota:
- O quadro “O último baile da Ilha Fiscal” de Francisco Aurélio de Figueiredo retrata esta recepção. Uma cópia do quadro, feita por Robson G. e está exposta na Ilha Fiscal, já o original se encontra no Museu Histórico Nacional – MHN.

As Toilettes

A riqueza oriental das toilettes, o brilho e o ruge das sedas que mal cobriam as espáduas marmóreas das senhoras, o veludo, a pelúcia de seda que guardavam como as portas de um sacrário os colos alvos e palpitantes; os diademas rutilantes nos penteados artísticos das moças; o burburinho argentino do contentamento aflorando de lábios coralinos das avezinhas implumes que contam apenas 15 ou 18 primaveras,

A galanteria fidalga dos cavalheiros, uns trazendo suas vistosas grã-cruzes, outros ostentando na lapela os miosótis, as violetas, as raríssimas camélias; o dourado sedutor das fardas, cobrindo peitos patrióticos.

O Luxo dos Convidados

Era avultadíssimo o número de senhoras, ostentando riquíssimas e luxuosas toiletes das brasileiras, salpicados de brilhantes, de safiras, de esmeraldas.

Música
Seis bandas foram contratadas para o baile, uma foi colocada no convés do cruzador Cochrane que estava ancorado na ilha.

Duas bandas militares tocaram quadrilhas, valsas, polcas e marzurcas para os convidados, que dançaram em seis salões do palácio.

Na época, a execução das canções ficava por conta das bandas imperiais, em sua maioria militares.

As partituras eram editadas com requinte pela Casa Buschman e Guimarães, responsável pela publicação do Hino Chile-Brasil, composto por Francisco Braga, para saudar a tripulação do navio Almirante Cochrane.

O som de fundo era feito com trechos de óperas de Verdi, Boccherini, Waldteufel, Metra e Auber.

O som das orquestras, preenchiam todos os ambientes, inclusive ao ar livre, provavelmente e certamente o local onde a maioria dos convidados circulavam e dançavam.

Danças

Quando a princesa Isabel e o conde D'Eu chegaram, às 23H00, começaram as danças (dizem que a Princesa era um pé-de-valsa, e muito se divertiram), que foram interrompidas à meia noite para a ceia, a qual foi farta.

O Imperador só se levantou para dançar uma única vez, com a filha do Barão Sampaio Vianna, que completava 15 anos. 

Depois da 01H00 da manhã recomeçaram as danças, sendo que a Família Imperial logo se retirou, prosseguindo a festa até às 06H00 de domingo.

A valsa e a polca foram as músicas predominantes no Baile da Ilha Fiscal, segundo o pesquisador Carlos Sandroni.

Os cartões de dança das mulheres, que foram encontrados na Ilha Fiscal após o baile, junto com ligas e espartilhos, revelam que a "piéce de resistance" foi uma seqüência alternante em três tempos:
- Fantasia, valsa, minuano, valsa, fantasia, valsa.
(Os cartões são uma das curiosidades guardadas no Arquivo Nacional. Neles, as damas anotavam os nomes dos cavalheiros com quem haviam se comprometido a dançar).

Dançavam-se em seis salões.
A maior parte das danças ocorreu fora do palácio, pois não cabiam nele mais do que setenta casais dançando.

As danças estiveram sempre animadíssimas e é impossível nomear os convidados que nelas tomaram parte, pois que no baile concorreram os mais elevados representantes de todas as classes sociais e as mais distintas senhoras da Corte no Rio de Janeiro […] as danças continuaram depois da ceia, prolongando-se até o amanhecer.

A Princesa Isabel e o conde d'Eu que eram dois verdadeiros pés-de-valsa divertiram-se muito.

O imperador D.Pedro II dançou uma única vez, ficou praticamente a noite toda sentado e ainda saiu cedo.

O comportamento da Guarda Nacional não escapava aos jornalistas mais identificados com as idéias republicanas:

“Quando cheguei e alonguei os olhos na ponte de embarque das barcas Ferry, cegou-me um deslumbramento: era por toda a parte uma fulguração de penachos ondulantes, branco e rubro, desafiando o vento do mar. Parecia que um bando de aves fantásticas pousara na ponte para dar às plumas um banho apoteótico de luz elétrica. E os oficiais não se continham. Rodopiavam, giravam, acotovelando a multidão, amarrotando com as espadas os vestidos das senhoras, arranhando as casacas dos senhores com as dragonas. Disse eu, de mim para mim – temos batalha naval! A dançar, santo Deus, a dançar! Não há como oficiais da guarda-ouro-pretoriana para ter uma noção exata do que são as regras da grande tênue de baile. Dançar de capacete e espada – é um cúmulo […] [na volta para terra firme] um moço achou que a guarda era engraçada e riu. Riu.[…] Todos da Guarda caíram sobre ele de espada desembainhada, rasgaram-lhe a casaca, ensangüentaram-no, deixaram-no quase morto […] Bravo! Não pode haver maior heroísmo. Todos contra um […] com as proezas da Guarda consentidas e patrocinadas pelo governo, coincide a dispersão do exército. Destacam-se os regimentos, retalham-se os batalhões”.

O Baile
O Imperador e a Imperatriz chegaram ao salão principal, perto das 22H00.

Abatido, o Imperador permaneceu afastado, quase anônimo, enquanto o presidente do Conselho de Ministros, Affonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, fazia as honras.



Ouro Preto



Sobre o visconde de Ouro Preto (presidente do Conselho de Ministros), no Baile:

“Viu-se que não houve pena, nem escrúpulo de gastar dinheiro do estado contanto que a obra saísse limpa, asseada e perfeita, na grandiosa proporção dessa maravilhosa chuva de ouro que inunda e fertiliza todo o país […] se a festa esteve suntuosa e esplêndida pelo conjunto de sua decoração, sob outros pontos de vista esteve abaixo de toda crítica. […] (presença de muito ‘bicho careta’) […] o mau exemplo partiu do próprio presidente do conselho que, em nome do governo, oferecia aquele baile […] sua exma. como que atordoado com aquele estranho movimento não conservou a compostura correta de um homem de estado […] percorria os salões com passo apressado e desmedido como quem andasse corrido da justiça. Com a cabeça calculadamente levantada, visivelmente fora de alinhamento, como para mostrar que vive de fronte erguida, envolvia-se no meio de compacta multidão, movendo-se descompassadamente, com gestos desordenados e petulantes, com ar afetado de suficiência, impondo-se com estudada arrogância, inculcando-se o único homem deste país, depois do conde de Motta Maia que é o primeiro estadista da América do Sul como está escrito em sua biografia prestes a chegar da Europa. Era tal a sua agitação que se o viu, no salão do buffet, arrastando violentamente pela mão, o barão de Drummond como que o conduzindo para ver algum animal raro no Jardim Zoológico. Aquele estado de perturbação, antes parecia filho da inquietação do que resultado de deslumbramento”.

O Brinde

Ao servir-se o champagne, o visconde de Ouro Preto, presidente do Conselho, recordou os serviços prestados ao Brazil pelo almirante Cockrane, dirigindo-se depois “em termos os mais afetuosos” ao ministro e oficiais da nação amiga, “levantando um viva à República do Chile”.

O comandante Bannem respondeu à saudação, “mostrando-se grato e reconhecido pelas gentilezas dispensadas”.

Depois, o jantar foi servido.

O Banquete

O bufê ficou a cargo da Confeitaria Paschoal, que era a preferida de Dom Pedro II - não era a Colombo. Cerca de 90 cozinheiros e ajudantes se empenharam no preparo em quantidades assustadoras: 12 mil porções de sorvetes para 3 mil convidados.

A inclinação natural do cardápio foi francesa, a comida brasileira não possuía envergadura para tamanho glamour.

O cardápio incluía peças inteiras de caça e pesca, além de uma infinidade de aves exóticas, inhambus, faisões e macucos.

Cinco mesas em forma de ferradura foram colocadas no pátio atrás do palácio para servir o jantar.

Entre os pratos, badejo e bijupirá com purê, perdiz com licor e língua de boi. Jacutingas (ave da Mata Atlântica muito usada na culinária da época), pombo selvagem e peru recheado com castanhas e presunto também foram oferecidos.

À Mesa: 
- 1.300 frangos,
- 500 perus,
- 300 pernis de presunto,
- 64 faisões,
- 18 pavões,
- 800 kg de camarão,
- 800 latas de trufas,
- 1.200 latas de aspargos,
- 20.000 sanduíches, tudo decorado com legumes, flores e frutas.

O cardápio servido nessa única noite, destacando a exuberância dos pratos, ornados com flores e frutas exótica, que em tudo combinavam com o estilo mourisco da Ilha Fiscal.

Por essas mesas, passou um desfile monumental de iguarias que daria para alimentar um exército.
- Republicano, naturalmente.

À meia-noite, os arautos soaram as trombetas anunciando que a mesa estava posta.

- Foi a correria. Comilança desenfreada.

O comportamento dos convidados deixava a desejar.

A Família Imperial viu-se obrigada a deixar a Ilha pouco depois da sobremesa.
 ***
Capa do Mênu

Cartas de Vinhos e Bebidas
Foram cometidos alguns excessos nas bebidas.
As notícias dizem que foram consumidas milhares de garrafas de vinhos de diversas procedências, prevalecendo os do Porto e Algarve (Portugal).
Isso significa de duas a três garrafas para cada convidado, fora o champagne.

- 300 caixas de champanhe francesa.

As Bebidas oferecidas: 
- 258 caixas de vinho (Château d'Yquem, Château Lafitte, Château Duplessis, Chablis, Liebfraumilch, Madère Rouge, Marsala, Lacrima Christi),

- 300 de champanhe (Veuve Clicquot, Luis Röederer),

- 10.000 litros de cerveja e licores a fartar.

Foram consumidos:
188 caixas de vinho,
80 caixas de champanhe e
10 mil litros de cerveja, além de licores e destilados.
 ***
Carta de Vinhos

Sobremesa

Os doces do banquete também foram feitos para agradar ao monarca.
Eram europeus com toques brasileiros.
Foram servidas frutas e castanhas açucaradas, bombons, manjares, creme de chocolate e frutas cobertas com fondant.

O ponto alto da ceia foram os doces – entre eles "Gelato de Frutas", ou sorvete, assim chamado, uma novidade para a época, o sabor preferido do imperador era "Pitanga"

14.000 sorvetes,
2.900 pratos de doces,
18 mil frutas

O Serviço

No serviço, 150 copeiros trabalhavam sem parar.
Quarenta e oito cozinheiros se dedicaram durante três dias inteiros para alimentar os convivas.

A Rainha do Baile

Na coluna “Corte e Praça” da Revista Semanal, se registrava:

“Segundo rezam os melhores apreciadores, a “rainha do baile” foi S.A a Princesa Imperial, Isabel. Aquela seda preta de reflexos cambiantes do vestuário, opulentada pelas formas régias da ilustre princesa, coroava-se artisticamente com um magnífico cabelo engastado de brilhantes fascinadores” .

O Generalíssimo

"Para fazer honras ao comandante Bannen, capitão de fragata, todos os nossos almirantes e generais estiveram no baile, a principiar por sua Majestade D. Pedro que é generalíssimo e pelo conde d’Eu que é vicegeneralíssimo”.

O ministro chileno, Manoel Villamil Blanco e o comandante Banem, do navio Almirante Cochrane, levantaram vivas e moções de solidariedade ao governo brasileiro e ao imperador.

O imperador D. Pedro — não o relata o jornal, mas convidados do festim — passeou durante muito tempo no salão, de um lado para outro, apresentando-lhe nessa ocasião o visconde de Ouro Preto os novos deputados, recentemente reconhecidos.

A maioria dos convidados, preferiu ficar do lado de fora, já que o palácio era pequeno para tanta gente.

Pelos salões desfilou a fina flor da aristocracia, da oficialidade e da sociedade cariocas.
 ***

Banheiros

Como o projeto do palacete da Ilha Fiscal era de inspiração francesa, o local não contava com banheiros. Os convidados tinham apenas poucos baldes de prata com areia dentro para seu uso.

Quando a cerveja começou a fazer efeito, os homens não se apertaram e correram para a beira do mar mesmo.

Já as mulheres, tiveram de se ajeitar nos cantos dos salões com baldes extras trazidos às pressas do continente.

Suas Alteras se retiram

Suas Majestades e Altezas retiraram-se pouco depois de meia-noite, “tendo penhorado os nossos hóspedes pela afabilidade e delicadeza com que os trataram”.

O Príncipe Fica

S. A. o príncipe D. Pedro, que tinha ido com Suas Majestades — jovem e belo, como o mostravam as fotografias — demorou-se ainda algum tempo.


O cardápio era variadíssimo (o decano já não usava a palavra “menu”, preferindo o neologismo de Castro Lopes) e havia em profusão as mais delicadas iguarias.

A Festa

Eis a descrição da ilha Fiscal naquela noite festiva.

Era de êxtase a impressão que produzia a vista daquele grande foco de luz. Destacava-se na baía a ilha fantástica, iluminada por milhares de luzes e fogos cambiantes, refletindo em vidros de variadíssimas cores, batida constantemente pelos jatos da luz elétrica projetada dos encouraçados “Cockrane”, “Riachuelo” e “Aquidaban”.

Da torre do edifício fiscal um poderoso holofote projetava sobre o mar e em terra uma luz da intensidade de 60.000 velas.

“Impossível descrever o mágico encanto que ofereciam a ilha, os encouraçados, as lanchas e botes sem conta com fachos iluminativos que coalhavam o mar e cruzavam em todas as direções”.

A ilha estava deslumbrante.

Em volta, número avultado de bandeiras chilenas e brasileiras em mastros e hastes, e nas janelas, portas do edifício, terraços, pátio, e dependência, número extraordinário de lanternas venezianas de variadíssimas cores e feitios.

Em frente ao cais de desembarque destacava-se um lindo bosque.

Nunca se havia visto festa igual!


Dançava-se em seis salas.

As duas maiores eram forradas de tapetes encarnados, e estavam ornadas com bandeiras chilenas e brasileiras. As quatro menores estavam mais simplesmente ornadas, mas também com muito gosto. “Nelas havia festões, coroas, âncoras de flores e ornatos”.

Todas as portas e janelas tinham preciosíssimas cortinas.

A sala reservada à Família Imperial, “e em cujas portas havia amplas cortinas, estava ricamente mobiliada, luxuosamente ornada e profusamente iluminada”.

O vaivém dos convidados era constante. Eles desciam das barcas a vapor e eram recepcionados por moças fantasiadas de fadas e sereias.

O tilintar das taças de bebida se misturava aos risos e à música.
Nunca se havia visto no Brasil tanto luxo. Tudo havia sido planejado para tornar inesquecível.

Dizem que a festa transcorreu muito bem comportada enquanto a majestade se fazia presente.

Na madrugada já avançada, o que se viu foi bem menos elegante.

Em torno de 3 a 5 mil pessoas participaram do baile, que foi até o amanhecer. A ilha estava cheia demais, que não era possível que todos os convidados entrassem no palacete ao mesmo tempo.
Muitos ficaram apenas de fora a circular pela Ilha.

Mas, comida e bebida era farta, requintada, e foi servida à todos.

O Fim do Baile 

Em 10 de novembro de 1889, domingo, no amanhecer,os convidados deixam a Ilha Fiscal, terminado o último Baile do Império.

Eram 6 horas da manhã quando se retiraram os últimos convidados da memorável festa, “impossível de descrever com minúcias pela sua invejável grandiosidade”.

Após a saída dos convidados, os trabalhos de limpeza revelaram alguns artigos inusitados espalhados pelo chão: além de copos quebrados e garrafas espalhadas, foram recolhidas condecorações perdidas e até peças de roupas íntimas femininas, raminhos de corpete (usados para esconder o decote das mulheres), coletes de senhora e uma grande quantidade de ligas.
O fato pode, entretanto, ser fictício, uma vez que foi relatado na coluna humorística Foguetes, do periódico carioca ¨O Paiz¨, no dia 12 de novembro.

Apesar do sucesso do baile, o imperador pouco se divertiu. Ficou sentado o tempo todo e foi embora à 1h da manhã, sem jantar.

O único negro convidado, o engenheiro André Rebouças, sintetizou em seu diário:

"Foi uma bacanal!"


André Rebouças

A Conta

O imperador D. Pedro II não gostou do que viu e ouviu. 
Menos ainda quando teve que pagar a conta de $ 250 contos de réis - equivalente a 10% do orçamento anual do Rio de Janeiro.

Recursos Financeiros
A festa custou em torno de $ 250 contos de réis, quase 10% do orçamento previsto para a província do Rio de Janeiro naquele ano.

Dizem as “más línguas” que este dinheiro estava destinado ao auxílio de vítimas da seca no Ceará.
"Cem contos de réis estavam guardados nos cofres do Ministério da Viação e Obras Públicas jamais chegariam ao Ceará. Os flagelados da seca que assolava o sertão tiveram que esperar".

E quanto valeria esta quantia nos dias de hoje?
Adotando duas metodologias diferentes obtivemos um valor estimado entre 650 mil e 1,2 milhões de Reais.

- Método 1 : Projeções da inflação entre 1902 e 2008.

- Método 2: Conversão da moeda vigente para ouro.

É bem verdade que, na corrida aos cofres públicos para organizar festas suntuosas para os oficiais chilenos, Ouro Preto e as hostes monárquicas não estiveram sozinhos.

Sabe-se de pelo menos um caso de corporação do Exército - a da Fortaleza de São João - que, não desejando ficar atrás da Marinha nas homenagens aos oficiais do Almirante Cochrane, pediu e obteve verbas do governo imperial para organizar seu ágape.
"O tenente-coronel Leite de Castro me escreveu pedindo 1 conto de réis e eu o atendi prontamente", diz o Visconde de Ouro Preto.

A Conta:
- O dinheiro reservado para a Seca no Nordeste, pagou as primeiras contas:

$ 50 contos, foi parar na conta bancária da Confeitaria Paschoal, a preferida da Casa Imperial;
$ 24 contos de réis serviram para pagar o pessoal que trabalhou naquela noite: - três chefs,
$ 150 garçons e um exército de cozinheiros, ajudantes e serviçais da limpeza;
$ 26 contos de réis foram empregados na decoração, incluindo dois gigantescos candelabros de prata, 24 pavões empalhados, que adornavam os cantos das mesas.

O Escândalo
A imprensa dividiu-se em seus relatos, preocupou-se em divulgar o Baile e não o Golpe de Estado seis dias após, mas foi um grande acontecimento, os escândulos não foram da Familia Imperial e sim de seus convidados, que seriam 6 dias depois as mesmas pessoas da república.

As peças íntimas que foram encontradas na ilha após a festa, foram motivo de escândalo quando noticiados pelos colunistas das revistas femininas do século XIX, entre essas revistas, a “Eu Sei Tudo” revelava que:
"A Coroa não era tão casta como pressupunham os seus súditos".

O jornal Tribuna Liberal, na sua edição de 10 de novembro de 1889, falou do:
"Brilho e o ruge-ruge das sedas, os colos salpicados de brilhantes, safiras, esmeraldas e os diademas rutilantes dos penteados".

- O colunista Desmoulins, do Correio do Povo, por sua vez, citou o mau gosto a que se entregaram muitos dos convidados. Criticou ainda os homens que, no salão, mantinham seus chapéus ingleses do Wellicamp e do Palais Royal enfiados na cabeça.

- O cronista social da Gazeta de Notícias descreveu com detalhes 74 trajes das damas presentes, numa edição que bateu recordes de espaço e de tiragem.

- O jornal publicou também uma descrição detalhada da ceia, anunciada em um menu de 12 páginas, guarnecido com as cores das bandeiras brasileira e do Chile:


"Nada menos que 11 pratos quentes, 15 pratos frios,12 tipos de sobremesas, 4 qualidades de champagne, 23 espécies de vinhos e 6 de licores, num total de 304 caixas destas bebidas e mais dez mil litros de cerveja. Os números da maior comilança de que o país tem notícia relacionam para o preparo de todas essas receitas, o consumo de nada menos que 18 pavões, 25 cabeças de porco, 64 faisões, 300 peças de presunto, 500 perus, 800 quilos de camarão, 800 latas de trufas, 1200 latas de aspargos, 1300 galinhas, além de 50 tipos de saladas com maionese, 2900 pratos de doces variados, 12 mil taças de sorvete, 18 mil frutas e 20 mil sanduíches".

- E o cronista dedicou um espaço especial para as bebidas:
"Das 304 caixas de bebidas, 258 eram de vinhos e champagnes."
Ou Seja: 


"Naquela noite, foram consumidas 3.096 garrafas desses maravilhosos fermentados, que compunham uma bateria de 39 rótulos diferentes, com destaque para Porto de 1834 - uma safra preciosíssima - Madeira, Tokay, Château D’Yquem, Château Lafite, Château Leoville, Château Beycheville, Château Pontet-Canet e Margaux".

A presença marcante do italiano Falerno, nas versões branco e tinto, era uma deferência à imperatriz.
Os champagnes não podiam ser melhores:

“Cristal de Louis Roederer, Veuve Cliquot Ponsardin e Heidsieck”.
Dentre os vinhos alemães, destacavam-se o “Liebfraumilch e o famoso Johannisberg do Reno".

- Um republicano infiltrado no baile, que dias depois publicou suas impressões na Revista Ilustrada, comenta que a certa altura os salões tornaram-se pequenos para o número de convidados:


"Para conseguir o espaço necessário às danças, o senhor Hasselmann, guarda-mor da alfândega, teve de suar, não só o topete, mas também o colarinho, de tal modo que este perdeu toda a compostura e tomou o aspecto de uma simples tripa enrolada no pescoço".

- No meio do Baile, o Ministro das Relações Exteriores, o Visconde de Cabo Frio, resolveu fazer diplomacia.

Ao saber que havia perus no cardápio, ficou preocupado com o que poderia pensar a comitiva do governo peruano. Mandou poupar as aves e escondê-las no porão. A notícia vazou. Um grupo de nobres decidiu aprontar e subornou o dono de uma embarção, na tentativa de seqüestrar os animais.
A polícia deteve os fanfarrões.

A imprensa gozou: 

"A polícia não encontrou os perus no barco, mas descobriu 604 peruas no baile". 

Republicanos criticaram extravagância 

Os Republicanos reclamaram da extravagância, mas estavam lá, aproveitando e tramando, hoje em dia seria considerado "Alta Traição".

Rio de Janeiro 
- O luxo e a extravagância dos trajes e cabelos das convidadas do baile da Ilha Fiscal receberam, alfinetadas de republicanos que não faltaram ao baile e aplausos de monarquistas.

O luxo e as extravagâncias que cercaram o desembarque do couraçado Almirante Cochrane, dando lugar a um período denominado "Festas Chilenas", incentivou a propagação dos ideais republicanos.

A Trama republicana

Enquanto o baile transcorria, o que os convidados não imaginavam, nem o imperador D. Pedro II, é que tramavam em suas costas.

À mesma hora em que se acendiam as luzes do palacete para receber os milhares de convidados engalanados, os republicanos reuniam-se no Clube Militar, presididos pelo tenente-coronel Benjamin Constant, para maquinar a queda do Império.

"Mais do que nunca, preciso sejam-me dados plenos poderes para tirar a classe militar de um estado de coisas incompatível com sua honra e sua dignidade", discursou Constant na ocasião, tendo como alvo justamente o Visconde de Ouro Preto.

Longe dali, ao lado da Família Imperial, o visconde desmanchava-se em sorrisos ao comandar seu suntuoso festim.

Seis dias depois, o Marechal Deodoro proclamava a República na Praça da Aclamação (hoje, da República) - perto do cais Pharoux, de onde partiram os convidados para o Baile.
Perplexo o povo, nas ruas, comemorou o fim do Império.
No meio dele, estavam também os mesmos oficiais do navio chileno (ainda ancorado na Baía de Guanabara) que teriam sido homenageados pela última grande farra do Império.

Os Eventos Festivos continuam na Corte 

Em 10 de novembro de 1889, pela manhã, os chilenos visitam ao Hospital São Sebastião e Laboratório pirotécnico de Campinho.

No primeiro compareceram o Imperador com suas altezas e o príncipe D. Pedro.

No segundo, assistiram a fabricação de cartuchos de pólvora e espoletas; depois, se seguiram profusos lunchs e danças até 5 horas.

Dia 13 de novembro de 1889, comissão da Sociedade Club de São Cristóvão foi a bordo do Almirante Cochrane convidar o comandante Bannen e o ministro do Chile para o baile que lhes será oferecido no dia 30 do corrente.

Visita também de uma comissão de “torpedistas da nossa marinha”.

Na véspera do Golpe

Em 14 de novembro de 1889, a oficialidade chilena fez uma visita ao príncipe Pedro Augusto.

O dia do Golpe

Em 15 de novembro de 1889, no mesmo dia da Proclamação da República, o jornal Tribuna Liberal dá notícias da visita que fizera o comandante Bannen ao colégio Salesiano em Niterói, enquanto O País trombeteia a nova festa a realizar-se daí a seis dias no convés do Almirante Cochrane para “os companheiros de armas”.

Nesse mesmo dia, segundo o mesmo jornal, os chilenos teriam ido a Petrópolis, onde se refugiara D. Pedro II fugindo do calor carioca.

O Diário de Notícias, por sua vez, informava que:

“High-Life fluminense ainda teria mais algumas ocasiões de encontrar-se com a digna oficialidade do cruzador chileno. Pretende-se fazer as seguintes festas: Sua Majestade a princesa imperial vai abrir amanhã – dia 16, portanto – os salões de seu palacete, oferecendo a essa oficialidade uma bonita soirée, onde em magnífico concerto se fará ouvir o que há de melhor no mundo artístico e elegante”.

A julgar por essa agenda, nenhuma informação circulava, pouco ou nada se sabia dos “preparativos para o golpe”, as festas seguiam seu ritmo.

O barão de Muritiba

Num desabafo sobre o 15 de novembro, o barão de Muritiba resumiu esses dias de festas e sociabilidades como:

“A saída de um sonho em direção ao pesadelo”.

Não lhe passaram despercebidos os comentários sarcásticos emitidos no dia do Baile da Ilha Fiscal, espécie de prenúncio agoureiro do episódio que iria viver a Família Imperial. Conta ele que:

Poucos dias antes da explosão, a 9 de novembro, por ocasião do faustoso baile, quando o Visconde de Ouro Preto, empunhando a taça saudou em brilhante discurso a Nação amiga […] quando, acompanhando a saudação erguiam-se estrepitosos vivos, soavam os hinos e troava a artilharia, conta-se que um oficial general da Armada, o Vice-Almirante Wandenkolk postado a pouca distância, em tom zombeteiro, ouvido pelas circunstâncias disse:

‘rira bien qui rira le dernier’”.

Muritiba recorda também que, sabedor da volta do imperador à capital, o comandante Bannen foi ao Paço da Cidade e colocou à disposição do imperador o encouraçado Almirante Cochrane. E respondeu-lhe D. Pedro, segundo o mesmo narrador, não parecendo estar totalmente compenetrado da situação:

‘Isto é um fogo de palha, eu conheço os meus patrícios’, palavras que o Oficial estrangeiro ouviu com visível mostras de verdadeira surpresa.

Austeridade

A vida social da realeza brasileira foi ao mesmo tempo motivo de orgulho e decepção para nós, - brasileiros.

Orgulho, porque no comando do admirável Dom Pedro II o reino não despendia dinheiro público para o regalo dos nobres.

Decepcionante porque não se teve por aqui o luxo e beleza que caracterizaria a nobreza na sua quase totalidade mundo afora.

Parece bastante fácil saber o que é certo e o que é errado, mas não podemos nos esquecer das belezas deixadas pelas loucuras de reis como os Luíses da França. Um de nossos historiadores chegou a dizer que a falta de recepções sociais foi uma das causas da queda do império. Uma corte socialmente atuante seria fundamental para manter os seus súditos, bem como se fazer negócios.

Mas tivemos talvez um único momento glorioso, dentro de quase meio século do segundo reinado, um acontecimento capaz de fazer suspirar toda uma cidade, um baile que iluminou todo o Rio de Janeiro, o cais congestionou-se de populares que queriam ver as elegantes damas saírem de suas carruagens e adentrarem aos barcos na Baía da Guanabara. Um evento que marcaria a história de nosso País.

Dias depois, o Brasil já República, Rui Barbosa, Ministro da Fazenda, em inspeção a Ilha Fiscal, ordenou que tudo viesse a baixo. Para sorte nossa um engenheiro, republicano, estava presente e pediu como única consideração da República: que tudo fique no lugar.

E está lá: um palacete de 2.300 m2, com vitrais coloridos que retratam de um lado Dom Pedro II e do outro, a Princesa Isabel.

Doidos

Não foi à toa que, ao embarcar para o exílio no dia 17 de novembro de 1889, D, Pedro II despediu-se de seus algozes dizendo: “Os senhores são uns doidos!”.

Enquanto isso, o representante diplomático do Chile, Wilamil, soluçava de desgosto.

A cidade que a Família Imperial viu de longe, ao cruzar a Baía de Guanabara, no paquete Alagoas, numa manhã radiante, mergulharia num turbilhão de transformações, para além daquelas políticas.

O que restou do Baile, - os Doidos

O vaticínio de Raul Pompéia se realizara. O ideário da Belle Époque simbolizado “en tout splendeur” no cenário, nos trajes e na música que animaram o baile da Ilha Fiscal escondia uma face perversa, que doravante se exporia.

A visão racista que permitia enquadrar e controlar os recém-libertos, por exemplo, é parte das mudanças que se instalavam.

A medicina legal, obcecada em perseguir feios, sujos e pobres, outra.

O Bota-Abaixo que mudou o espaço urbano colonial, fruto de uma adaptação milenar da arquitetura portuguesa, mais outra.

Todas as mudanças nascidas da mesma política que cortaria avenidas e expulsaria famílias desfavorecidas da capital, inventaria a favela e o pivette, política que viria à tona com a República.

Jamais saberemos se ao referir-se aos “doidos” D. Pedro intuía que, visto a distância, o cenário por trás do baile apenas reorganizaria as instituições políticas, sem maiores transformações econômicas e sociais.

Houve até quem interpretasse o novo sistema político como “um salto para trás” no tempo histórico, uma ruptura com a tendência centralizadora do Império que acabou dando no domínio de fazendeiros no quadro político nacional.

Outras interpretações, ao contrário, vêem o fortalecimento do poder central, coincidindo com a decadência econômica dos proprietários rurais de diversas regiões, doravante dependentes de recursos e proteção proporcionados pelo aparelho público federal.

Outras, ainda, sublinham o aparecimento de grupos oligárquicos capazes de barganhar favores, empregos e verbas em troca de apoio político.

A recém-nascida República trazia muita coisa do Império.

– Ela já nascia Velha. –

O sentido do alheamento dos diversos grupos que participaram como atores – os “doidos” –, ou simples espectadores – os “bestializados” – da Proclamação da República.

O Imperador Pedro II era tido como um homem extremamente culto, interessado no progresso do Brasil. Dizem que ele próprio se considerava um cientista, e alguns também o consideram um homem que foi muito interessado nos avanços tecnológicos da época e trouxe estes avanços para o Brasil.

Além do mais, Pedro II era um homem que realmente gostava do Brasil, tinha uma visão de progresso e preocupação com a defesa e autonomia do país. Durante seu governo, se preocupou com as defesas da capital reequipando e aumentando o poder defensivo de fortalezas como a Fortaleza de São João e Fortaleza de Santa Cruz entre outras.

Pedro II era tido como um Rei popular, e regularmente concedia audiência para cidadãos comuns.

Muitos politicos e apoiadores apostavam em sua continuidade e no regime Monarquico Constitucional.

Para promover a Monarquia, apostaram neste baile, que na verdade foi uma aposta totalmente errada, dando pano para as mangas dos opositores.

Como se diz popularmente, o resultado no balanço geral foi "um tiro pela culatra". O baile pode ter sido interessante como prestígio para todos os políticos e apoiadores que foram convidados, mas foi um divisor de águas para os indecisos ou que tinham menos prestígio e não foram convidados e se sentiram melindrados ou desprestigiados.

E para os inimigos o motivo que faltava para justificar o fim da Monarquia Parlamentar Constitucional.

Na verdade a Monarquia já estava políticamente enfraquecida, e havia necessidade apenas de um pretexto significante perante a opinião pública, para colocar um fim no regime Monarquico Constitucional e iniciar a era Republicana.

Dias depois, o Brasil já República, Rui Barbosa, Ministro da Fazenda, em inspeção a Ilha Fiscal, ordenou que tudo viesse a baixo. Para sorte nossa um engenheiro, republicano, estava presente e pediu como única consideração da República: que tudo fique no lugar.

E está lá: um palacete de 2.300 m2, com vitrais coloridos que retratam de um lado Dom Pedro II e do outro, a Princesa Isabel.

O Baile da Ilha Fiscal virou livro, porque muito além do luxo, marcou o fim da Monarquia e o início da República.

A História

O Baile da Ilha Fiscal passou à história como um símbolo.

Civilizações em decadência têm como traço comum, os exageros à mesa.
Inclusive no Brasil, claro.

Nota:
- No século XX, o ex-presidente Collor de Mello, em seu último ano na Casa da Dinda, consumiu, só de camarão, duas toneladas e meia.

O Baile da Ilha Fiscal, realizado no dia 09 de novembro de 1889, marcou a transição do Império para a República.

A Proclamação da República, no entanto, não significou o fim das festividades em torno da tripulação do couraçado Almirante Cochrane.

Os republicanos, os golpistas, aproveitaram para brindar com os chilenos o fim do Império, chegando até a afirmar que o fato de o Chile ser uma República foi um estímulo à sua proclamação no Brasil.

A população andava insatisfeita com a inflação de 3% ao ano, pasmem!

E os impostos absurdos criados pelo Ministro da Fazenda, o sr. Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto.

"Não ao Afonso Vintém", como o chamavam nas esquinas.

O último fora o imposto compulsório sobre as passagens do bonde, daí o apelido. 

O Exército conspirava na caserna. As repúblicas vizinhas achavam que já era hora do Brasil caminhar com as próprias pernas. 
A Argentina estava prestes a declarar guerra por questões de fronteiras.

A idéia do Baile veio para mostrar a força do Império, com a presença de todo o governo e da nobreza.
 ***

Fatos 
Baile da Ilha Fiscal
De acordo com o historiador Milton Teixeira, da Escola Técnica de Turismo do Rio de Janeiro (ProTur), todas as fotos feitas na festa desapareceram.

- Uma lista divulgada, dos despojos encontrados nos salões, na manhã daquele domingo incluía, por exemplo: O baile passou das 6:00 h, quando a criadagem recolhia objetos deixados pelos cantos. Entre eles 17 pufes (almofadinhas que realçavam os contornos das madames), nove dragonas de militares, oito raminhos de corpete (usados para esconder o decote dos seios), dois coletes de senhoras e dezessete ligas, dezesseis chapéus, treze lenços de seda, nove de linho e quinze de cambraia

- Após a saída dos convidados, os trabalhos de limpeza revelaram artigos inusitados espalhados pelo chão: além de copos quebrados e garrafas espalhadas, foram recolhidas condecorações perdidas e até peças de roupas íntimas femininas.

- “O Paiz “ era o principal periódico republicano do Brasil , chegou a vender, em 1890 , 32 mil exemplares. Apesar de atuar como um órgão oficioso do governo, considerava-se independente. Escreveram em suas páginas, entre outros, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, O fato pode, entretanto, ser fictício, uma vez que foi relatado na coluna humorística Foguetes , do periódico carioca no dia 12 de novembro de 1888.

- Um fato irônico, até hoje não confirmado, ocorreu logo após a chegada da Família Imperial, conta-se que D. Pedro II, ao entrar no salão do baile, desequilibrou-se.
Ao recompor-se, exclamou:

- O monarca escorregou, mas a monarquia não caiu!

O Baile 
E o Fim da Monarquia

Passados dez dias de sua realização, em plena República, o baile da Ilha Fiscal ainda é comentado na cidade, seja nas rodas chiques da Rua do Ouvidor, seja nos bairros. Pela forma como mobilizou não apenas os convidados, mas também toda a população do Rio de Janeiro e por ter marcado o canto do cisne do Império, pode-se prever que ele ficará inscrito na História da cidade e do país.

A repercussão do baile não seguiu os caminhos imaginados pelos promotores: naquela mesma noite, militares republicanos estavam reunidos com Benjamin Constant Botelho de Magalhães, líder Positivista, para decidir a data da proclamação da República.

Desde a abolição da escravatura em 1888 - assinada pela Princesa Isabel - os interesses dos senhores de escravos, últimos aliados de Dom Pedro II e base de sustentação do governo ficaram muito abalados.
Começavam a chegar os primeiros imigrantes para substituir a mão de obra negra.

Seis dias depois do baile, no mesmo Cais Pharoux de onde partiam os ferry-boats para levar os convidados do Imperador para a Ilha Fiscal, o Marechal Deodoro proclamava a República.

Ainda se recuperando da ressaca, a Corte percebeu que o Imperador tinha sido deposto e era hora de saudar a República com outras festas.

Aliás, alguns dos destaques do novo regime estavam presentes ao Baile da Ilha Fiscal, como Rui Barbosa, Campos Sales e Benjamin Constant.

O Império caia, com muita dignidade e nobreza e sem nenhuma queixa, sete dias após o término do baile que entraria para a história.

É possível que o próprio imperador, em seu exílio, esteja à essa hora se arrependendo de ter atravessado a Baía de Guanabara rumo à Ilha Fiscal naquela noite faustosa e fatídica.

Desde que, na juventude, granjeou fama como um autêntico pé-de-valsa, e do tipo galanteador, D. Pedro nunca mais demonstrou prazer em participar de grandes bailes oficiais e sequer tomou a iniciativa de promovê-los.

Numa monarquia, por tradição, é o monarca e sua família que dão o tom da vida social da Corte.
Se dependesse dele, o tom dos salões cariocas teria sido pálido.

Coube aos grandes anfitriões da cidade, como o Barão de Cotegipe e a Mme. Haritoff, movimentarem a sociedade durante o Império, com suas festas inesquecíveis.

A Princesa Isabel e o Conde D'Eu reagiram a essa frieza social de D. Pedro, organizando reuniões animadas no Paço de Petrópolis e no Paço Isabel.

Nada disso, porém, encontrava eco no Paço de São Cristóvão.

Com o baile da Ilha Fiscal, organizou-se a mais suntuosa das festas para marcar a derrocada de um imperador que detestava festas suntuosas.

Certamente, ele poderia ter partido para o exílio sem carregar na bagagem as marcas dessa idéia luminosa do Visconde de Ouro Preto.

Se diz República, mas era questão, apenas de - PODER

A Proclamação da República e o fim da Monarquia Constitucional aconteceu 6 dias após o grande baile.

E assim, no dia 15 de Novembro de 1889, a República foi Proclamada dando início à uma nova era no Brasil.

A proclamação da República naquela época, foi feita por meios revolucionários, não tendo existido uma transição absolutamente legal quanto à mudança da constituição.
A mudança, sob a ótica social, era necessária em função dos novos tempos, novos anseios e amadurecimento da nação.

Embora a Monarquia fosse constitucional, a participação política e influência da população era restrita, e o sistema era considerado elitista. De certo modo a influência política era indexada à posse de bens ou posição social hereditária ou nobreza por descendência ou mercê régia (nobreza conferida pela Monarquia).

E questionava-se a legitimidade de um líder máximo advinda de título de nobreza hereditária e não por méritos pessoais. A idéia da Monarquia não era mais amplamente sustentável diante das novas visões políticas e filosóficas.
Além de outros fatores, pesava o fato de Pedro II ter como legítima herdeira ao trono a Princesa Isabel casada com um Conde Francês, e na época, a figura e influência de um príncipe consorte estrangeiro também incomodava. Na verdade o questionamento era mais voltado contra a legitimidade da Monarquia e sua continuação.

Quanto à legitimidade de Pedro II como líder, este não era o alvo de críticas, já que era popular, respeitado e tido como uma pessoa integra.

Após uma série de fatos, o Brasil entrou em uma nova era, com a proclamação da República.

Após ser formalmente comunicado pelos militares, o Imperador Pedro II foi exilado e deixou o Brasil com sua Família indo para a Europa.
Entretanto o Brasil ainda assim pode se sentir um país privilegiado de ter tido como ultimo governante do regime Monárquico Constitucional, Pedro II, um homem de visão progressista e aberta para o futuro.

Em outras palavras, seu legado foi uma estrada pavimentada em direção à um futuro próspero para o pais.

Embora o fim da Monarquia Constitucional fosse inevitável, existe a crítica quanto ao processo como aconteceu. Muitos homens de bem consideram a deposição de D.Pedro II uma grande deslealdade para uma figura que sempre honrou o Brasil, promovendo desenvolvimento e sua defesa.

Alegam que, mais justo seria que existisse uma transição. Que a transição para a República fosse feita em decorrência da morte de D.Pedro II, que já se encontrava em idade avançada, transição esta que poderia ser feita de forma políticamente negociada ou não.

Mas estes são meros comentários acerca da história.

Entretanto com o decorrer dos anos, existiu uma consciência quanto à importância da figura de D.Pedro II, que recebeu novamente seu reconhecimento por parte dos governos que se sucederam através de inúmeras homenagens.

O Problema do Poder

- A vingança da elite oligárquica pela abolição estava concretizada.

A República foi proclamada e o Sr. Deodoro da Fonseca, agora presidente da República, decreta o salário do presidente para 120 contos de réis o dobro que era dado a toda Família Imperial, e 50% do custo do Baile da Ilha Fiscal que meses antes tinham tanto combatido.

Claro, tudo era apenas uma desculpa, principalmente do Sr. Benjamin Constant, os que queriam era o Poder, de bem fazer, ter poder como o Imperador, e assim acabou o Idealismo Republicano, sempre com suas exceções.

A República foi proclamada para tirar um imperador que diziam absolutista para colocar militares ou civis de pior envergadura.

A República foi proclamada e todos os direitos individuais foram suspensos, e as imagens da Monarquia apagadas.
Tudo se ajeita com o tempo; mas não como proclamaram antes os republicanos.

Tiramos uma tradição, estável, digna, para colocar auto proclamados ditadores no lugar, com suas exceções.
Os autos proclamados, nada mais fizeram a não ser dar um Golpe de Estado, já iniciando com mentiras.

- Se fosse para trocar um imperador por outro, ainda com maior poder, atitudes ditatoriais, longe do cidadão, ficava-mos com quem já estava pela tradição.
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1904
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Um baile sem fiscal, no fim da Monarquia

Nota:
- Em 28 de setembro de 1992, o jornal paulista “O Estado de São Paulo” publicou a matéria, relatando o preparo de um livro sobre o evento do Baile da Ilha Fiscal que marcou a queda do Império no Brasil.

Na época da publicação dessa reportagem, o Brasil havia derrubado o presidente Fernando Collor de Mello e investigava os ilícitos cometidos por seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, que seria depois encontrado morto em sua casa e se preparava para promover em 1993 o plebiscito previsto na Carta Magna de 1988, que determinaria a forma de governo no País, República ou Monarquia Parlamentarista.
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Origem da Obra do Castelo Mourisco

A Ilha Fiscal, então Ilha dos Ratos, foi criada pelos aterros das obras da primeira Alfândega e era ocupada com fornos para a queima de cal Dorsetshire, recebido da Inglaterra.

Para explicar o nome "Ratos", existem duas versões:
- A primeira proviria dos roedores ali existentes em grande número, provavelmente oriundos da Ilha das Cobras, de onde fugiram escapando dos ofídios que lá haviam.

- A outra lembraria as muitas pedras existentes nas suas cercanias, pedras de coloração acinzentada, semelhantes a ratos nadando.

Disputada na época pelos ministérios da Marinha e da Fazenda, o primeiro querendo instalar um posto de socorro marítimo e o segundo um posto aduaneiro, a rapidez do engenheiro Adolpho José Del Vecchio, diretor de obras do ministério da Fazenda, fez pender o lado da balança para este. Rapidamente elaborou projeto de edifício sólido e funcional dedicado à fiscalização alfandegária.

Em 06 de novembro de 1881, foi lançada a pedra fundamental da edificação.

Pouco depois, a ilha foi visitada pelo Imperador D. Pedro II. Conta-se que, encantado com a magnífica vista da baía, tê-la-ia considerado "delicado estojo, digno de uma brilhante jóia".
Del Vecchio, então, admirador do estilo gótico, projetou um castelo como os do século XIV em Auvergne, França.

O projeto recebeu Medalha de Ouro ao ser apreciado na exposição da Escola Imperial de Belas Artes.

Em 27 de abril de 1889, o edifício foi inaugurado com a presença do Imperador, utilizando-se no transporte a famosa Galeota Imperial (em exposição no ECM).

Da construção, sobressaem o excepcional trabalho em cantaria, executado por Antônio Teixeira Ruiz e auxiliado por excelentes profissionais do ofício, os mosaicos do piso do torreão, obra de Moreira de Carvalho, onde foram utilizadas mais de uma dezena de espécies de madeira, as belas agulhas fundidas por Manuel Joaquim Moreira e Cia., a pintura decorativa das paredes de autoria de Frederico Steckel, o relógio da torre de Krussman e Cia., os aparelhos elétricos de Seon Rode, e a magnífica coleção de vitrais, importados da Inglaterra, dois deles no torreão, com os retratos de D.Pedro II e da Princesa Isabel, ladeados pelos brasões genealógicos do Imperador e da Princesa.

Em 06 de setembro de 1893, irrompia no Rio de Janeiro a chamada Revolta da Armada. Nela, parte substancial da esquadra brasileira, comandada pelo Almirante Custódio de Mello, rebelou-se contra o governo do Marechal Floriano Peixoto.

Naquela época, a Ilha Fiscal ficou em meio ao tremendo duelo de artilharia travado entre as fortalezas leais ao governo e os navios e fortalezas (Ilha das Cobras e Villegaingnon) dos revoltosos.

Múltiplos foram os danos sofridos na edificação. Suas paredes foram atingidas por projéteis, agulhas de ferro derrubadas, telhados, fiação e móveis avariados, além de sérios danos nos vitrais.

Obviamente, as despesas de restauração seriam vultosas, razão talvez para o engenheiro do Ministério da Fazenda, Miguel R. Galvão, sugerir a entrega da ilha ao Ministério da Marinha, "em troca de algum edifício que melhor se prestasse ao serviço da Alfândega".

A troca só se efetuaria quase 20 anos depois, não por um edifício, mas pelo Vapor Andrada, proposta pelo Almirante Alexandrino Faria de Alencar, Ministro da Marinha, ao seu colega da Fazenda Dr. Rivaldo Correia (1913).
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Visitação Pública atualmente

Visitas guiadas à Ilha Fiscal, mostrando o prédio, salões, o torreão e as três exposições permanentes:
"A História da Ilha Fiscal",
"A contribuição da Marinha do Brasil no desenvolvimento social do país", e
"A contribuição da Marinha do Brasil no desenvolvimento científico e tecnológico".


Visitas podem ser realizadas de 5ª feira a domingo, nos seguintes horários:
- Quinta, sexta, sábado e domingo: 13h, 14h30 e 16h (exceto nos segundos finais de semana de cada mês).

- Vendas de ingressos: nos dias de visitação, das 12h às 16h, no ECM, de onde saem os passeios.

- Agendamentos para grupos: 2233-9165 e 3870-6992.

- Eventos: Contatos pelo telefone 3870-6926
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Selo Comemorativo


Viva o BraZil Imperial,
Viva a República,
Viva o Brasil.

Obrigado

Fontes:

Textos adaptados de VEJA, Sociedade, 20 de novembro de 1889,
Fotos e pesquisa na internet.
Reportagem extraida do Site: www.odia.ig.com.br
Colaboração: Nanci P. Santiago
Correção: Anna Eliza Fürich
Entre “doidos” e “bestializados”: o baile da Ilha Fiscal MARY DEL PRIORE é professora do Departamento de História da FFLCH-USP. 30 REVISTA USP, São Paulo,


(A República Que a Revolução Destruiu de Sertório de Castro)