Coroação e Sagração
Dom Pedro II
Rio de Janeiro – 1841
Brazil
D. Pedro II - the Brazilian Second Empire
- Era o mesmo Brazil, mas outra história, nem tudo era correto, mas a
nação se manteve Forte e Unida.
A Jovem Nação
D. Pedro I, o pai,
não foi um Imperador popular. Durante os seus oito anos e quatro meses de
reinado, há um turbilhão de acontecimentos entre guerras, autoritarismo,
compromissos diplomáticos e econômicos com países estrangeiros e um desgaste
políticos desde a Independencia em 1824.
Sua vida pessoal
também não era vista com bons olhos. Seu casamento com dona Leopoldina, a mãe de seus herdeiros, e sua infidelidade, seu
caso amoroso com a Marquesa de Santos,
a morte precoce da imperatriz, e por último seu segundo casamento com a jovem dona Amélia.
Em 07 de abril de 1831, as atitudes arbitrárias, as pressões do
Partido Brasileiro, e os atropelos políticos o levaram D. Pedro I a abdicar do trono em nome de seu filho.
Logo em seguida,
partiu para Portugal, deixando seu herdeiro, o menino Pedro de Alcântara, então com cinco anos de idade.
A elevação de Pedro
II ao trono imperial em 1831 levou a um período de crises, o mais
conturbado da história do Brasil.
A
Regencia
Uma regência foi criada para governar em seu lugar
até que atingisse a maioridade.
Disputas entre facções políticas resultaram em
diversas rebeliões e levaram a uma situação instável, quase anárquica, sob os
regentes.
Desde 1835, a possibilidade
de diminuir a idade em que o jovem imperador seria considerado maior de idade,
ao invés de esperar até que completasse 18 anos de idade em 02 de dezembro de
1843, era levada em consideração. A ideia era apoiada, de certa forma, pelos
dois principais partidos políticos, Liberal e Conservador.
Nota:
-
Pela constituição de 1824, como o jovem imperador era uma criança, determina-se
um período de regências:
-
Governos trinos provisórios,
-
Depois permanente, e
-
Pelo Ato Adicional de 1834, uma regência una, até que o imperador alcançasse a
maioridade.
O Brasil até 1841, foi administrado por regentes que procuravam cumprir as
diretrizes políticas imperiais até o momento em que Pedro II estivesse apto para assumir o trono. Esse foi um dos
períodos mais conturbados do Brasil, pois houve grande revoltas regionais, como
a Guerra dos Farrapos, ocorrida em 1835.
Este período
histórico regencial foi riquíssimo em revoltas liberais, experiências de
descentralização e pelo predomínio de partidos políticos entre liberais e
conservadores.
Os movimentos
revolucionários determinaram atitudes políticas, a cerca, da antecipação da
maioridade de Pedro de Alcântara.
Pela constituição, sua maioridade seria aos 21 anos.
Maioridade
Os liberais
iniciaram uma campanha, fundaram o Clube
da Maioridade, e pela atuação manipuladora do clube, a antecipação da
maioridade chegou bem antes.
Em
abril de 1840, por proposta do senador José
Martiniano de Alencar, pai do romancista José de Alencar, foi criada a Sociedade
Promotora da Maioridade, originalmente uma sociedade secreta que logo se
tornou pública, passando a se chamar apenas Clube da Maioridade.
Antônio Carlos de Andrada, um dos líderes do
Partido Progressista, foi escolhido presidente, aproximando-se cada vez mais
dos palacianos.
A Campanha pela Antecipação da
Maioridade ganhou, o apoio dos "palacianos",
também conhecidos como áulicos, grupo ligado diretamente à Corte e liderado
pelo conservador Aureliano Coutinho.
Esse grupo político ficou conhecido como Clube
da Joana por reunir-se freqüentemente na residência do mordomo da Casa
Imperial, Paulo Barbosa da Silva,
situada nas proximidades da Quinta da Boa Vista e perto do Rio da Joana.
Os "palacianos" exerciam
grande influência sobre a Família Real e sobre o Príncipe herdeiro, e sempre
desejaram ver Pedro de Alcântara
coroado.
Para os conservadores ou regressistas a desordem reinante devia-se aos
excessos de liberdade ocasionados pelo Ato Adicional e por outras medidas, como
o Código do Processo Criminal de 1832.
Os regressistas ou conservadores procuraram cercar a proposta de
antecipação com inúmeros cuidados, restaurando a mística da figura imperial, o
protocolo e as pompas reais nas solenidades públicas.
Foi restabelecido o Beija-mão,
saudação que simbolizava o reconhecimento do Imperador por seus súditos. O
próprio Regente Araújo Lima, na Festa
da Santa Cruz, à porta da igreja, inclinou-se ante o futuro imperador,
beijando-lhe a mão, fato que, segundo o conservador Justiniano José da Rocha, provocou "na cidade a exaltação em uns, a indignação em outros e a surpresa
de todos."
Em
12 de maio de 1840, pretendendo diminuir os poderes dados às assembléias provinciais,
enviaram ao Legislativo a Lei Interpretativa do Ato Adicional, que, após três
anos de discussões e debates foi aprovada.
A campanha pela antecipação ganhou a Câmara, o Senado, e as praças.
Manifestações populares em versos e em quadrinhas podiam ser ouvidas nos
salões e nas ruas.
Algumas a favor, como:
Queremos Pedro II,
Ainda que não tenha idade.
A nação dispensa a lei.
Viva a Maioridade!
Imagem 2
Outras, nem tanto:
Por subir Pedrinho ao trono,
Não fique o povo contente;
Não pode ser coisa boa
Servindo com a mesma gente.
Aqueles que defendiam a imediata declaração de
maioridade do Príncipe Herdeiro Pedro de Alcantara passaram uma
moção requisitando ao imperador que assumisse poderes plenos.
No
dia 21 de julho de 1840, os representantes do Partido Progressista, ou Liberal, liderados por Antônio Carlos de Andrada, apresentaram
à Assembléia Geral um projeto de declaração da maioridade, antecipando o início
do Governo pessoal de D. Pedro II.
O Governo regencial, procurando ganhar tempo, tentou evitar a votação,
adiando a abertura das sessões para novembro.
Inconformados, os deputados, com o apoio do Senado, formaram uma
comissão para ir ao palácio de São Cristóvão pedir ao jovem Príncipe herdeiro
que concordasse em assumir o Governo.
Em 22 de julho de 1840, esta delegação foi enviada
a São Cristóvão para perguntar se Pedro de Alcantara aceitaria ou rejeitaria a declaração antecipada de sua maioridade.
Conforme a história:
-
Ele respondeu timidamente que “sim” quando perguntado se desejaria
que a maioridade fosse diminuída, e “já” quando indagado se desejaria
que viesse a ter efeito naquele momento ou preferiria esperar até o seu
aniversário em dezembro.
- Ele aceitou.
D.Pedro - aos 15 anos
Na Assembleia Geral, a tarde, o jovem imperador prestou
o juramento de ascensão:
"Juro manter a
religião Católica Apostólica Romana, a integridade e indivisibilidade do
Império, observar e fazer observar a Constituição política da nação brasileira,
e mais leis do Império, e prover ao bem geral do Brasil, quanto em mim
couber"
- Este episódio é
conhecido como o Golpe da Maioridade.
Segundo o historiador Paulo
Pereira de Castro, a maioridade não foi um golpe parlamentar, mas um golpe
que contou com o consentimento do jovem príncipe herdeiro. O movimento, liderado por Antônio Carlos de Andrada,
transformou-se num golpe palaciano, que terminou com a queda dos conservadores
e a volta dos liberais.
No dizer de cronistas do Império, D.
Pedro, ao ser consultado pela comissão dos maioristas sobre se queria
assumir o trono quando completasse 15 anos, ou imediatamente, teria respondido:
"Quero
já!"
A antecipação da maioridade restabeleceu a paz no Império. A Regência
foi extinta, e o Governo foi entregue a seu segundo Imperador, D. Pedro II, que completaria 15 anos no
dia 02 de dezembro.
Em 1841, Pedro II foi aclamado,
coroado e consagrado.
A Sagração e Coroação de S.M.I. D. Pedro II foi
marcada para 18 de julho de 1841.
-
Segundo Imperador do Brasil, S.M.I. D. Pedro II,
nasceu no Rio de Janeiro em 1825 e morreu em Paris em 1891. Reinou sob regência, como príncipe herdeiro de 07 de abril de 1831 a 23 de junho de 1840, e, como imperador do Brazil de 18 de Julho de 1841 a 15 de novembro de 1889.
- 48 anos - Imperador do Brazil, monarquia Parlamentalista,
- 9 anos - Príncipe Herdeiro, sob Regencia,
- 6 anos - Príncipe Herdeiro, Primeiro Império.
- 48 anos - Imperador do Brazil, monarquia Parlamentalista,
- 9 anos - Príncipe Herdeiro, sob Regencia,
- 6 anos - Príncipe Herdeiro, Primeiro Império.
Em 18 de julho de 1841, Pedro II foi coroado Imperador
do Brazil, aos 15 anos de idade incompletos.
(Museu Imperial – Iphan,
Petrópolis)
Com a sua coroação, havia sido criada uma
expectativa favorável quanto à estabilidade econômica e política do país.
A Cerimonia
No Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro
A cidade do Rio de Janeiro, capital do IMPÉRIO, foi cuidadosamente preparada
e embelezada para a cerimônia.
Muitas obras foram realizadas com grandes gastos para os cofres
públicos.
As festas duraram muitos dias, encerrando-se no dia 24 de julho com um
grande baile de gala no Paço.
- Abaixo a descrição da Coroação
pela imprensa local:
Fonte: (Jornal do Commercio; de 20 de julho de 1841- Grafia da época)
Matéria enviada por: José Eduardo de Oliveira Bruno - SP, junho de 2004.
A Coroação
O ato da coroação de Dom Pedro II, por François
René Moreaux, 1842
- Às 11 horas da manhã do dia 18 de
Julho de 1841, S. M. I., com 15 anos, determinou que seguisse o Cortejo para a
Capela Imperial, na forma do programa n.º 2. O Corpo Diplomático aguardava a
passagem e chegada de S. M. I. no passadiço, que comunica o Palácio com a
Capela Imperial. Um quarto de hora depois chegou S. M., tendo ao lado esquerdo
suas Augustas Irmãs, e recebido o cortejo do Corpo Diplomático, ao qual S. M.
se dignou corresponder com a maior afabilidade, despediu-se delas, e esperou de
capacete na mão que passassem todas as senhoras, que formavam o cortejo de SS.
AA. A este tempo já tinha aparecido na varanda o manto do Fundador do Império e
a espada Imperial do Ipiranga, e já as tropas estavam em continência tocando o
hino da independência, cujas recordações tornavam o ato mais solene. Apenas
S.M.I. apareceu na varanda, foi saudado por um viva entusiástico de topo o povo
que se achava na praça, ao qual S. M. se dignou corresponder; e assim foi
saudado até entrar na Capela Imperial.
S. M. foi recebido à porta da Igreja
pelo Exm.º Bispo Capelão-Mor e Cabido, e descoberto recebeu a aspersão do mesmo
Bispo, e, pondo depois na cabeça o capacete de cavaleiro, dirigiu-se à Capela
do Sacramento onde, tirando-o, fez oração, e repondo-o dirigiu-se aos cancelos,
onde foi recebido por uma deputação de seis Bispos, com seus assistentes,
mandada pelo Exm.º Arcebispo Metropolitano, que em faldistório o esperava no
presbitério.
S. M., saudando esta deputação, tirou o
capacete, saudou SS. AA. Irmãs que já se achavam na tribuna, a cruz e o
sagrante; subiu ao Trono, onde se sentou. Revestidos os seis Bispos, vieram em
deputação buscar S. M., que subiu ao presbitério, levando à direita o
Condestável, à deste o Mordomo-Mor, à deste o Reposteiro-Mor, e à deste o
Mestre de Cerimônias da Corte, e à esquerda o Camarista-mor, à deste o
Camarista de semana, à deste o Capitão da guarda, e à deste o Mestre de
Cerimônia do Sólio. Aproximando-se S. M. ao sagrante, tirou o capacete, fez uma
reverência. e o Exm.º Ministro da Fazenda o recebeu em uma rica salva, que
tinha levado a coroa, e o fez colocar na credência.
Sentado o Imperador em uma rica cadeira
fronteira ao sagrante, a qual foi ministrada pelo Reposteiro-Mor, que a recebeu
do Guarda-tapeçarias, ouviu o discurso do mesmo celebrante, e levantando-se,
ajoelhou em uma almofada ministrada pelo Reposteiro-Mor, e o Exm.º Ministro da
Justiça leu a protestação de fé. Tendo o Exm.º celebrante o missal aberto no
seu regaço, S. M. I. pôs ambas as mãos sobre ele e disse: - Sie me Deus adjuvet,
et haec sancta Dei evangelia. - E fechando o missal, beijou a mão do
celebrante. Levantando-se S. M. ajoelhou segunda vez, o ouviu a oração do
celebrante, finda a qual levantando-se foi ajoelhar ao lado do Evangelho,
prostrando-se sobre o genuflexório em duas almofadas, uma para os joelhos e
outra para encostar a cabeça, e ouviu as ladainhas, versos e duas orações.
Findo este ato, S. M. levantou-se, aeio
para diante do celebrante, e despiu os Colares do Tosão de Ouro, da Torre e
Espada, e de Santo André da Rússia, que foram recebidos pelo Exm.º Visconde de
S. Leopoldo; entregou a espada de cavaleiro ao Exm.º Ministro da Guerra, e o
Camareiro-Mor tirou-lhe o manto de cavaleiro e as luvas, entregando o primeiro
ao Exm.º Visconde de Baependi, e a segunda ao Exm.º Conde de Valenna. Depostas
estas insígnias, foi S. M. I. ungido no pulso do braço direito, e esta unção
foi purificada pelo Exm.º Bispo de Crisópolis com globos de algodão e micapanis
ministrados por um moço fidalgo. S. M. I. inclinou-se depois sobre o regaço do
celebrante, e foi ungido nas espáduas por uma abertura praticada na veste
imperial, e depois de purificada a unção pelo mesmo Exm.º Bispo, o Exm.º
Camareiro-Mor fechou novamente a veste por meio de colhetes para isto
destinados.
Terminadas as unções, o Mestre de
Cerimônias do sólio, conduzindo o Diácono ao altar, entregou-lhe o manto
imperial, este o deu ao celebrante, que o vestiu a S. M. I., ajudado pelo
Camareiro-Mor. O mesmo Mestre de Cerimônias entregou ao Diácono a murça, este a
ofereceu ao celebrante, que revestiu S. M. com ela. Feito isto, S. M. I. subiu
ao Trono, acompanhado pelos quatro Bispos mais antigos, e por toda a sua
comitiva.
Seguiu-se a Missa até o último verso do
gradual exclusive, e então S. M. I., tendo sido avisado pelo Mestre de
Cerimônias da Corte, dirigiu-se ao altar, acompanhado das pessoas acima
mencionadas, e dos quatro Bispos e assistentes para receber as insígnias
imperiais. Chegado defronte do celebrante, e feitas as vênias do costume,
ajoelhou em uma almofada ministrada pelo Reposteiro-Mor. O Diácono foi então ao
altar, trouxe a espada embainhada, e chegando ao pé do celebrante,
desembainhou-a, e dando a bainha ao Ministro da Guerra, que foi chamado para
esse ministério, ofereceu a mesma espada pela extremidade da folha ao Exm.º
celebrante, o qual tomando-a pela mesma extremidade, ofereceu-a a S. M. pelos
copos, dizendo a oração - accipe gladium etc.
Acabada a oração, o Exm.º celebrante
recebeu outra vez, a espada da mão de S. M. I., e entregou-a ao Diácono; este
deu-a ao Ministro da Guerra que a meteu na bainha, e tornando a oferecê-la ao
Diácono, este apresentou-a de novo ao celebrante, que a meteu no cinturão de S.
M., dizendo as palavras - Accingere gladium etc. - Finda esta cerimônia, S. M.
I. levantouse, e desembanhando a espada, fez com ela alguns movimentos ou
vibrações, e correndo-a pelo braço esquerdo como quem a limpava, meteu-a na
bainha, e tornou a ajoelhar.
O Exm.º celebrante levantando-se foi ao
altar buscar a Coroa Imperial, e chegando defronte de S. M., lha ofereceu; S.
M. pós a Coroa na cabeça, e tanto o Arcebispo celebrante como os Bispos, pondo
a mão direita sobre ela disseram ao mesmo tempo as palavras - Accipe coronam
imperii etc. Depois disto o Diácono foi ao altar buscar o anel e as luvas cândidas
na mesma salva em que estavam, e ofereceu estas insígnias ao Exm.º celebrante,
o qual calçou as luvas em ambas as mãos a S. M., e lhe meteu o anel no dedo
anular da mão direita. O mesmo Diácono voltou ao altar a buscar o globo
Imperial, e ofereceu-o ao celebrante, e este o ofereceu a S. M., que o entregou
ao Exm.º Ministro dos Negócios Estrangeiros. O Diácono foi novamente ao altar
buscar a mão da justiça, e a entregou ao celebrante; este a ofereceu a S. M.,
que a entregou ao Exm.º Ministro da Justiça. Finalmente o Diácono foi ao altar,
e trazendo o cetro, ofereceu-o ao celebrante: este o apresentou a S. M. na mão
direita, dizendo as palavras: Accipe virgam virtutis.
Acabada esta cerimônia, levantou-se S.
M., e acompanhado pelo Exm.º Celebrante à direita, pelo Exm.º Bispo Capelão-Mor
à esquerda, e pelos mais Bispos assistentes no altar e mais comitivas, subiu ao
Trono, sentou-se, e o celebrante disse as palavras. - Sta. etc.
S.M.I. conservou-se sentado em todo o
tempo do Te Deum, versos e duas orações cantadas pelo Exm.º Arcebispo, que
ficou em pé à sua direita e descoberto, e em seguimento deles os ministros do
altar. No primeiro degrau do Trono, junto ao Capitão da guarda, estava o Exm.º
Ministro da Justiça com a sua insígnia; adiante o Exm.º Ministro dos
Estrangeiros com o globo; o Condestável no seu lugar, assim como toda a mais
comitiva.
Findo o Te Deum e as orações, seguiu-se
a Missa, assistindo S.M.I. ao Evangelho, sem coroa, e beijou-o no fim no livro
apresentado pelo Exm.º Bispo Capelão-Mor.
Acabado o ofertório, S.M.I., seguido
pelas pessoas que já referimos, dos quatro Bispos mais antigos, do Bispo
Esmoler-Mor e do Copeiro-Menor, sustentando na mão esquerda os dois pães em uma
salva, e na direita o círio acesa, subiu ao altar, e ajoelhando em uma almofada
ministrada pelo Reposteiro-Mor, recebeu das mãos do Bispo Esmoler-Mor, e
ofereceu ao celebrante o pão de prata, o de ouro, e o círio aceso, no qual
estavam encrustadas treze peças de 10$ rs. em ouro. Isto feito,
S.M.I. retirou-se ao Trono com as vênias do costume. Continuou a Missa, sendo
S.M.I. incensado de cetro e coroa pelo Exm.º Bispo Capelão-Mor. S.M.I. esteve
sem coroa desde o Sanctus até ao Communio, exclusive, recebendo unicamente a
paz por amplexo ao Exm.º Bispo Capelão-Mor. S.M.I. esteve igualmente sem coroa
enquanto se recitaram as orações e evangelho do fim da Missa.
Acabada a bênção, o Exm.º Bispo
Capelão-Mor concedeu duzentos e quarenta dias de indulgências aos assistentes,
que foram publicadas pelo Cônego Mestre de Cerimônias do Sólio.
Acabada a Missa, S. M. I. sentou-se sem
coroa para ouvir o sermão, que foi pregado pelo Reverendíssimo D. Abade Geral
dos Bentos, que tomou por tema Sadoc sacerdos ... unxit Salomonem... Salomon
autem sedit super thronum patris sui, et firmatum est regnum ejus nimis. O
Pontífice Sadoc sagrou a Salomão; este tomou posse do trono de seu pai, e seu
reino se firmou em sólidas bases.
Findo o sermão, o Mestre de Cerimônia
da Corte, tendo recebido as ordens de S. M., mandou desfilar o cortejo para a varanda,
o qual partiu na ordem seguinte:
A coroação de Pedro II aos 15 anos, por Manuel de Araújo Porto-Alegre
Museu Histórico Nacional
A Sagração
- A Câmara Municipal e os Juizes de
Paz, que se colocaram no pavilhão do Prata; os indivíduos que vieram em
deputações assistir ao ato da Sagração; os membros dos tribunais da Corte; os
titulares; os membros da Assembléia Geral Legislativa; a Corte, tendo em frente
o Rei de Armas, Arauto e Passavante; os Porteiros da maça e da cana; os moços
da câmara; o Porteiro da Imperial Câmara; os Oficiais da Câmara em exercício;
os moços fidalgos; os Grandes do Império, e os que de Grandeza têm as honras,
indo em alas a estes os porta-insígnias. Logo que o Mestre de Cerimônias da
Corte avisou a S.M.I. que o cortejo tinha desfilado, desfilou o Cabido com as
duas cruzes, a arquiepiscopal e a catedrática, assim como os Bispos e
Arcebispo. Feita a oração ao SS. Sacramento, S.M.I., de coroa e cetro, debaixo
do pálio, tendo à direita o condestável, à deste o Exm.º Ministro da Justiça
com a mão alçada, e ÈL deste o Exm.º Ministro dos Negócios Estrangeiros com o
globo imperial, em frente o Alferes-Mor e o Mestre-de-Cerimônias, e depois o
Camareiro-Mor pegando na cauda do manto, o Capitão da guarda, o Camarista de
semana, o Reposteiro-Mor, desceu até a porta principal da igreja, e, ao sair do
adro, foi saudado por entusiásticos vivas da Imensa população, que, ávida,
aguardava a vista do seu Monarca, e S.M.I. graciosamente agradeceu esta
primeira saudação.
Subiu S. M. ao pavilhão do Prata, onde
os Grandes do Império largaram o pálio aos moços da câmara, que ali lho tinham
entregue, e estes aos porteiros que estavam no mesmo pavilhão. S.M. dirigiu-se
à sala do Trono da varanda, e em círculo formado pela Representação Nacional,
pelo Cabido, Grandes do Império, Grandes Dignitários da Corte, Câmara
Municipal, Tribunais, e Oficiais-Mores da Casa, subiu ao Trono, acompanhando
pelo Exm.º Arcebispo Sagrante, fazendo uma reverência a SS. AA. II., que
estavam com todas as Damas na sua respectiva tribuna, e outra ao Corpo
Diplomático, que já se achava na tribuna fronteira, e recebendo a mão da
justiça do Exm.º Ministro respectivo, com ela na esquerda, e com o cetro na
direita, foi saudado pelo Cabido, indo dois a dois até o primeiro degrau do
Trono fazer sua profunda reverência, dizendo - Per multos annos. - Feito Isto
por todos, e pelos Exmos. Bispos e Reverendíssimo Sagrante, desfilou o Cabido
pelo pavilhão do Prata. Imediatamente S. M. I., descendo do Trono, velo
apresentar-se ao seu fiel povo pela maneira seguinte:
O Condestável tomava a direita do
Imperador, à daquele o Exm.º Ministro do Império com a Constituição na mão, à
deste o Exm.º Ministro dos Negócios Estrangeiros com o globo Imperial, à deste
o Exm.º Mordomo-Mor, e à esquerda de Sua Majestade o Alferes-Mor, os Exm.08
Ministros da Justiça, da Fazenda e da Guarda. Assim em linha marchou Sua
Majestade até em frente às colunas do grande templo da varanda, e no centro da
Representação Nacional, e de todos os que levamos referidos, mandou ao
Mestre-de-Cerimônias da Corte que fizesse funcionar o Rei de Armas, o qual
estava em um degrau próprio, dentro de um maciço formado por uma seção da
guarda de Arqueiros, porteiros da cana e da maça, e moços da câmara, o pelos
charameleiros imperiais. Então o Rei de Armas, alçando a mão direita, na qual
tinha um rico chapéu de plumas, disse em alta voz: - Ouvide, ouvide, estai
atentos! - A este tempo o Exm.º Alferes-Mor saindo da linha avançou em frente
ao peristilo do templo, o desenrolando a bandeira disse:
Está sagrado o muito alto e muito
poderoso Príncipe o Senhor D. Pedro II por graça de Deus, e unânime aclamação
dos povos. Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. - Viva o
Imperador!
O Alferes-Mor não pôde repetir três
vezes, como lhe cumpria, os vivas a S.M.I., porque os do Imenso concurso do
povo lhe não deram lugar, nem a emoção que todos possuíam poderia deixar de
tocar também o Alferes-Mor. Então S.M.I. determinou ao Mestre-de-Cerimônias que
dissesse ao General que mandasse começar as descargas, e a lato não ter sido
assim, o entusiasmo do imenso concurso do povo, que era tanto quanto na praça,
cabia, não dava lugar a esperar-se ocasião.
S.M.I. não pôde assistir senão a 1.ª
descarga, porque o sol, que estava bastante forte, lho não permitiu, ainda que
o Exm.º Alferes-Mor, com a bandeira, o garantia de seus raios. O Imperador,
fazendo três reverências ao seu povo, uma à direita, outra ao centro, e outra à
esquerda, retirou-se ao Trono entre vivas e aclamações, e subindo a este
sentou-se, colocou a coroa em um bufete que estava ao lado da cadeira imperial,
e sentado recebeu o cortejo de todos aqueles cidadãos, que estavam no pavilhão
do Amazonas, findo o qual contramarcharam a fazer-lho os que estavam no
pavilhão do Prata, e o dos Representantes da Nação. Logo que todos os que
estavam no salão cumpriram este dever, S.M.I. ordenou que desfilasse a Corte,
e, descendo do Trono, saudou a suas Augustas Irmãs, que estavam na tribuna, e
ao Corpo Diplomático, que se achava na outra fronteira, e retirou-se à sala do
Trono do Palácio, encontrando-se no passadiço com SS. AA. Irmãs, e com elas
incorporado, recebeu ali as Senhoras de distinção, a quem as Janelas do Paço
foram oferecidas para verem a aclamação do seu Monarca.
É impossível descrever a beleza, que
apresentavam estas janelas ornadas todas de damas ricamente vestidas, que a
porfia se disputavam a preferência do entusiasmo.
Concluída a felicitação das damas,
S.M.I. se dirigiu ao seu aposento pela galeria maior do Paço, e ordenou que o
banquete fosse servido às 6 horas. Um Imenso concurso de pessoas distintas
assistiu ao banquete de S.M.I., que foi servido segundo o programa (A). Duas
ricas bandas de música tocaram durante este festim.
Retirado o Imperador aos seus
aposentos, serviu-se uma mesa de noventa e seis talheres a todos os
funcionários da Corte.
Sagracao
Visitação ao Paco
- As 8 horas da noite, franqueou-se a varanda e o Paço para serem visitados pelas pessoas decentemente vestidas, que se apresentassem com este intuito.
Supõe-se que de doze a quinze mil pessoas os visitaram. As 10 horas da noite anunciou-se que acabava a visita, e o bom povo que não tinha podido entrar paciente esperou o dia seguinte. Se o concurso for tanto como na primeira noite, os cinco dias destinados para tais visitas serão poucos para satisfazer a avidez e curiosidade pública. Tanto a mesa do banquete como a credência das insígnias têm estado expostas no novo salão que tem de servir para o Trono.
Coroa Cívica
A GUARDA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO
OFERECEU AO SENHOR D. PEDRO II NO DIA 19 DE JULHO,
IMEDIATO AO DA SUA COROAÇÃO
- Ontem, 10 de julho, S.M.I. recebeu, na sala em que estão as insígnias Imperiais, perante toda a Corte, o Comandante Superior da Guarda Nacional, acompanhado dos Comandantes de Legião e dos Corpos que tiveram a honra de lhe apresentar a Coroa Cívica, que S.M. se tinha dignado aceitar; e a um discurso recitado pelo Comandante Superior, S.M. respondeu que agradecia muito o testemunho de fidelidade que lhe dava a Guarda Nacional do Município da Corte. A Coroa foi colocada, por ordem de S.M., entre as Insígnias Imperiais.
Passando S.M. meia hora depois à sala do Trono, recebeu as felicitações do Senado, da Câmara dos Deputados, do Corpo Diplomático, das Assembléias Legislativas Provinciais, dos Presidentes de Províncias das Academias e Sociedades Científicas, das Câmaras Municipais, dos Cabidos, Ordens Religiosas e outras sociedades, e depois todos os cidadãos que concorreram ao Paço, cujo número excedeu a seiscentos. Retirou-se a seus aposentos às 4 horas da tarde, e às 7:30 h honrou com sua presença o Teatro de S. Pedro de Alcântara.
Descrição da Coroa Cívica
A Coroa Cívica, que a Guarda Nacional da Corte ofereceu a S.M. o Imperador, o cuja prontificação foi confiada aos Srs. J.J.P. de Faro Filho, Manoel Antônio Airoza, João Batista Lopes e J.P. Darrigue Faro, compõem-se de dois ramos de carvalho, feitos de ouro, com os seus competentes frutos, a que dão o nome de landes. Estes ramas são presos por uma fita de brilhantes em forma de um perfeito laço; esta fita é rendada com diferentes flores no centro, formando-lhes debrum recortado, limitando a folha da salsa. No centro do laço tremula um fiarão. Todo este trabalho é transparente, feito de brilhantes cravados a filete, com grampas nos lugares competentes. As duas pontas das fitas trabalham sobre dois cilindros de ouro, por onde passam duas molas que lhes imprimem o movimento logo que sofre o pequeno abalo. A fita prende os dois ramos que unidos formam a coroa, brotando de cada um deles quatro ramos mais pequenos de quatro folhas. Do tronco rebentam seis hastes com três folhinhas lavradas de cada uma das quais pendem três frutos com seus cazulos de brilhantes, abertos transparentemente. Esta peça tem de ouro de lei 1 marco 28 oitavas, e contém de brilhantes de diferentes tamanhos 114 quilates.
Está posta em uma caixa de feitio oitavado, forrada por dentro de veludo carmesim, com as armas do Império gravadas no centro, e por fora forrada de marroquim verde, com diferentes lavrados de ouro, contendo no centro o seguinte letreiro em letras douradas: A S.M.I. o Senhor D. Pedro II oferece a Guarda Nacional do Município da Corte, 18 de julho de 1841.
A Coroa é feita pelo artista Fortunato Rodrigues da Silva, Guarda Nacional, e a caixa é obra de M. Duplanil.
Descrição da Varanda
DO PAÇO, QUE SERVIU PARA O MAJESTOSO ATO DA COROAÇÃO DO SENHOR D. PEDRO II
A varanda Imperial, que o Governo mandou construir para a coroação do Sr. D. Pedro II, ocupa uma superfície de quase quatorze mil palmos quadrados.
Este monumento provisório difere em tudo daquele que foi construído no Rio de Janeiro para a coroação del'Rei D. João VI em 1818; quádrupla mão-de-obra, tríplice riqueza, brevidade na execução, e a quarta parte do custo, sem a potente mão de um governo absoluto, provam que a civilização no Brasil tem feito grandes progressos.
O diretor, arquiteto e pintor da obra foi o Sr. Araújo Porto Alegre; o mestre carpinteiro, o falecido Serafim dos Anjos, cuja inteligência, probidade e atividade lhe granjearam a afeição do Exm.º Mordomo do Paço, de quem recebeu as maiores provas de estima e consideração.
Esta grande obra foi executada no espaço de sete meses, e principiaremos a descrevê-la pelo seu externo antes de passarmos ao Interior.
Do adro da Capela Imperial ao passadiço se estende a varanda, tendo de extensão trezentos e dez palmos; uma escada de quarenta e dois palmos, ornada de quatro soberbos leões, dá ingresso ao pavilhão do Amazonas; mas o que fere mais a vista é o templo do centro, cujo peristilo é de seis colunas coríntias de trinta palmos de altura, bem digno de ser imitado nos monumentos públicos desta Capital.
O templo, desde a base até a cabeça do gênio do Brasil tem noventa e seis palmos de alto. Uma escada de cinqüenta palmos de largo desce do peristilo à praça; no alto tem um corpo saliente semicircular onde aparece S.M.I., e na base tem duas estátuas colossais representando a Justiça e a sabedoria, atributos do trono.
O fastígio do templo tem um baixo-relevo representando as Armas Imperiais, e no friso a seguinte inscrição: - Deus protege o Imperador e o Brasil. - o ático é coroado por uma quadriga, em cujo carro triunfante está o Gênio do Brasil, tendo ria mão esquerda as rédeas dos ginetes, e na direita o cetro Imperial.
Da parte do Norte, e num gradim inferior, está a estátua do rio Amazonas, sentada, com os atributos que lhe são próprios, assim como na esquerda a do rio da Prata.
As estátuas, os rios e os capitéis coríntios são de uma rara perfeição o de um ultra-acabado, que atestam o talento e a presteza do Sr. Marcos Ferrez.
As galerias laterais que se ligam aos pavilhões são da ordem dórica: nota-se nelas a perfeição das bases e capitéis, e a fineza de contornos no entablamento.
O ático que as coroas, decorado de ornatos de bronze e de palmetas nas pilastras, é acabado por um renque de trípodas, onde a mão-de-obra ainda brilha pelo acabado dos ornatos e das pinhas que fazem o pingete do globo que serve de perfumador.
Grandes baixos-relevos servem de friso a um intercolúnio dórico grego, que, indo de nível ao grande soco do templo, produzem um efeito admirável: estes baixos-relevos representam troféus de armas antigas, e o que há de mais notável, além da composição variada e fidelidade do caráter, é a perfeita ilusão que causam, vistos à certa distância; honra seja dada ao Sr. Professor José dos Reis Carvalho, e honra a M. Debret, que deu ao Brasil um artista tão distinto.
Os pavilhões, tanto o do Prata como o do Amazonas, fazem uma continuação da ordem das galerias; o arco de vinte um palmos, que abrange o Intervalo das quatro colunas dóricas; é preenchido por um arabesco realçado de prata, de uma ilusão perfeita; estes pavilhões são coroados por duas bigas, em cujo carro triunfal estão duas vitórias na atitude de voar, com duas coroas na mão.
Riquíssimas lâmpadas de bronze com globos baços pendem do centro do intercolúnio, formando harmonia com finíssimos festões de flores, atados por bandeletas, obra de Mme. Finot.
O aspecto geral do monumento, chamado varanda, parece simples pela razão de sua extensão; a multiplicidade de ornatos no exterior dos edifícios é nociva quando sua distribuição não é calculada na razão harmônica das grandes massas; é preciso, segundo as regras dos mestres, que o olho abranja de um só golpe o aspecto geral, e não seja entrecortado pela chamada de pequenos datalhes.
O Brasil é a primeira vez que vê uma quadriga executada em relevo e em ponto colossal; a reunião do templo e do triunfo é própria para estas solenidades, e atesta a majestade do alto destino para que fora edificada semelhante obra.
Pavilhão Amazonas
Para descrevermos o interior é necessário começarmos pelo pavilhão do Amazonas, que é o destinado para a entrada do público.
O teto do pavilhão é ornado de flores e arabescos, e dele pendem cinco lustres. sendo o do centro de uma dimensão soberba; em grandes letras se lê o pomposo nome do rei dos rios sobre um fundo verde, e no friso da colunata interna estão gravados os nomes de todas as cidades principais do Norte, assim como dos rios principais. As cidades são designadas por uma coroa mural por cima do nome, e os rios por duas pás no mesmo lugar; as cidades capitais da província têm por cima da coroa mural uma estrela; e o Rio de Janeiro, que está no pavilhão do Prata, distingue-se de todas as outras por três estrelas de ouro, como a maior, a mais bela e a Capital do Império.
Rios. - Amazonas, Madeira, Tocantins, Xingu, S. Francisco, Araguai, Tapajós e o Negro.
Cidades. - Recife, Olinda, Sergipe, Bahia, Cachoeira, Cuiabá, Vitória, Belém, S. Luiz, Oeiras, Ceará, Maceió, Natal e Paraíba.
As paredes do pavilhão estão adornadas de silvados pintados, e o fundoé é forrado de nobreza cor-de-rosa, com grandes listões de alto a baixo, brancos, que produzem um efeito agradável à vista.
A galeria que se segue, e dá ingresso ao grande templo, tem de notável além da variedade de cores do teto, duas cousas: a 1.ª é o nome dos ilustres mortos que foram úteis e fizeram serviços reais à civilização do Brasil; ali se acham os nomes de muitas ilustrações brasileiras que iremos numerando, notando de passagem os documentos que as tornaram dignas de aparecerem neste lugar no dia o mais solene do Brasil.
Fr. S. Carlos, poeta e orador distinto, autor do poema da Assunção da Virgem; Caldas, orador e lírico ilustre; Fr. Gaspar da Madre de Deus, historiador; Rocha Pita, conhecido de todos os que se ocupam da história pátria; José Bonifácio de Andrada e Silva, cujo nome basta; Prudêncio do Amaral, conhecido dos literatos; o Capitão-Mor Clemente Pereira, célebre na guerra contra os Emboabas; o famoso Rodovaldo, Bispo de Angola; o Bispo Desterro, criador de monumentos; Paraguassu, a Princesa do Brasil, e seu marido Caramuru; Valentim, o arquiteto da igreja da Cruz, de S. Francisco de Paula, do antigo Passeio, do Parto, e de quase todos os maiores monumentos da cidade; o Conde de Linhares, cuja nobreza é a fundação da escola militar, e os bens que fez ao Brasil; J. Manço Pereira, o primeiro que fez porcelana no Brasil; e a quem seus trabalhos químicos celebrizaram; Estácio Gulart e Mello Franco, célebres médicos; A. P. da Silva Pontes, o que marcou os limites do Brasil com trabalhos indizíveis; Fr. Leandro, botânico célebre e fundador do pitoresco e ameno jardim da Lagoa; Alvarenga, poeta; José Leandro, pintor distinto, autor do quadro da Capela Imperial; Manoel da Cunha, que pintou o descimento da cruz da sacristia da Capela, e o retrato do Conde de Bobadella que está na Câmara; o Conde de Bobadella, que toda a cidade venera, porque bebe todos os dias os seus benefícios, as águas que correm pelos aquedutos da Carioca; os apóstolos Nóbrega e Anchieta; o célebre mestre Marcos Portugal; Antnio Joaquim Velasques, pintor baiano, célebre pela sua valentia e imaginação; Leandro Joaquim, cujos quadros ornam o Parto e muitas outras igrejas desta cidade e província; J. M. de Noronha, conhecido pelos literatos; Araribóia, Tibiriçá, tão conhecidos como J. Basílio da Gama e o seu Poema do Uruguai; Antônio José da Silva, que, além de suas engraçadas comédias que dominaram mais de cinqüenta anos Portugal e o Brasil, se tornou mais interessante pela tragédia do seu ilustre compatriota o Sr. Dr. Magalhães; Mem de Sá, o fundador do Rio de Janeiro; João Fernandes Vieira, o Castrioto lusitano, o restaurador de Pernambuco; J. Pereira Ramos, o reformador dos códigos portugueses e Secretário do Marquês de Pombal.
Sala do Trono
Depois de recordações tão gratas, excitadas por homens tão ilustres; depois de se atravessarem duas galerias semeadas de lustres, lâmpadas e globos, de pinturas, sedas, tapetes e ouro, uma sensação insólita se apodera quando se entra na majestosa sala do Trono, alta de cinqüenta e sete palmos e larga de sessenta e quatro.
A primeira coisa que fere a vista nesta vasta sala régia é o aspecto grandioso, que dá uma só ordem de colunas coríntias; a mesma dimensão, o mesmo acabado, o mesmo estrilado do peristilo aqui se observa.
Sala do Trono
Paco Imperial - RJ
Sala do Trono Imperial do Brasil - RJ
13.05.1888 - Assinatura da Lei Aurea
Trono Imperial
O Trono Imperial é o primeiro que o Brasil vê com tanta majestade, riqueza e elegância; esta peça, que custou quase vinte e cinco contos de réis, é verdadeiramente digna do alto emprego a que é destinada; parece prognosticar grandeza e riqueza para o Império do Brasil.
Tem de altura quarenta e dois palmos; sete degraus forrados de veludo dão acesso ao Trono por uma tela de ouro fino orlada de uma larga franja. A forma da cadeira é suntuosa, tudo é ouro, e no meio de tanto esplendor brilham nos braços da cadeira duas esferas de marfim cintadas por duas zonas de ouro esmaltadas de azul e semeadas de estrelas.
A franja, que custou quase onze contos de réis, é uma obra de finíssimo lavor, e o manto de veludo verde está orlado de um largo galão de ouro e todo semeado de estrelas; o forro é de lhama de ouro fino, e o fundo da cúpula de um gosto raro, pela harmonia do cetim azul com uma estrela no centro, arraiada de canotões entrançados de verde e ouro.
A cúpula arremata com a forma esférica, forrada de cetim azul, semeada de estrelas: representa uma esfera armilar coroada pela cruz. As plumas e os ornatos, que circulam a base, fazem uma harmonia perfeita.
Dos lados do Trono e das credências estão dois leões alados, símbolo de força e de inteligência, sustentando um candelabro que arremata na parte superior com uma coroa de louro, sobre a qual pousa um dragão alado, timbre da ilustre casa de Bragança; nestas coroas se ligam, por magníficas bordas, as abas do manto, deixando cair para os lados em amplas pregas a rica franja, e deixando ver a riqueza interna.
O Sr. Leger compreendeu otimamente o risco do Sr. Porto Alegre.
No arco que acoberta o Trono está à direita um medalhão representando o perfil do Imperador D. Pedro I, e à esquerda o do Imperador D. João VI.
Sobre o fundo do mesmo arco vê-se um Gênio, conduzido por uma águia, símbolo da realeza, descendo com um ramo de palma em uma mão e uma coroa na outra, e olhando para o Imperador.
No lado fronteiro ao Trono, o espaço compreendido pelo arqueamento do teto e pela cimalha interior é ocupado por um quadro de sessenta palmos de comprido, o qual representa alegoricamente os faustíssimos resultados da ascensão do Monarca ao Trono, e a glória do seu reinado.
Os quadros laterais por cima das galerias representam os dois maiores fatos da Independência do Brasil. O quadro da galeria do Amazonas representa o grito de - Independência ou Morte - no Ipiranga; é composto pelo Sr. Porto Alegre e executado pelo Sr. Reis Carvalho e Motta. O outro, que representa o dia 9 de Janeiro é todo do pincel do Sr. Porto Alegre.
Pavilhão do Prata
Passando à galeria do Prata, nela se renova a sensação que tivemos na do Amazonas pela continuação da leitura de mais outras notabilidades do país. Ali se encontram:
Pedro Álvares Cabral, o descobridor do Brasil; o guerreiro e político fluminense Salvador Correia de Sá; B.L. de Gusmão, o inventor dos balões aerostáticos, e seu grande irmão Alexandre de Gusmão, ambos ilustrados pela sábia pena do Exm.º Visconde de S. Leopoldo; Amador Bueno, que recusou a Coroa do Brasil; o mavioso lírico Gonzaga; Hipólito, o escritor do Correio Braziliense, e irmão de uma nossa notabilidade científica; Antônio José de Morais, o mestre da língua portuguesa; o Índio Maneco, e seu colega Abreu, ambos o terror de Artigas; o General Câmara; o famoso Visconde de Cairu, e seu ilustre irmão Baltazar da Silva Lisboa; Monsenhor Pizarro, que tanto ilustrou a história da Pátria; o General Curado; Rafael Pinto Bandeira, cujos prodígios o fizeram passar por ter pacto com o diabo; Camarão; o autor do Caramuru, Santa Rita Durão; Padre Ângelo; Paes Leme, o descobridor de Minas; M.A. de Sousa; José de Oliveira, o maior dos pintores brasileiros, autor do teto da igreja de S. Francisco; D. Marcos Teixeira; Almeida Serra, companheiro de Silva Pontes, assim como Lacerda; Calderon, e o insigne e melancólico José Maurício; Azeredo Coutinho, o Conde Bispo de Coimbra; o fecundo orador Sampaio, e o Padre Antônio Vieira; Cláudio Manoel da Costa, esse infeliz gênio, companheiro de infortúnio de Gonzaga e outros.
O pavilhão do Prata se assemelha ao do Amazonas, exceto no teto e nas cores das paredes: nota-se nele uma grinalda de flores da mão do Sr. Carvalho, que o coloca no número dos bons floristas.
No friso se acham gravados os nomes dos rios e cidades principais do Sul com os mesmos atributos que notamos no pavilhão do Amazonas.
Rios: - Tietê, Paraíba, Paranapanema, Guaíba, Paraná, Doce, S. Francisco, Negro.
Cidades: - Rio Pardo, Rio de Janeiro, S. Paulo, Pelotas, Desterro, Barbacena, Mariana, Campos, Cabo Frio, Porto Alegre, Angra, Ouro Preto.
Na pequena galeria que dá ingresso à varanda do passadiço, e que une a este o pavilhão do Prata, lê-se no meio do friso, em letras de outro, esta sublime inscrição - Deus salve o Imperador -, e dos lados ainda se encontram oito nomes bem ilustres e bem caros ao Brasil!
O Conde da Barca, o Marquês do Lavradio, João Pereira Ramos, o Desembargador Mosqueira a quem o Brasil deve a sua elevação à categoria de reino: Canto, o conquistador das Missões: o Marquês de Aguiar, que abriu os portos aos estrangeiros, o introdutor da pimenta da Índia e mais plantas exóticas no Brasil; e, finalmente, Luiz de Vasconcelos, cujo nome basta para uma recordação saudosa.
Quarenta e três lustres, duzentas arandelas, vinte e cinco lâmpadas e uma infinidade de globos pendem do teto desta vasta galeria: ricas alcatifas se estendem por toda a sua superfície até às escadas, com uma observação particular, que a estrada do Imperador, do Trono ao peristilo, é marcada sobre a alcatifa por uma finíssima tela de prata, orlada de galão de esteira de ouro.
Despesas
O Governo Imperial comprou tudo, e a despesa do edifício não monta a cem contos de réis.
Manoel de Araúgo Porto Alegre
Transcrevendo a descrição deste magnífico monumento, não podemos deixar de tributar os maiores elogios ao distinto artista brasileiro o Sr. Manoel de Araújo Porto Alegre, pintor da Câmara, diretor arquiteto e pintor deste suntuoso edifício.
Todas as pinturas são compostas por ele e executadas por seus discípulos, à exceção dos quadros alegóricos do teto e do quadro de sessenta palmos da arquivolta.
Fonte: (Jornal do Commercio; de 20 de julho de
1841) Matéria enviada por: José Eduardo de Oliveira Bruno - SP,
junho de 2004.
- Fim da explanação pela imprensa local.
Os Símbolos do Império
A
historiadora Lilia Moritz Schwarcz,
em seu brilhante livro, As Barbas do Imperador, descreve o que representavam os
novos símbolos e insígnias do nascente Império:
A
eficácia dos novos símbolos — a espada, o cetro, o manto, o mantelete, a coroa
— garante a força da “tradição imperial”,
recém inventada.
A Constituicao
A
Constituição do Império continha nos ângulos esferas armilares e foi escrita
com uma caligrafia exemplar.
Joias do Império do Brasil
A coroa imperial de d. Pedro II é talvez a peça mais rara e
valiosa das coleções nacionais. Esplêndida obra de ourivesaria brasileira, feita por Carlos Marin, foi fabricada especialmente para a sagração e coroação do jovem imperador que contava então 15 anos de idade.
Fornecedor da Casa Imperial, Carlos Marin produziu inúmeras joias e adereços, entre os quais o Globo Imperial, uma das insígnias majestáticas, e o Anel da Sagração de d. Pedro II.
Para a confecção das insígnias do imperador foram desmanchadas várias joias de família, conforme consta dos inventários do Arquivo da Mordomia da Casa Imperial, recolhido ao Arquivo Nacional.
Para a confecção da coroa foram aproveitados os brilhantes da coroa de seu pai, e um fio de pérolas, também herança paterna.
A Coroa
A Coroa do Império do Brasil, mais conhecida como Coroa de Dom Pedro II, fabricada
para uso do imperador Dom Pedro II
em 1831 como parte das Joias do Império do Brasil.
Substituiu a coroa de Dom Pedro I
e fez parte do antigo Brasão de armas do Brasil até 1889.
É propriedade do Estado brasileiro.
Fabricação
A Coroa de Dom Pedro II, esplêndida obra de ourivesaria brasileira,
foi fabricada pelo ourives Carlos Martin
ourives estabelecido à Rua do Ouvidor, 139,
Rio de Janeiro,
A peça ficou pronta
a 08 de julho de 1841, sendo exposta ao público sobre uma almofada de seda
branca coberta por uma redoma de cristal e cercada de luzes, para por em
evidência sua riqueza e brilho.
Para a confecção da coroa foram aproveitados os
brilhantes da coroa de seu pai D. Pedro
I, e um fio de pérolas, também herança paterna de D. Pedro II.
Toda a armação da coroa é trabalhada em ouro. A
base da coroa suporta oito semi-arcos encimados por uma cruz formando um Globus
Cruciger.
Ouro cinzelado, 639
brilhantes e 77 pérolas, altura: 0,310 m, diâmetro: 0,205 m peso: 1,955 g.
Depois de proclamada a República, foi a coroa
imperial guardada no Tesouro Nacional, lá permanecendo até 1943, quando foi
transferida ao recém-criado Museu
Imperial de onde, desde então, nunca saiu.
Entre 1988 e 1989, a CEF – Caixa Economica Federal,
fez a última perícia na coroa imperial, que avaliaram a peça em um milhão de
dólares.
Coroa Imperial
O Cetro Imperial
O Cetro Imperial, o
bastão símbolo do poder e autoridade do monarca, é juntamente com a Coroa
Imperial e as demais Joias da Coroa, um dos trabalhos de joalheria mais
importantes da América Latina.
Era utilizado somente em cerimônias solenes como
a Coroação e a Abertura e Fechamento da Assembleia Geral, acompanhado de toda
indumentária Imperial, com o manto e outras Joias da Coroa.
Era entregue por último durante a cerimônia,
após a entrega da Mão da Justiça.
O
cetro era de ouro maciço e media dois metros e meio, altura elevada para um
garoto de quinze anos. Dois olhos de brilhante destacavam-se na imagem da serpe,
símbolo dos Bragança presente no cerimonial brasileiro.
Fabricação
O Cetro Imperial
foi confeccionado pelo ourives fluminense Manuel
Inácio de Loiola, o mesmo que confeccionou a primeira Coroa Imperial para a
cerimônia de Coroação de Dom Pedro I
a 02 de dezembro de 1822, na Capela Imperial, no Rio de Janeiro. Foi usado por D. Pedro II.
Confeccionada
inteiramente em ouro e cravejada com brilhantes, altura: 2,500 m, peso: 2,5 10
g, terminando com uma Serpe, um dragão alado de duas patas, o símbolo da Casa
de Bragança após a ascensão ao Trono de Portugal em 1640.
Capitel em forma de
campana invertida, composta de folhagens estilizadas. Sobre o ábaco está
assentado um dragão, de asas espalmadas, e cauda revirada para cima, a boca aberta;
a língua farpada, móvel, e os olhos constituídos por dois brilhantes, colocados
na época da coroação de D. Pedro II.
Cinzeladura
primorosa, sobretudo o lavor do pêlo e das escamas do animal. O Cetro é uma
espécie de bastão de comando, insígnia da realeza.
A Espada Imperial
A espada, que havia pertencido a D. Pedro I, era de prata dourada e
tinha nas lâminas as armas portuguesas.
Na bandeja em que ela era carregada, constaria
também o livro constitucional com capa de veludo verde, coberto com um fitão da
Imperial Ordem do Cruzeiro.
A espada do imperador tinha uma cruz teutônica,
enriquecida de grossos brilhantes, e no punho lia-se “D. Pedro II”.
O Globo Imperial
O
globo imperial, insígnia indispensável nas sagrações de imperadores, era
composto de uma esfera armilar de prata, tendo na eclíptica, dezenove estrelas
de ouro, cortadas pela cruz da Ordem de Cristo:
- símbolo europeu, porém
adornado pelo céu do Brasil.
O Anel de Sagração
O anel, usado no dedo anular da mão direita,
incrustado de brilhantes, apresentava no centro dois dragões presos pela cauda.
A M ão de Gesso
A “mão da
Justiça”, baseada na mão direita do imperador, foi modelada em gesso por Marc Ferrez, logo após a sagração, e
distribuída aos grandes da corte, que passavam a expô-la em suas casas tal qual
um sinal de pertencimento à “boa
sociedade”.
Em 18 de julho de 1841, ás 11 horas da manhã, D. Pedro II, com então 15 anos, seguiu para Capela Imperial no Rio de Janeiro para ser coroado imperador do Brasil.
Cerimonial
Cercada de pompa e ostentação inspirados no Antigo Regime e a presença maciça da corte, ornamentada com os mais ricos trajes vistos num país tropical.
Da coroação seguiu-se para o banquete oficial da cerimônia, com serviço de mesa para 96 talheres, marcado para as seis da tarde, acompanhado por duas “ricas bandas de música”.
Às oito horas da noite, foi aberta a varanda e o paço imperial para quem estivesse decentemente vestido.
- Começava o beija-mão e a apresentação formal do imperador adolescente.
A s Comemorações
Dizem que mais de 12 mil pessoas passaram pelo paço neste primeiro dia e foram necessários mais alguns dias para dar conta de tamanha visitação.
- Um dia para receber as felicitações;
- A noite das iluminações;
- A visita ao Teatro de São Pedro de Alcântara;
- O baile da coroação.
A s Vestes doImperador
A cerimônia de coroação e as vestes que o imperador usou dão novos sentidos para um ritual ainda marcado por signos do Antigo Regime numa época de transição.
Em 16 de fevereiro de 1818, quando d. João VI, avô de Pedro II, foi aclamado numa cerimônia também bastante grandiosa. A festa de d. João, contudo, não contou com elementos indígenas como símbolo do Brasil ou mesmo da união entre os dois reinos, Brasil e Portugal.
Sua aclamação foi gloriosa, mas completamente ligada às tradições portuguesas.
Em 1822, poucos anos depois, D. Pedro I foi aclamado, sagrado e coroado imperador de um novo país, o Brasil, que então se separava de Portugal. A grande novidade na sua cerimônia, em relação à do seu pai, foi a sagração.
Ao mesmo tempo em que se coroava um novo imperador, nascia um novo país.
A sagração, portanto, precisava dar sentido a essas mudanças, imbuindo d. Pedro I de legitimidade política e religiosa para governar.
Foram criados símbolos nacionais como:
- Em 10 de dezembro de 1822, a Ordem Imperial do Cruzeiro do Sul.
- Em 29 de dezembro de 1829, a Imperial Ordem da Rosa, em comemoração ao seu casamento com d. Amélia.
As cerimônias de aclamação, sagração ou coroação funcionavam como espécie de teatro de corte, em que seus membros funcionavam a partir de determinados papeis pré-estabelecidos.
As roupas eram, portanto, fundamentais para passar a imagem do soberano e de seu poder recém-investido, assim como era importante estabelecer as imagens, retratos e pinturas que retratariam esse dia.
De cerimônias de coroação e trajes ainda ligados aos rituais do Antigo Regime, tanto D. Pedro I, que reinou por 49 anos, como a Rainha Vitória, que ficou no trono por 63 anos, tiveram tempo suficiente de vida e poder para verem o mundo se transformar radicalmente.
O
Traje
As cerimônias de coroação e apresentação do imperador seguiram a etiqueta europeia de coroação, com alguns toques tropicais, que davam a cor local para o ato.
A cerimônia de coroação foi pensada para destacar o poder de um império que, ainda jovem como seu regente, precisava dar sinais de consolidação.
- Os símbolos importavam - expressando-se nos cuidados com a festa, as roupas, a apresentação:
Manto
O imperador vestia um manto verde, com ramos de cacau e tabaco, símbolos da pujança econômica do país.
Sobre o manto, a murça, ou mantelete, feita com penas de galo-da-serra, representando as características indígenas do país.
O mantelete, que representava as aves da terra, se
aliava a outros símbolos associados aos índios para anunciar a tentativa de se
explicar o império brasileiro e a história do jovem país a um passado remoto e
aos habitantes originários.
Calças curtas presas no joelho, e brancas.
Meias
Assim como as meias, ressaltavam o restante do traje de gala imperial.
Vestido de Gala
A figura do imperador vestido de gala, com espada, cetro, coroa, manto e mantelete também vai ficar no imaginário social da monarquia, sendo lembrado e reclamado de tempos em tempos.
A memória do jovem imperador subindo ao trono, no
entanto, seria aos poucos substituída por novos signos de distinção e nobreza.
Saem, progressivamente, de cena o mantelete indígena, o manto, a coroa.
O uniforme militar de gala imperial; aparecem cada vez mais, ao longo do século, a casaca preta, a cartola, a camisa branca, as gravatas, a bengala e o relógio de bolso de ouro.
Estes também sinais de um novo tempo, de novas distinções e de pertencimentos de classe - d. Pedro alia-se assim, à alta aristocracia europeia do século XIX.
A corte brasileira, bem vestida, seguia também seus os cuidados que o protocolo imperial determinava para a ocasião.
A coroação de d. Pedro II era uma tentativa de marcar a entrada do país no rol de países civilizados, ao lado da Europa, e para isso nada seria economizado, nem materialmente, nem simbolicamente.
As roupas e a Cerimonia de Coroação remetiam ao tempo do Antigo Regime, numa tradição “modernizada”, num processo de invenção de tradições de um país ainda em formação.
Em junho de 1838, poucos anos antes de d. Pedro II ser coroado, a rainha Vitória, da Inglaterra, também ascendeu ao trono bastante jovem, aos 18 anos. Da mesma maneira que d. Pedro II, sua coroação significava um apaziguamento político e social, de tensões entre governo, corte e sociedade. Na ocasião, a rainha Vitória usou um vestido de seda branca, apoiada por todo o aparato que o cargo exigia: - a coroa, o cetro, o manto. Os símbolos de paz estavam por toda parte e a cerimônia também cercou-se de rituais para enaltecer a figura da jovem rainha. Dourado e vermelho davam o tom do poderio econômico da Inglaterra, que se expandia e multiplicava ao longo do século XIX.
- Tanto a cerimônia de coroação de d. Pedro II como a da rainha Vitória estabeleciam um elo com o passado de coroações reais do Antigo Regime. Os símbolos reais estavam mais do que aparentes, a cerimônia possuía um caráter religioso, ambos os monarcas imbuíam-se desse espírito para governar.
Se na Inglaterra o passado medieval e sagrado dos reis se sobressaía na cerimônia da rainha Vitória, no Brasil o uso de um mantelete confeccionado por índios legitimava o poder imperial sobre todos os povos do território conquistado pelos portugueses.
O segundo reinado não se compreenderia sem os barões, coronéis, comendadores e conselheiros. A imensa rede de títulos, comendas e patentes doura a sociedade, revelando, debaixo dos embelecos, rigoroso mecanismo de coesão de forças.
Na época da coroação, o Instituto Histórico e Brasileiro (IHGB), surgido em 1838, havia criado um concurso para premiar a melhor maneira de se contar a história do Brasil.
O naturalista Carl
Von Martius seria consagrado vencedor em 1847, colocando os indígenas como
um dos povos fundadores da nação.
A Moeda Comemorativa
Foi encomendada também uma moeda comemorativa da sagração, com um cacique coroando d. Pedro e pisando sobre um dragão, que representava a barbárie.
E projetam um futuro para o imperador e para o país.
Se, após a Revolução Francesa, as leis referentes
às vestimentas, as leis suntuárias, foram abandonadas, a distinção social
passaria a ser cada vez mais marcada por convenções não escritas na forma de
vestir.
No século XIX, no guarda-roupa masculino, ganharam espaço símbolos de pertencimento à aristocracia e alta burguesia na forma de casacas, cartolas, bengalas, relógios de bolso e roupas pretos, elementos que se misturam ao vestuário de industriais, homens de letras e capitalistas - roupas que seriam adequadas aos homens civilizados.
Deixar-se retratar usando esses símbolos significava bem mais do que se tornar apenas um cidadão, significava pertencer à elite e deixar isso claro.
Ao longo do século, as distinções sociais perderam as cores, como era de praxe no século XVIII, e passaram para a marca, o alfaiate, o corte - e, claro, para os acessórios: - além do relógio de bolso de ouro, a bengala de marfim e a cartola, a gravata e os lenços de seda.
No Brasil, era necessário forjar a ideia de nação e de nacionalidade. Nesse sentido, o país precisava civilizar-se. Para tanto criaram-se símbolos da nacionalidade espelhados na cultura europeia. D. Pedro II incentivava as artes e a ciência por meio de prêmios e de mecenato, através de instituições como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Academia Imperial de Belas Artes; inaugurava teatros, como o D. Pedro II, de 1875; patrocinava expedições geológicas como a de O Derby e Charles F. Hartt, e botânicas, como a de Auguste Glaziou ou cartográficas, como de Seybold, entre tantas outras atividades.
A roupa do imperador era, portanto, essencial para passar a ideia de que o país que se consolidava estava alinhado com as mais avançadas nações europeias. As roupas do imperador deveriam traduzir, portanto, a ideia de civilização do país.
Camila Borges, em seu livro O símbolo indumentário: distinção e prestígio no Rio de Janeiro (1808-1821), frisa a importância, no início do século, da cultura indumentária do Antigo Regime, ligada ao uso de uniformes militares e insígnias para a nobreza.
A Independência em 1822, afirmou o sociólogo Florestan Fernandes, ao romper com o estatuto colonial, criou condições de expansão da burguesia e, em particular, de valorização social do que ele chama de “alto comércio”. Uma parte considerável das potencialidades capitalistas da grande lavoura foi canalizada “para o crescimento econômico interno, permitindo o esforço concentrado da fundação de um Estado nacional, a intensificação concomitante do desenvolvimento urbano e a expansão de novas formas de atividades econômicas, que os dois processos exigiam”.
Na corte de D. Pedro II, com o dinheiro circulando por causa do comércio da venda de café e do fim do tráfico de escravos, esse processo refletiu-se tanto nas necessidades de remodelação urbana como no estabelecimento de hábitos, costumes e produtos importados, burgueses, vindos da Europa.
Florestan localiza o “nascimento” do burguês no Brasil ao longo do século XIX, durante o reinado de d. Pedro II. Para o sociólogo, o burguês teria surgido, no Brasil, como uma “entidade especializada, seja na figura do agente artesanal inserido na rede de mercantilização da produção interna, seja como negociante (não importando muito seu gênero de negócios: se vendia mercadorias importadas, especulava com valores ou com seu próprio dinheiro; as gradações possuíam significação apenas para o código de honra e para a etiqueta das relações sociais [...])”.
No Rio de Janeiro, os homens ligados ao comércio se destacaram desde o século XVIII, quando ocorreu um significativo aumento das trocas de produtos com Portugal, muitas vezes impulsionada pela mineração de Minas Gerais, do alto comércio ou do comércio de grosso trato.
A vinda da corte também aumentou o comércio da cidade e a quantidade de produtos disponíveis.
Luis Felipe Alencastro vai ressaltar a influência do fim do tráfico em 1850 para o incremento de capitais envolvidos no comércio e na importação de produtos.
O estabelecimento do Segundo Império na França (1852-1870), com Napoleão III, daria um novo tom de modernidade nas relações com o Brasil e confirmaria a influência francesa sobre a elite nacional, em especial os membros da corte.
Nesse sentido, a cidade do Rio de Janeiro teve um papel de primazia no estabelecimento de modelos de comportamento ligados ao vestir-se, à sociabilidade e ao consumo.
Norbert Elias ao pensar a sociedade de corte e sua decadência vai dizer que “os tipos de modelos conceituais voltados para a realidade que têm influência sobre o comportamento humano difere de acordo com a estrutura da própria realidade. Por conseguinte, a realidade dos cortesãos é diferente da dos profissionais burgueses”.
Nos longos reinados de Vitória e Pedro II, é possível observar o final das sociedades do Antigo Regime e a lenta ascensão da burguesia com o correr do século XIX.
D. Pedro e a rainha Vitória, da mesma maneira que Luis Felipe I (que foi rei de 1830 a 1848, quando abdicou), da França, tornaram-se monarcas burgueses, monarcas cidadãos, no rastro das agitações políticas do começo do século XIX.
Portanto, as roupas que usaram ao longo de seus reinados refletiram esse tempo cada vez mais “burguês”, eram espécies de aristocracias que se transformavam e perdiam os símbolos do Antigo Regime ganhando novos sinais de distinção ligados à expansão do capitalismo.
As mudanças na moda refletem e traduzem mudanças na sociedade.
No século XIX, vemos o fim de tradições ligadas ao Antigo Regime, como as leis suntuárias, ao mesmo tempo em que se surgem novos valores.
A corte de D. Pedro II, como a rainha Vitória que, ainda que jovem e desejosa de ostentar antigos símbolos da monarquia, passou a consumir de maneira crescente os símbolos dessa nova classe, que traduzia os ideais de civilização, criando novas tradições para a monarquia.
Em termos de roupas, isso se traduzia em cartolas, guarda-chuvas, crinolinas, chapéus e tecidos de qualidade, como a seda e o gorgurão.
Na rasteira dessas atitudes ligadas ao vestuário e ao mostrar-se em sociedade, vemos a proliferação de teatros, saraus, festas e reuniões, locais em que se poderia exibir os novos luxos da civilização.
Se D. Pedro II tornava-se cada vez mais um imperador vitoriano, sua corte lhe seguia o exemplo e tornava-se uma corte vitoriana e burguesa.
O novo século, com a vasta importação de produtos industrializados, estimulou o nascimento de outros hábitos e outras maneiras, consolidando novas formas de viver e pavimentando o caminho para outras transformações econômicas e culturais.
Com a vida na cidade, vieram para a corte um novo estilo de vida. Nas palavras de Richard Graham:
- A casaca, as calças e o preto.
Esses foram os três elementos que compuseram a base da silhueta masculina no século XIX.
A partir dos anos 1850, D. Pedro II passou os anos de seu governo com casacas e calças pretas - eram sua vestimenta preferida e também a maneira com a qual gostava de ser retratado.
Mais do que uma imagem burguesa, ao vestir-se com calças e casacas pretas - e também com camisa branca, gravata, relógio de ouro e comendas - D. Pedro era o retrato do poder aristocrático no século XIX.
Era, portanto, muito mais do que imperador cidadão, era um imperador do mundo, espelhando homens poderosos de outras cortes e de outros impérios.
No retrato feito por Delfim Câmara em 1875, ele foi retratado como a face pública do império.
Muitas de suas roupas, e provavelmente o que vestia para posar para o retrato, vinha do alfaiate inglês Henry Poole, pois D. Pedro II havia visitado seu estabelecimento em 1871, por ocasião de sua primeira visita à Inglaterra.
Na visita que fez a Poole, D. Pedro comprou 1 par de calças pretas, 2 casacas, 3 coletes de casimira, 4 pares de casacos de angola, 5 sobrecasacas de angola, 6 coletes de seda com gola, 8 coletes de seda sem gola e 9 calças de angola.
As cerimônias de coroação e apresentação do imperador seguiram a etiqueta europeia de coroação, com alguns toques tropicais, que davam a cor local para o ato.
Boa parte da indumentária foi especialmente
concebida e feita para a ocasião, a não ser o traje, que havia pertencido a Francisco I da Áustria, o avô de Pedro II.
D. Pedro II estava vestido para se tornar imperador. Um imperador
tropical, diferente de seus pares europeus, mas ainda assim um imperador da
melhor tradição europeia.A cerimônia de coroação foi pensada para destacar o poder de um império que, ainda jovem como seu regente, precisava dar sinais de consolidação.
- Os símbolos importavam - expressando-se nos cuidados com a festa, as roupas, a apresentação:
Manto
O imperador vestia um manto verde, com ramos de cacau e tabaco, símbolos da pujança econômica do país.
O manto do novo representante do Império, todo em
veludo verde com tarja bordada, semeado de estrelas de ouro, dragões e esferas,
e forrado de cetim amarelo, lembrava as cores e emblemas das casas de Habsburgo
e Bragança e teria sido confeccionado em trinta dias, por senhoras da elite.
A escolha do verde americano para a cor do manto era
também uma homenagem ao Novo Mundo, assim como a forma de poncho, numa
referência às “vestimentas da terra”.
ManteleteSobre o manto, a murça, ou mantelete, feita com penas de galo-da-serra, representando as características indígenas do país.
Luvas
As luvas do monarca foram feitas com seda e bordadas
com as armas do Império.
CalcasCalças curtas presas no joelho, e brancas.
Assim como as meias, ressaltavam o restante do traje de gala imperial.
Vestido de Gala
A figura do imperador vestido de gala, com espada, cetro, coroa, manto e mantelete também vai ficar no imaginário social da monarquia, sendo lembrado e reclamado de tempos em tempos.
O uniforme militar de gala imperial; aparecem cada vez mais, ao longo do século, a casaca preta, a cartola, a camisa branca, as gravatas, a bengala e o relógio de bolso de ouro.
Estes também sinais de um novo tempo, de novas distinções e de pertencimentos de classe - d. Pedro alia-se assim, à alta aristocracia europeia do século XIX.
A corte brasileira, bem vestida, seguia também seus os cuidados que o protocolo imperial determinava para a ocasião.
A coroação de d. Pedro II era uma tentativa de marcar a entrada do país no rol de países civilizados, ao lado da Europa, e para isso nada seria economizado, nem materialmente, nem simbolicamente.
As roupas e a Cerimonia de Coroação remetiam ao tempo do Antigo Regime, numa tradição “modernizada”, num processo de invenção de tradições de um país ainda em formação.
Traje Imperial
A Imprensa
Em 21 de junho de 1838, uma quinta-feira, O
Cronista escreveu sobre a educação que o jovem príncipe recebia:
O que é um rei-cidadão? Será esse Luis Filipe [...]? oh! Se
é este rei-cidadão, esse chamamos rei forte, se queremos nós, se querem todos
os brasileiros: um monarca forte que refreie as ambições dos descontentes e
reprima o fanatismo das massas, um monarca capaz de conciliar liberdade com
ordem, com paz interna, com o desenvolvimento do país, com sua glória artística
e literária.
Em meados de 1841, meses
antes da celebração da cerimonia de coroação e sagração do príncipe regente D. Pedro II a imprensa periódica do
império já noticiava e comentava o fato.
O jornal
Diário do Rio de Janeiro, na edição 00157, de 19 de julho de 1841 publicava
a seguinte nota:
18 de julho - A SAGRAÇÃO E COROAÇÃO DO SENHOR D. PEDRO
II
Teve
logar a cerimônia augusta, a solemne invocação da divindade para que se digne
derramar os thesouros de sua infinita bondade sobre o reinado do Sr. D. Pedro
2º, aclamado em 7 de abril de 1831 imperador do Brasil o seu defensor perpétuo;
a consagração religiosa é um acto importante para o christão; a política fria e
severa não a desdenha, pelo contrário a applaude e preside a ella...
Conforme Tatiane
Rocha de Queiroz, *Doutoranda do Departamento de História da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (A cerimônia de coroação e sagração de D.
Pedro II na impressa periódica regressista e progressista no RJ (1840 – 1842),
os três periódicos que durante o seu período de circulação na cidade do Rio de
Janeiro entre os anos de 1840 a 1842, defenderam cada um a seu turno a bandeira
e os projetos políticos do grupo político o qual seus editores eram coligados:
os regressistas e progressistas. Era o momento de aliar projetos, ideias,
discursos e rituais políticos ao espaço articulativo dos periódicos.
Defendendo os argumentos regressistas temos O Brasil
criado pelo intelectual Justiniano José
da Rocha e Firmino R. da Silva
em 1840 (CARDIM, 1964, p.16) a pedido do então Ministro da Justiça, Visconde do Uruguai, para debater e
defender as ideias do grupo regressista frente aos periódicos defensores das
ideias progressistas.
Era o momento em que o tema da Maioridade estava
sendo amplamente debatido na imprensa de todo o Império. Do lado progressista
temos os periódicos O Maiorista e O Despertador Diário Comercial, Político, Cientifico, Literário ambos
redigidos por Francisco Sales Torres
Homem. Enfim, a nossa escolha documental está pautada no fato desses
periódicos terem sido contemporâneos no seu período de circulação. Criando uma
rede de significados e argumentos que os fortalecia como protagonistas
políticos e como grupo de ação.
Esses periódicos dialogavam entre si acerca de suas
bandeiras e projetos políticos ao ponto de construírem significados e
identidades. Os diálogos entre as folhas eram feitos por meio da citação e ou
compilação de artigos ou de trechos destes publicados nos periódicos
opositores.
Dependendo do tema comentado e ou criticado, o
redator do jornal começava sua reportagem fazendo alusão aos argumentos e
ideias de outro periódico que tanto podia circular na Capital do Império como
em outra província do Império.
Suas estruturas eram semelhantes eram de formato
pequeno, continham quatro páginas de texto, suas primeiras páginas continham o
título, a data, o número de publicação, o nome da tipografia e do seu endereço.
A primeira matéria dos periódicos servia de pano de fundo ou de introdução das
questões a serem discutidas naquele número. Eram textos altamente críticos e
irônicos que ocupavam uma ou duas páginas do jornal. Os demais artigos tratavam
de assuntos políticos mais específicos como – situação provincial, o senado,
orçamento imperial.
No geral, todas as matérias dos periódicos, eram
marcadamente caracterizadas pela disputa, pelo tom enérgico e crítico de seu
redator. Entre uma reportagem e outra, havia apenas um pequeno traço, que
indicava o fim e começo de outro assunto.
Os
festejos duraram quatro dias, encerrando-se no dia 24 com um baile de gala,
onde ele reuniria toda a sua Corte recém-constituída nos trópicos.
Na
medida em que nessas ocasiões cabia ao imperador conceder remunerações, honras
e títulos. Atitude controversa, pois regressistas e progressistas questionaram
em seus jornais a natureza dos nomes que recebam titulações e ou honras durante
os festejos.
Ambos
os periódicos neste período não se ocuparam em falar de dissabores entre grupos
políticos, e sim em relatar os festejos da coroação de D. Pedro.
Em
suma, podemos concluir que toda a discussão feita pela impressa periódica em
torno da Coroação de D. Pedro II. Ajudou-nos
a compreender a disputa política em voga naquele momento em que se procurava
legitimar e dar novo significado ao Estado que estava sendo configurado,
pós-golpe da Maioridade.
De forma que, ambos os periódicos em suas
reportagens além de tratar do significado da coroação pela coroação, acabavam
por outro lado demonstrando que o que estava em jogo era a ação política que
cada grupo teria nesse nosso Estado. Ou seja, qual papel caberia a cada grupo.
Afirmação do Império
A cerimônia régia de sagração e coroação de D. Pedro II ao Império do Brasil,
ocorrida em julho de 1841, este evento ‘’ritualístico’’
e ‘’simbólico’’, realizado nas
vésperas do golpe da maioridade completar um ano, permitiu a legitimação e o
fortalecimento do primeiro monarca ‘’genuinamente’’
brasileiro. E para tal, foi preciso criar uma rede de significados, de
símbolos, de imagens que o diferenciasse dos seus consortes, como também
reforçar a hierarquia existente. As festas, procissões eram necessárias, pois
elas se tornavam ‘’instrumentos
estratégicos na afirmação quase diária da realeza’’. (SCHWARCZ, 2001, p.
50).
Não há movimento político, de partido ou regime, que
deixe de recorrer à série de atos solenes, repetitivos e codificados, de ordem
verbal, gestual e postural, de forte conteúdo simbólico. Com o real objetivo de
legitimar e ou exibir uma identidade a qual ela gostaria de demarcar, gravar no
imaginário social dos demais. Era um momento de afirmação, de construção de um
modelo que deveria ser seguido pelos demais. E para isso eles montavam um
calendário festivo que ia de janeiro a dezembro, sem interrupções.
Celebravam-se aniversários de nascimentos e
falecimentos, datas cívicas, bodas, datas relativas à morte, nascimento ou
canonização dos santos padroeiros, sagração, além de qualquer outra data que
passasse a marcar de alguma forma o cotidiano da família imperial (RIVIERE,
1989, p. 10).
As questões alentadas pelos editores ou estavam
relacionadas com os gastos de tal celebração, sua demora ou com a importância
de tal evento para a legitimação e conformação do Estado Imperial pós-
antecipação da Maioridade. Era o momento em que cada um deveria saber o seu
lugar, aprender a se comportar, de se estabelecer relações de troca de favores
que predominava nas relações políticas e sociais da época. Nessas cerimonias
cabia ao monarca conceber remunerações, honras e distinções, em recompensa de
serviços, na conformidade da lei e procedendo a aprovação da Assembleia Geral.
(SHWARCZ, 2001, p. 60).
No periódico de bandeira regressista (ROCHA, 1841,
p. 03) nos primeiros meses do ano de 1841, vez ou outra, Justiniano J. da Rocha comentava ou criticava algum fato relativo
ao cerimonial. Por exemplo, em uma reportagem intitulada a coroação de
fevereiro, ele relatava que comentava- se em segredo a todo mundo que a
coroação de S. M. I não seria realizada em maio daquele ano, como se havia
determinado, mas em julho, no aniversário da declaração da maioridade. O que de
acordo com a reportagem era uma atitude bem calculada, já que o gabinete maiorista
não sendo maioria na câmara usaria deste ato solene, época de graças, para sim
poder, com promessas, com hábitos, de comenda, de títulos, agenciar alguns
votos e obrigar alguns representantes da nação o silêncio.
Enfim, através desta reportagem percebemos que o
redator do O Brasil, mais do que
relatar o adiamento e a demora em se fazer a cerimônia de coroação do príncipe
regente, salienta a possibilidade dela ser feita no período em que o golpe
completaria um ano. Ou seja, era uma forma de alinhar as atitudes do gabinete
progressistas as do Imperador recém-coroado e consagrado.
Assim como a imprensa regressista comentou e chamou
a atenção para a demora em se celebrar a coroação do príncipe, a imprensa
progressista (HOMEM, 1841, p. 03) também o fez no mês de junho.
No entanto,
período este em que não se encontrava mais ao lado de D. Pedro. Desde março, o gabinete maiorista tinha sido substituído
por representantes do grupo regressista.
Outro tema caro a imprensa naquele momento girou em
torno dos gastos públicos, como podemos verificar na reportagem Os festejos da
Coroação veiculada no periódico regressista.
Nela Justiniano
J. da Rocha relata que o ministério se descuidou em pedir as câmaras a
necessária autorização para despender com os festejos da coroação. Avultadas
quantias, que oneram já o exausto tesouro público com despesas superiores a
centena de contos de réis.
Dinheiro gasto em luminárias, foguetes e arcos
triunfais. No momento em que esta reportagem foi escrita, o gabinete maiorista
ainda estava no poder e coube ao redator do O Brasil criticá-los ao apontar os gastos feitos para preparar a
cidade do Rio de Janeiro para os festejos da coroação do novo Imperador do
Império.
Já na imprensa progressista, não encontramos
reportagens que tratassem dos gastos públicos referentes aos preparativos dos
festejos cerimoniais.
A cidade precisava ser preparada, transformada em um
elemento de representação que marcaria a vitória da civilização sobre o mundo ‘’bárbaro’’. Sobre suas ruas passaria o
rei coroado e consagrado, juntamente com o seu séquito de iguais. Seu objetivo
era o de construir e perpetuar no imaginário da população a imagem de uma
monarquia separada, superior e legítima.
Quanto à questão litúrgica da cerimonia de coroação,
encontramos uma reportagem (ROCHA, 1841, 03) no periódico regressista em que
seu redator se propôs explicar a diferença entre coroação e aclamação. Pois,
para ele os diretores dos festejos estão confundindo o ato político de coroar
com o ato religioso de aclamar. Segundo Justiniano
nesta reportagem, os audazes conquistadores do poder queriam por força
legitimar suas atitudes e o próprio golpe da maioridade. E que ela só teria
sentido se tivesse sido feita no dia em que entrou no gozo das atribuições que
a constituição lhe conferiu.
Mas, nunca no dia em que o imperador vem receber da
autoridade eclesiástica a confirmação religiosa de sua dignidade. Como podemos
averiguar:
(...)
a coroação é a confirmação religiosa de um ato puramente civil, completo em sua
essência. Obrigatório por si mesmo. (...) Como, pois, sustentar essa ficção, a
vista do que foi dito? (ROCHA, 1841)
Ou
seja, o grande ‘’problema’’ não era o
ato de o Imperador ser aclamado, se tornar o ungido do senhor. E sim no
significado atribuído a ela naquele momento. Por que então que ela não foi
feita em julho de 1840, momento em que ele foi empossado seria ele aclamado
duas vezes?
‘’
Mas o que fazer se os Srs. Menezes,
Frias e Leonardo querem por
força vestir-se a caráter no dia da coroação, representarem o seu papel!’’
(ROCHA, 1841).
Salientamos
que D. Pedro I em sua cerimonia de
coroação também foi aclamado. De acordo com OLIVEIRA (2007) tratava-se de um
cerimonial de afirmação da autonomia política do Brasil, perante Portugal, o
que trousse elementos definidores do poder político atribuído a D. Pedro que procurava fazer frente
tanto as Cortes portuguesas quanto as demais forças políticas da província.
Por
fim, atribuía-se uma aura solene e litúrgica ao ato político.
Em junho de 1838, poucos anos antes de d. Pedro II ser coroado, a rainha Vitória, da Inglaterra, também ascendeu ao trono bastante jovem, aos 18 anos. Da mesma maneira que d. Pedro II, sua coroação significava um apaziguamento político e social, de tensões entre governo, corte e sociedade. Na ocasião, a rainha Vitória usou um vestido de seda branca, apoiada por todo o aparato que o cargo exigia: - a coroa, o cetro, o manto. Os símbolos de paz estavam por toda parte e a cerimônia também cercou-se de rituais para enaltecer a figura da jovem rainha. Dourado e vermelho davam o tom do poderio econômico da Inglaterra, que se expandia e multiplicava ao longo do século XIX.
- Tanto a cerimônia de coroação de d. Pedro II como a da rainha Vitória estabeleciam um elo com o passado de coroações reais do Antigo Regime. Os símbolos reais estavam mais do que aparentes, a cerimônia possuía um caráter religioso, ambos os monarcas imbuíam-se desse espírito para governar.
Se na Inglaterra o passado medieval e sagrado dos reis se sobressaía na cerimônia da rainha Vitória, no Brasil o uso de um mantelete confeccionado por índios legitimava o poder imperial sobre todos os povos do território conquistado pelos portugueses.
O Segundo Reinado do Império do Brasil deveria ter
uma nova face, representando o jovem monarca e a nova era que se iniciava.
O Encerramento
Em 24 de julho de 1841, depois de 4 dias, as
comemorações de coroação encerraram-se, com um grande Baile de Gala no Paço da Boa Vista, entre bordados, leques,
perfumes e cristais.
Chamava a atenção dos presentes a beleza do anel da
sagração e a coroa que o jovem imperador do reino tropical ostentaria a partir
de então. Produzidas com esmero, especialmente para o momento, foram
reconhecidas como esplêndidas peças de ourivesaria, que fariam parte, ao lado
de outras joias, do Tesouro Real.
Para aqueles convidados que, valsando felizes, na
lógica do momento, a vida era tão rara.
A Realidade do Reinado
Encerrados os festejos da sagração e da coroação do
jovem monarca, alguns possivelmente refletiram sobre as consequências após a Campanha da Maioridade ter alcançado
êxito.
O segundo reinado não se compreenderia sem os barões, coronéis, comendadores e conselheiros. A imensa rede de títulos, comendas e patentes doura a sociedade, revelando, debaixo dos embelecos, rigoroso mecanismo de coesão de forças.
O governo pessoal de D. Pedro II durou de 1840 até 1889 e foi o mais longo da História
do Brasil: um poder que, durante esse período, se agigantou no espaço da corte
no Rio de Janeiro.
Porém, não “alcançaria
as municipalidades e mal atingiria as províncias”.
Segundo o historiador José Murilo de Carvalho:
“Era
um poder em que a Coroa, passada a crise, se legitimou com Poder Moderador e
tudo”
A partir dos anos 1850, D. Pedro II
se dedicou a difundir a civilização (conceito civilizatório) por meio do
desenvolvimento de um projeto cultural que atingiu todo o país. Tornava-se
necessário criar uma cultura para a nação brasileira, que expressasse os
sentimentos tidos como nacionais: – uma
monarquia tropical, sediada no Município Neutro – exceção no contexto da
América, rodeada de repúblicas hispânicas por todos os lados.
O Segundo Império foi marcado por alguns
acontecimentos decisivos, como o desenvolvimento da economia cafeeira, tendo
como base ainda o trabalho escravo, e de alguns setores da indústria, como a
construção de ferrovias.
Ao mesmo tempo, também houve o processo gradual de
extinção do trabalho escravo, ainda que o Brasil tenha sido o último país
ocidental a abolir a escravidão.
A
garantia da integração territorial nacional, a Guerra do Paraguai e o
fortalecimento do Exército Brasileiro também ocorreram sob o reinado de Pedro II.
Após a Revolução Francesa, as leis suntuárias foram
praticamente abolidas e a distinção social passou a ser cada vez mais marcada
por convenções não escritas na forma de vestir tanto na Europa como no Brasil.
A Fala
do Trono
Pedro Américo
Momento que Dom Pedro II convoca
a Assembleia e o Senado, 1872
Nota:
- A pintura "Dom Pedro II na Abertura da Assembléia Geral",
título original, ou "Dom Pedro II por ocasião da Fala do Trono", como
é conhecido o quadro de autoria de Pedro Américo de Figueiredo e Melo, datado
de 1872, representa d. Pedro II na abertura da Assembleia Geral, cerimônia que
reunia, duas vezes ao ano, o Senado e a Câmara dos Deputados do Império.
A cerimônia retratada teve lugar em 03 de maio de 1872. A "Fala do Trono"
era o discurso do imperador, na abertura e no encerramento dos trabalhos da
Assembleia. Esta era a única ocasião em que d. Pedro II era visto portando a
coroa imperial, o cetro e o traje majestático.
Na tela estão representadas figuras importantes do cenário político do
Império, como o visconde de Abaeté, Antonio Paulino Limpo de Abreu que era
presidente do Senado; o marquês, depois duque de Caxias, Luís Alves de Lima e
Silva; e o visconde do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos que era também
presidente do Gabinete e ministro da Fazenda. Na tribuna estão a imperatriz d.
Teresa Cristina, a princesa Isabel e o conde d'Eu e, ao fundo, Joaquim Marques
Lisboa, o marquês de Tamandaré.
A
História do BrasilNa época da coroação, o Instituto Histórico e Brasileiro (IHGB), surgido em 1838, havia criado um concurso para premiar a melhor maneira de se contar a história do Brasil.
A Moeda Comemorativa
Foi encomendada também uma moeda comemorativa da sagração, com um cacique coroando d. Pedro e pisando sobre um dragão, que representava a barbárie.
E projetam um futuro para o imperador e para o país.
Emperor Pedro II of Brazil with his grandson Pedro
Augusto and his wife Teresa Cristina,
1887, Photographer Jungmann, Coleção Princesa
Isabel: Fotografado século XIX
Novos Hábitos
Vestimentas do Imperador
O terror provocado pela Revolução Francesa no século
XVIII e as sucessivas revoltas em Paris no século XIX, bem como o
aprofundamento da Revolução Industrial, do liberalismo, do sentimento nacional
e do romantismo, transformariam a sociedade e deixariam marcas nos trajes dos
monarcas.No século XIX, no guarda-roupa masculino, ganharam espaço símbolos de pertencimento à aristocracia e alta burguesia na forma de casacas, cartolas, bengalas, relógios de bolso e roupas pretos, elementos que se misturam ao vestuário de industriais, homens de letras e capitalistas - roupas que seriam adequadas aos homens civilizados.
Deixar-se retratar usando esses símbolos significava bem mais do que se tornar apenas um cidadão, significava pertencer à elite e deixar isso claro.
Ao longo do século, as distinções sociais perderam as cores, como era de praxe no século XVIII, e passaram para a marca, o alfaiate, o corte - e, claro, para os acessórios: - além do relógio de bolso de ouro, a bengala de marfim e a cartola, a gravata e os lenços de seda.
No Brasil, era necessário forjar a ideia de nação e de nacionalidade. Nesse sentido, o país precisava civilizar-se. Para tanto criaram-se símbolos da nacionalidade espelhados na cultura europeia. D. Pedro II incentivava as artes e a ciência por meio de prêmios e de mecenato, através de instituições como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Academia Imperial de Belas Artes; inaugurava teatros, como o D. Pedro II, de 1875; patrocinava expedições geológicas como a de O Derby e Charles F. Hartt, e botânicas, como a de Auguste Glaziou ou cartográficas, como de Seybold, entre tantas outras atividades.
A roupa do imperador era, portanto, essencial para passar a ideia de que o país que se consolidava estava alinhado com as mais avançadas nações europeias. As roupas do imperador deveriam traduzir, portanto, a ideia de civilização do país.
Camila Borges, em seu livro O símbolo indumentário: distinção e prestígio no Rio de Janeiro (1808-1821), frisa a importância, no início do século, da cultura indumentária do Antigo Regime, ligada ao uso de uniformes militares e insígnias para a nobreza.
“Se o Antigo Regime é compreendido como um sistema político
e social em que cada pessoa deve ser entendida como ocupante de um lugar na
hierarquia da sociedade, sua cultura indumentária expressa os lugares sociais a
que cada um pertence. Evidentemente que, tratando-se do início do século XIX,
este era um mundo em decomposição, não existindo um controle total sobre a
utilização desses signos.”
A Independência em 1822, afirmou o sociólogo Florestan Fernandes, ao romper com o estatuto colonial, criou condições de expansão da burguesia e, em particular, de valorização social do que ele chama de “alto comércio”. Uma parte considerável das potencialidades capitalistas da grande lavoura foi canalizada “para o crescimento econômico interno, permitindo o esforço concentrado da fundação de um Estado nacional, a intensificação concomitante do desenvolvimento urbano e a expansão de novas formas de atividades econômicas, que os dois processos exigiam”.
Na corte de D. Pedro II, com o dinheiro circulando por causa do comércio da venda de café e do fim do tráfico de escravos, esse processo refletiu-se tanto nas necessidades de remodelação urbana como no estabelecimento de hábitos, costumes e produtos importados, burgueses, vindos da Europa.
Florestan localiza o “nascimento” do burguês no Brasil ao longo do século XIX, durante o reinado de d. Pedro II. Para o sociólogo, o burguês teria surgido, no Brasil, como uma “entidade especializada, seja na figura do agente artesanal inserido na rede de mercantilização da produção interna, seja como negociante (não importando muito seu gênero de negócios: se vendia mercadorias importadas, especulava com valores ou com seu próprio dinheiro; as gradações possuíam significação apenas para o código de honra e para a etiqueta das relações sociais [...])”.
No Rio de Janeiro, os homens ligados ao comércio se destacaram desde o século XVIII, quando ocorreu um significativo aumento das trocas de produtos com Portugal, muitas vezes impulsionada pela mineração de Minas Gerais, do alto comércio ou do comércio de grosso trato.
A vinda da corte também aumentou o comércio da cidade e a quantidade de produtos disponíveis.
Luis Felipe Alencastro vai ressaltar a influência do fim do tráfico em 1850 para o incremento de capitais envolvidos no comércio e na importação de produtos.
“De fato, no ano de 1850, os fluxos do comércio externo
brasileiro conhecem uma rápida e decisiva reorientação. [...] Cessado o
tráfico, ocorre um retorno das divisas obtidas nas vendas de produtos de
exportação e até então reservadas para financiar a compra de africanos”.
O estabelecimento do Segundo Império na França (1852-1870), com Napoleão III, daria um novo tom de modernidade nas relações com o Brasil e confirmaria a influência francesa sobre a elite nacional, em especial os membros da corte.
Nesse sentido, a cidade do Rio de Janeiro teve um papel de primazia no estabelecimento de modelos de comportamento ligados ao vestir-se, à sociabilidade e ao consumo.
Norbert Elias ao pensar a sociedade de corte e sua decadência vai dizer que “os tipos de modelos conceituais voltados para a realidade que têm influência sobre o comportamento humano difere de acordo com a estrutura da própria realidade. Por conseguinte, a realidade dos cortesãos é diferente da dos profissionais burgueses”.
Nos longos reinados de Vitória e Pedro II, é possível observar o final das sociedades do Antigo Regime e a lenta ascensão da burguesia com o correr do século XIX.
D. Pedro e a rainha Vitória, da mesma maneira que Luis Felipe I (que foi rei de 1830 a 1848, quando abdicou), da França, tornaram-se monarcas burgueses, monarcas cidadãos, no rastro das agitações políticas do começo do século XIX.
Portanto, as roupas que usaram ao longo de seus reinados refletiram esse tempo cada vez mais “burguês”, eram espécies de aristocracias que se transformavam e perdiam os símbolos do Antigo Regime ganhando novos sinais de distinção ligados à expansão do capitalismo.
As mudanças na moda refletem e traduzem mudanças na sociedade.
No século XIX, vemos o fim de tradições ligadas ao Antigo Regime, como as leis suntuárias, ao mesmo tempo em que se surgem novos valores.
“Na sociedade democrática do século XIX, quando os desejos
de prestígio se avolumam e crescem as necessidades de distinção e liderança, a
moda encontrará recursos infinitos de torna-los visíveis”.
A corte de D. Pedro II, como a rainha Vitória que, ainda que jovem e desejosa de ostentar antigos símbolos da monarquia, passou a consumir de maneira crescente os símbolos dessa nova classe, que traduzia os ideais de civilização, criando novas tradições para a monarquia.
Em termos de roupas, isso se traduzia em cartolas, guarda-chuvas, crinolinas, chapéus e tecidos de qualidade, como a seda e o gorgurão.
Na rasteira dessas atitudes ligadas ao vestuário e ao mostrar-se em sociedade, vemos a proliferação de teatros, saraus, festas e reuniões, locais em que se poderia exibir os novos luxos da civilização.
Se D. Pedro II tornava-se cada vez mais um imperador vitoriano, sua corte lhe seguia o exemplo e tornava-se uma corte vitoriana e burguesa.
O novo século, com a vasta importação de produtos industrializados, estimulou o nascimento de outros hábitos e outras maneiras, consolidando novas formas de viver e pavimentando o caminho para outras transformações econômicas e culturais.
Com a vida na cidade, vieram para a corte um novo estilo de vida. Nas palavras de Richard Graham:
“Encanamentos e futebol, cerveja e pianos, guarda-chuvas e
bondes eram as vestes rituais e os instrumentos sagrados nos ritos de passagem
do tradicional para o moderno”.
- A casaca, as calças e o preto.
Esses foram os três elementos que compuseram a base da silhueta masculina no século XIX.
A partir dos anos 1850, D. Pedro II passou os anos de seu governo com casacas e calças pretas - eram sua vestimenta preferida e também a maneira com a qual gostava de ser retratado.
Mais do que uma imagem burguesa, ao vestir-se com calças e casacas pretas - e também com camisa branca, gravata, relógio de ouro e comendas - D. Pedro era o retrato do poder aristocrático no século XIX.
Era, portanto, muito mais do que imperador cidadão, era um imperador do mundo, espelhando homens poderosos de outras cortes e de outros impérios.
No retrato feito por Delfim Câmara em 1875, ele foi retratado como a face pública do império.
Muitas de suas roupas, e provavelmente o que vestia para posar para o retrato, vinha do alfaiate inglês Henry Poole, pois D. Pedro II havia visitado seu estabelecimento em 1871, por ocasião de sua primeira visita à Inglaterra.
Na visita que fez a Poole, D. Pedro comprou 1 par de calças pretas, 2 casacas, 3 coletes de casimira, 4 pares de casacos de angola, 5 sobrecasacas de angola, 6 coletes de seda com gola, 8 coletes de seda sem gola e 9 calças de angola.
Muito bom esse Blog. Acho que nossa história merece respeito, sobretudo quando se trata do período de D. Pedro II que a meu ver foi o melhor governante que esse país já teve.
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa.
Fernando Brandão dos Santos
Parabéns pelo post, super interessante!!!Faço uma pesquisa sobre os fardões e gostaria de saber em qual aquivo histórico vcs encontraram este jornal. Meu e mail é: clara.r.freesz@gmail.com
ResponderExcluirMuito obrigada
Parabéns!
ResponderExcluirParabéns!
ResponderExcluirmuito bom ,que viagem...
ResponderExcluirExcelente. Sou um assíduo leitor de história. Parabéns pelo Blog.
ResponderExcluirhttps://www.facebook.com/groups/saberreal/
ResponderExcluirBravo! Riquíssima pesquisa em fontes de difícil acesso. Muito útil.
ResponderExcluirParabéns. Muito completo.
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