Falas do Trono
A Abertura da Assembleia Geral do Império do Brazil
era um evento anual, que reunia o Senado e a Câmara dos Deputados para abertura
do período legislativo.
A Constituição já previa expressamente hipóteses de reunião,
em conjunto, das duas Câmaras.
A primeira delas era para o juramento do Imperador, bem como
dos Regentes, quando fosse o caso, em virtude de menoridade ou interdição do
monarca.
Previa-se ainda a própria eleição do Regente.
Outra hipótese eram as sessões anuais de abertura e
encerramento dos trabalhos da Assembleia Geral, chamadas “Imperiais” em virtude do
comparecimento do Imperador.
Finalmente, haveria reunião de ambas as Câmaras quando
houvesse divergência em relação a alguma proposição.
Falas do Trono
Ritual inaugurado por Dom Pedro I em 1823, era um acontecimento concorrido que acontecia no Palácio Conde dos Arcos, sede do Senado.
No evento, o monarca enunciava uma mensagem aos
parlamentares, conhecida como “Fala do Trono”, em que dissertava sobre o que
esperava dos senadores e deputados ao longo do ano que se iniciava.
O imperador falava sobre temas importantes da
política brasileira, sobre os problemas que o país enfrentava e propostas para
resolvê-los, assim como indicava metas para o período.
Abertura anual da Assembleia Geral por Dom Pedro II - RJ
Contida no livro
“Brazil and the brazilians portrayed in historical and descriptive sketches”,
de Daniel Parish Kidder. Obra Rara que integra o acervo
bibliográfico do Arquivo Nacional.
- Em ritual,
o Imperador elencava prioridades do Brasil.
D. Pedro II
Óleo de Pedro Américo - Abertura da Assembleia Geral
A pintura "Dom Pedro II na Abertura da Assembleia
Geral", título original, ou "Dom
Pedro II por ocasião da Fala do Trono", como é conhecido o quadro de
autoria de Pedro Américo de Figueiredo e
Melo, datado de 1872, representa d.
Pedro II na abertura da Assembleia Geral, cerimônia que reunia, duas vezes
ao ano, o Senado e a Câmara dos Deputados do Império.
A cerimônia retratada
teve lugar em 03 de maio de 1872.
A "fala do
trono" era o discurso do imperador, na abertura e no encerramento dos
trabalhos da Assembleia. Esta era a única ocasião em que d. Pedro II era visto
portando a coroa imperial, o cetro e o traje majestático.
Na tela estão
representadas figuras importantes do cenário político do Império, como o
visconde de Abaeté, Antonio Paulino Limpo de Abreu que era presidente do
Senado; o marquês, depois duque de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva; e o
visconde do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos que era também presidente
do Gabinete e ministro da Fazenda.
Na tribuna estão a
imperatriz d. Teresa Cristina, a princesa Isabel e o conde d'Eu e, ao fundo,
Joaquim Marques Lisboa, o marquês de Tamandaré.
De acordo com
Marcos Magalhães, historiador e
consultor legislativo do Senado, o ritual das Falas do Trono foi importante na
consolidação do Brasil, recém-emancipado, como nação:
— Para se
consolidar, uma nação precisa ser construída também no imaginário coletivo. As
imagens e os rituais, como as Falas do Trono, são fundamentais nesse processo.
Atualmente, o
presidente da República apenas remete a mensagem ao Poder Legislativo.
Em 02 de
fevereiro, primeiro dia do ano legislativo, a presidente da república Dilma Rousseff cumpriu o dever imposto
pela Constituição e enviou ao Congresso Nacional a Mensagem Presidencial. Trata-se do documento em que o governo faz
um balanço do ano que se encerrou e enumera as prioridades do país para o ano
que se inicia.
O ritual é
mais antigo do que se imagina.
Em 1823, foi Dom Pedro I quem o inaugurou. O
documento se chamava Fala do Trono.
No período
imperial, o monarca comparecia ao Palácio Conde dos Arcos, a sede do Senado, no
Rio de Janeiro, e proferia a Fala do Trono numa concorrida cerimônia, deixando
claro o que esperava dos senadores e deputados naquele ano.
Dom Pedro II herdou a tradição da Fala do Trono.
O Ritual
O termo Fala do Trono não é apenas metafórico.
O imperador lia o discurso de um trono posicionado com destaque no Palácio
Conde dos Arcos. Era uma das poucas ocasiões em que Dom Pedro II se paramentava com a coroa, o cetro, o manto e a murça
feita de penas de papo de tucano.
Havia todo um
cerimonial. Uma delegação de senadores e deputados recepcionava o monarca na
porta do palácio. A família imperial era acomodada num camarote à direita do
trono. Ao contrário de outros rituais, como o beija-mão, que acabaram sendo
abandonados com o passar das décadas, a Fala do Trono resistiu até o fim do
Império.
Nos nove anos
entre a abdicação de Dom Pedro I e a
subida de Dom Pedro II, os pronunciamentos
foram proferidos pelos regentes, entre eles o Padre Feijó.
Nas ocasiões
em que o segundo monarca esteve fora do Brasil, a missão de falar aos parlamentares
coube à Princesa Isabel.
Os discursos
invariavelmente começavam com o vocativo “augustos e digníssimos senhores
representantes da Nação”.
Patrimônio Histórico
Pouco antes
da queda da Monarquia, as folhas lidas pelos imperadores e regentes foram
encadernadas num volume único. Hoje amarelada pelo tempo, a versão original do Livro Falas do Trono está sob a guarda
do Arquivo do Senado, em Brasília-DF, protegida numa sala com controle de
temperatura e umidade.
Em dezembro,
a Unesco (braço da ONU para educação, ciência e cultura) reconheceu o valor
histórico do Livro Falas do Trono e
o incluiu na lista brasileira do Programa Memória do Mundo.
Só entram na
lista documentos e arquivos que sejam únicos ou raros, tenham grande
significado social, mereçam ser difundidos e exijam cuidados de conservação
para não se perderem.
No Brasil, a
Unesco também reconhece, por exemplo, o diário das viagens de Dom Pedro II, o acervo documental da
Guerra do Paraguai e os arquivos de Machado
de Assis.
O Programa
Memória do Mundo é repetido em vários países. Na Alemanha, a Unesco tombou a Bíblia de Gutenberg. Em Portugal, a Carta de Pero Vaz de Caminha narrando a
descoberta do Brasil.
Liberdade
de Imprensa
De acordo com
o historiador da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Juarez José Tuchinski dos Anjos, autor de um estudo sobre as
questões educacionais nas Falas do Trono, o tom dos pronunciamentos deixa
transparecer que os dois monarcas tinham temperamentos quase opostos:
— Dom Pedro I, que conduziu a
Independência e enfrentou muita oposição, tinha um espírito centralizador e
autoritário.
— Dom Pedro II, que chegou ao poder em
meio a revoltas e agitações políticas, mostrava-se apaziguador e conciliador.
Isso fica
claro na reação dos imperadores às críticas.
Em 1829, Dom Pedro I queixou-se aos
parlamentares do excesso de liberdade de imprensa no Império e pediu que se
reprimissem os “abusos”
dos jornais.
Dom Pedro II, ao contrário, sabia conviver com a
imprensa hostil. Eram frequentes nas páginas da Revista Ilustrada charges
mostrando o monarca senil, desinteressado da política e manipulado por seus
conselheiros.
Nem sequer as
Falas do Trono escapavam da pena zombeteira da revista.
Família Imperial
Sempre que
havia notícias na Família Imperial, elas eram anunciadas nas Falas do Trono.
Em 1826, a Imperatriz Leopoldina morreu. Dom Pedro I disse que uma “dor veemente” se
apoderara de seu “imperial
coração”.
Quatro anos
depois, ele comunicaria aos parlamentares que havia acabado de se casar “com a sereníssima Princesa
dona Amélia”.
Em 1845,
nasceu o primeiro filho de Dom Pedro II,
Dom Afonso.
— Este
primeiro fruto com que o céu abençoou o meu imperial tálamo [casamento],
enchendo de delícias o meu coração, já como pai, já como monarca, satisfez
igualmente os ardentes votos de toda a nação brasileira, que me ama e
sinceramente deseja a perpetuidade da dinastia do fundador do Império.
O príncipe,
porém, morreria com apenas 2 anos de idade.
Em 1847, o
imperador deu a notícia aos parlamentares afirmando que seu “paternal
coração” estava “ulcerado”.
No final de
1885, a Imperatriz Teresa Cristina
levou um tombo e quebrou um braço. Na abertura dos trabalhos do ano seguinte, Dom Pedro II avisou que ela já se
achava, “felizmente,
restabelecida” e agradeceu os “testemunhos de
afeto”.
- Alguns
exemplos da Fala do Trono nos vários períodos:
Primeiro Império
Discurso, que S. M o
Imperador Dom Pedro I, recitou na abertura da Assembleia Geral, Constituinte,
e Legislativa a 03 de Maio de 1823. (Grafia da época).
Dignos representantes
da nação brasileira,
É hoje o dia maior,
que o Brasil tem tido; dia, em que ele pela primeira vez começa a mostrar ao
Mundo, que é Império, e Império livre. Quão grande é Meu prazer, Vendo juntos
Representantes de quase todas as Províncias fazerem conhecer umas às outras
seus interesses, e sobre eles basearem uma justa e liberal Constituição, que as
seja. Deveríamos já ter gozado de uma Representação Nacional: mas a Nação não
conhecendo à mais tempo seus verdadeiros interesses, ou conhecendo-os, e não os
podendo patentear, vista a força, e predomínio do partido Português, que
sabendo muito bem a que ponto de fraqueza, pequenez , e pobreza Portugal já
estava reduzido, e ao maior grau a que podia chegar de decadência, nunca quis
consentir (sem embargo de proclamar Liberdade , temendo a separação) que os
Povos do Brasil gozassem de uma Representação igual aquela, que eles então
tinham. Enganaram-se nos seus planos conquistadores, e desse engano nos provem
toda a nossa fortuna.
O Brasil, que por
espaço de trezentos, e tantos anos sofreu o indigno nome de Colónia, e
igualmente todos os males provenientes do sistema destruidor então adoptado,
logo que o Senhor D. João VI, Rei de Portugal, e Algarve., Meu Augusto Pai o
elevou à categoria de Reino pelo Decreto de 16 de Dezembro de 1815, exultou de
prazer; Portugal bramiu de raiva, tremeu de medo. O contentamento, que os Povos
deste vasto Continente mostraram nessa ocasião, foi inaudito: mas atrás desta
medida política não veio, como devia ter vindo, outra, qual era a convocação de
uma Assembleia, que organizasse o novo Reino.
O Brasil sempre
sincero no seu modo de obrar, e mortificado por haver sofrido o jugo de ferro
por tanto tempo antes, e mesmo depois de tal medida, imediatamente, que em
Portugal se proclamou a Liberdade, o Brasil gritou Constituição Portuguesa;
assentando, que por esta prova, que dava de confiança a seus pseudo Irmãos,
seria por eles ajudado a livrar-se dos imensos vermes, que lhe roíam suas
entranhas; não esperando nunca ser enganado.
Os Brasileiros que
verdadeiramente amavam seu País jamais tiveram a intenção de se sujeitarem a Constituição,
em que todos não tivessem parte, e cujas vistas eram de os converter
repentinamente de homens livres, em vis escravos. Contudo, os obstáculos, que
antes de 26 de Abril de 1821 se opunham à Liberdade Brasileira, e que depois
continuaram a existir sustentados peta Tropa Europeia. fizeram com que estes
Povos temendo que não pudessem gozar de uma Assembleia sua, fossem pelo amor da
Liberdade, arrastados a seguir as infames Cortes de Portugal, para ver se,
fazendo, tais sacrifícios, poderiam deixar de ser insultados pelo seu partido
demagógico, que predominava nesse Hemisfério.
Nada disto valeu:
fomos maltratados pela Tropa Europeia de tal modo, que Eu Fui obrigado a
fazê-la passar há outra banda do Rio; pu-la em sitio, mandá-la embarcar, e sair
barra fora, para salvar a honra do Brasil, e podermos gozar daquela Liberdade,
que devíamos, e queríamos ter, para a qual debalde trabalharíamos por
possui-la, se entre nós consentíssemos um partido heterogéneo à verdadeira
Causa.
Ainda bem não
estávamos livres destes inimigos quando poucos dias depois aportou outra
Expedição, que de Lisboa nos era enviada para nos proteger; Eu Tomei sobre Mim
proteger este Império, e não a Recebi. Pernambuco fez o mesmo e a Baía, que foi
a primeira em aderir a Portugal, em prémio da sua boa fé, e de ter conhecido
tarde qual era o verdadeiro trilho, que devia seguir, sofre hoje crua guerra
dos Vândalos, e sua Cidade, só por eles ocupada, está a ponto de ser arrasada
quando nela se não possam manter.
Eis em suma a
Liberdade, que Portugal apetecia dar ao Brasil; ela se convertia para nós em
escravidão, e faria a nossa ruína total, se continuássemos a executar suas
ordens, o que aconteceria, a não serem os heróicos esforços, que por meio de
representação fizeram primeiro que todos, a Junta do Governo de S. Paulo.
depois a Câmara desta Capital, e após destas todas as mais Juntas de Governos,
e Câmaras; implorando a Minha ficada. Parece-Me, que o Brasil seria desgraçado,
se Eu as não Atendesse, como Atendi: bem Sei, que este era Meu dever, ainda que
expusesse Minha Vida; mas como era em defesa deste Império, estava pronto,
assim como hoje, e sempre se for preciso.
Mal unira acabado de
Proferir estas Palavras: «Como é para o bem de todos, e felicidade geral da
Nação, diga ao Povo que Fico:» recomendando-lhe ao mesmo tempo «União e
Tranquilidade.» Comecei imediatamente a tratar de Nos pormos em estado de
sofrer os ataques de nossos inimigos até aquela época encobertos, depois
desmacarados, uns entre nós existentes, outros nas Democráticas Cortes
Portuguesas; providenciando por todas as Secretarias, especialmente pela do
Império e Negócios Estrangeiros as medidas. que dita a prudência, que Eu cale
agora, para vos serem participadas pelos diferentes Secretários de Estado em
tempo conveniente.
As circunstâncias do
Tesouro Público eram as piores, pelo estado a que ficou reduzido, e muito
principalmente, porque até a quatro, ou cinco meses foi somente Provincial.
Visto isto, não era possível repartir o dinheiro, para tudo quanto era necessário,
por ser pouco, para se pagar a Credores, a Empregados em efectivo serviço, e
para sustentação da Minha Casa, que despendia uma quarta parte da do Rei, Meu
Augusto Pai. A dele excedia quatro milhões; e a Minha não chegava a um. Apesar
da diminuição ser tão considerável, assim mesmo Eu não Estava a contente,
quando Via, que a despesa, que Fazia, era muito desproporcionada à Receita, a
que o Tesouro estava reduzido, e por isso Me limitei a viver como um simples
particular, percebendo tão somente quantia de 110.000$000 reis para todas as
despesas da Minha Casa, exceptuando a mesada da Imperatriz, Minha muito Amada,
e prezada Esposa, que Lhe era dada em consequência de ajustes de Casamento.
Não satisfeito com
fazer só estas pequenas economias na Minha Casa, por onde Comecei, Vigiava
sobre todas as Repartições, como era Minha Obrigação, Querendo modificar também
suas despesas, e obstar seus extravios. Sem embargo de tudo, as rendas não
chegavam; mas com pequenas mudanças de indivíduos não afectos à Causa deste
Império, e só ao infame partido Português, que continuamente nos estavam
atraiçoando, por outros, que de todo o seu coração amavam o Brasil, uns por
nascimento, e princípios outros por estarem intimamente convencidos, que a
Causa era a da Razão. Consegui, (e com quanta glória o Digo ) que o Banco, que
tinha chegado a ponto de ter quase perdido a fé pública, e estar por momentos a
fazer bancarrota, tendo ficado no dia, em que o Senhor D. João VI saiu a barra
duzentos contos em moeda, única quantia para troco de suas Notas,
restabelecesse seu crédito de tal forma, que não passa pela imaginação a
indivíduo algum, que ele um dia possa voltar ao triste estado, a que o haviam
reduzido: que o Tesouro Público, apesar de suas demasiadas despesas, as quais
deviam pertencer a todas as Províncias, e que ele só fazia, tendo ficado
desacreditado, e exausto totalmente, adquirisse um crédito tal, que já soa na
Europa, e tanto dinheiro, que a maior parte dos seus Credores, que não eram
poucos, nem de pequenas quantias, tenham sido satisfeitos de tal forma, que
suas casas não tenham padecido: que os Empregados Públicos estejam em dia,
assim como os Militares em efectivo serviço: que as mais Províncias, que têm
aderido à Causa Santa, não por força, mas por convicção (que Eu amo a justa
liberdade) tenham sido fornecidas de todos os apetrechos de guerra para sua
defesa, grande parte deles comprados, e outros do que existiam nos Arsenais.
Além disto têm sido socorridas com dinheiro, por não chegarem suas rendas para
as despesas, que deviam fazer.
Em suma Consegui, que
a Província rendesse onze para doze milhões, sendo o seu rendimento anterior à
saída de Meu Augusto Pai de seis a sete, quando muito.
Nestas despesas
extraordinárias entram também fretes de navios das diferentes Expedições, que
deste Porto regressaram para o de Lisboa, compras de algumas Embarcações, e
concertos de outras, pagamentos a todos os Empregados Civis, e Militares, que
em Serviço aqui tem vindo, e aos expulsos das Províncias, por paixões
particulares, e tumultos, que nelas tem havido.
Grandes foram sem dúvida
as despesas; mas contudo, ainda se não lançou mão da Caixa dos Dons gratuitos,
e Sequestros das propriedades dos ausentes por opiniões políticas, da Caixa do
Empréstimo que se contraiu de 400.000$000 reis para compra de Vasos de guerra,
que se faziam urgentemente necessários para defesa deste Império, o que tudo
existe em ser, e da Caixa da Administração dos Diamantes.
Em todas as Administrações
se faz sumamente precisa uma grande reforma: mas nesta da Fazenda, ainda muito
mais por ser a principal mola do Estado.
O Exército não tinha
nem armamento capaz, nem gente, nem disciplina: de armamento está pronto
perfeitamente; de gente vai-se completando, conforme o permite a população: e
de disciplina em breve chegará ao auge, já sendo em obediência o mais exemplar
do mundo. Por duas vezes tenho Mandado socorros à Província da Baía, um de 210
homem, outro de 735 compondo um Batalhão com o nome de «Batalhão do Imperador»
o qual em oito dias foi escolhido, se aprontou, e partiu.
Além disto foram
criados um Regimento de Estrangeiros, e um Batalhão de Artilharia de Libertos, que
em breve estarão completos.
No Arsenal do Exército
tem se trabalhado com toda actividade, preparando-se tudo quanto tem sido
preciso para defesa das diferentes Províncias, e todas desde a Paraíba do Norte
até Montevideu receberam os socorros, que pediram.
Todos os reparos de
Artilharia das Fortalezas desta Corte, estavam totalmente arruinados; hoje
acham-se prontos; imensas obras de que se carecia dentro do mesmo Arsenal, se
fizeram.
Pelo que toca a Obras
militares; repararam-se as muralhas de todas as Fortalezas; e fizeram-se
algumas totalmente novas. Construíram-se em diferentes pontos os mais
apropriados para neles, se obstar a qualquer desembarque, e mesmo em gargantas
de serra, a qualquer passagem do inimigo no caso de haver desembarcado [o que
não será fácil] entrincheiramentos, fortins, redutos, abatizes, e baterias
rasas. Fez-se mais o Quartel da Carioca; prepararam-se todos os mais Quartéis;
está quase concluído o da Praça da Aclamação, e em breve se acabará, o que se
mandou fazer para Granadeiros.
A Armada constava
somente da Fragata Piranga, então chamada União, mal pronta; da Corveta Liberal
só em casco; e de algumas muito pequenas, e insignificantes Embarcações. Hoje
acha-se composta da Nau D. Pedro I, Fragatas Piranga, Carolina, e Niterói –
Corvetas Maria da Glória e Liberal prontas; e de uma Corveta nas Alagoas, que
em breve aqui aparecerá com o nome de Massaió; e dos Brigues de guerra Guanari
pronta, Cacique, e Caboclo em concerto, – diferentes em Comissões; assim como
também várias Escunas.
Espero seis Fragatas
de 50 peças prontas de gente, e armamento, e de tudo quanto é necessário para
combate, para cuja compra já Mandei Ordem. Parece-Me que o custo não excederá
muito a trezentos contos de reis, segundo o que Me foi participado.
Obras no Arsenal da
Marinha fizeram-se as seguintes. Concertaram-se todas as Embarcações, que
actualmente estão em serviço. Fizeram-se Barcas Canhoneiras, e muitas mais, que
não Enumero por pequenas; mas que com tudo somadas montam a grande número, e
importância.
Pretendo, que este ano
no mesmo lugar, em que se não fez por espaço de treze, mais do que calafetar,
tingar e atamancar Embarcações, enterrando somas considerabilíssimas, de que o
Governo podia muito bem dispor com suma utilidade Nacional, se ponha a quilha
de uma Fragata de 40 peças, que a não faltarem os cálculos, que Tenho feito, as
Ordens, que Tenho dado, e as medidas, que para isso Tenho tomado, Espero seja
concluída por todo este ano, ou meados do que vem, pondo-lhe o nome de
Campista.
Quanto a Obras
públicas muitas se têm feito. Pela Polícia reedificou-se o Palacete da Praça da
Aclamação; privou-se esta extensa Praça de inundações, tornando-se um passeio
agradável, havendo-se calçado por todos os lados, além das diferentes travessas
que se vão fazendo para mais embelezá-la. Concertou-se a maior parte dos
Aquedutos da Carioca e Maracanã. Repararam-se imensas pontes, umas de madeira,
outras de pedra; e além disto tem-se feito muitas totalmente novas; também se
concertaram grande parte das estradas
Apesar do exposto, e
de muito mais em que não Toco, seu cofre, que estava em Abril de 1821 devedor
de 60 contos de reis hoje não só não deve; mas tem em ser sessenta, e tantos
mil cruzados.
Por diferentes
Repartições fizeram-se as seguintes Obras. Aumentou-se muito a Tipografia
Nacional. Concertou-se grande parte do Passeio Público. Reparou-se se e Casa do
Museu, enriqueceu-se muito com minerais, e fez-se uma Galeria com excelentes
pinturas, umas que se compraram, outras, que havia no Tesouro Público, e outras,
Minhas, que lá Mandei colocar.
Tem-se trabalhado com
toda a força no cais da Praça do Comércio, de modo que esta quase concluído. As
calçadas de todas as ruas da Cidade foram feitas de novo, e em breve tempo
fez-se esta Casa da Assembleia, e todas as mais que a ela estão juntas, foram
prontificadas pare este mesmo fim.
Imensas Obras, que uno
silo do toque destas, se tem empreendido, começado, e acabado, que Eu Omito,
para não fazer o Discurso nimiamente longo.
Tenho promovido os
estudos públicos, quanto é possível, porém necessita-se para isto de uma
Legislação particular. Fez-se o seguinte – Comprou-se para engrandecimento da
Biblioteca Pública uma grande colecção de livros dos de melhor escolha:
aumentou-se o número das Escolas, e algum tanto o Ordenado de seus Mestres
permitindo-se além disto haver um sem número delas particulares: Conhecendo a
vantagem do Ensino Mútuo também Fiz abrir uma Escola pelo método Lancasteriano.
O Seminário de S.
Joaquim, que seus fundadores tinham criando para educação da mocidade, achei-o
servindo de Hospital da Tropa Europeia: Fi-lo abrir na forma de sua
Instituição, e havendo Eu Concedido à Casa da Misericórdia , e roda dos
Expostos (de que abaixo Falarei) uma Lotaria para melhor se puderem manter
Estabelecimentos de tão grande utilidade, Determinei ao mesmo tempo, que uma
quota parte desta mesma Lotaria fosse dada ao Seminário de S. Joaquim, para que
melhor se pudesse conseguir o útil fim, para que fora destinado por seus
honrados fundadores. Acha-se hoje com imensos Estudantes.
A primeira vez, que
Fui à roda dos Expostos Achei (parece impossível) 7 crianças com 2 amas; nem
berços, nem vestuário, Pedi o mapa, e Vi, que em 13 anos, tinham entrado perto
de 12$, e apenas tinham vingado 1$, não sabendo a Misericórdia verdadeiramente,
aonde elas se achavam. Agora com a concessão da Lotaria; edificou-se uma Casa
própria para tal Estabelecimento, aonde há trinta, e tantos berços, quase
tantas amas, quantos Expostos; e tudo em muito melhor administração. Todas
estas coisas, de que acima Acabei de Falar, devem merecer-vos suma
consideração.
Depois de ter
arranjado esta Província, e Dado imensas providências para as outras, Entendi,
que devia Convocar, e Convoquei por Decreto de 16 de Fevereiro do ano próximo
passado um Conselho ele Estado composto de Procuradores Gerais, eleitos pelos
Povos, Desejando que eles tivessem quem os representasse junto de Mim, e ao
mesmo tempo quem Me aconselhasse, e me requeresse, o que fosse a bem de cada
uma das respectivas Províncias. Não foi somente este o fim, e motivo, por que
Fiz semelhante convocação, o principal foi, para que os Brasileiros melhor
conhecessem a Minha Constitucionalidade, quanto Eu Me lisonjearia Governando a
contento dos Povos, e quanto Desejava em Meu Paternal Coração (escondidamente ,
porque o tempo não permitia, que tais ideias se patenteassem de outro modo) que
esta leal, grata, briosa, e heróica Nação fosse representada numa Assembleia
Geral, Constituinte e Legislativa, o que graças a Deus, se efectuou em
consequência do Decreto de 3 de Junho do ano presente, a requerimento dos
Povos, por meio de suas Câmaras, seus Procuradores Gerais e Meus Conselheiros
de Estado.
Bem custoso
seguramente Me tem sido, que o Brasil até agora não gozasse de Representação
Nacional; e Ver-Me Eu por força de circunstâncias Obrigado a Tomar algumas
medidas legislativas; elas nunca parecerão, que foram tomadas por ambição de
legislar, arrogando um poder, em o qual somente Devo Ter parte; mas sim, que
foram tornadas para salvar o Brasil, visto que a Assembleia, quanto a umas não
estava convocada quanto a outras, não estava ainda junta, e residiam então de
facto, e de direito, vista a Independência total do Brasil de Portugal, os três
Poderes no Chefe Supremo da Nação, muito mais sendo Ele Seu Defensor Perpétuo.
Embora algumas medidas
parecessem demasiadamente fortes, como o perigo era iminente, os inimigos, que
Nos rodeavam imensos (e provera a Deus que entre Nós ainda não existissem
tantos) cumpria serem proporcionadas.
Não Me Tenho poupado,
nem pouparei a trabalho algum, por maior que seja, contanto que dele provenha
um ceitil de felicidade para a Nação.
Quando os Povos da
Rica, e Majestosa Província de Minas estavam sofrendo o férreo jugo do seu
deslumbrado Governo, que a seu arbítrio dispunha dela, e obrigava seus
pacíficos, e mansos habitantes a desobedecerem-Me, Marchei para lá com os Meus
Criados somente. Convenci o Governo, e seus sequazes do crime, que tinham
perpetrado, e do erro, em que pareciam querer persistir; Perdoei-lhes, porque o
crime era mais em ofensa a Mim, do que mesmo à Nação, por estarmos ainda naquele
tempo unidos a Portugal.
Quando em S. Paulo
surgiu dentre o brioso Povo daquela Agradável, e Encantadora Província, um
partido de Portugueses, e Brasileiros degenerados, totalmente afeitos às Cortes
do desgraçado, e encanecido Portugal, Parti imediatamente para a Província,
Entrei sem, receio porque Conheço; que todo o Povo Me ama, Dei as providencias,
que Me pareceram convenientes, a ponto que a nossa Independência lá foi primeiro,
que em parte alguma, proclamada no sempre memorável sítio do Piranga. [sic]
Foi na Pátria do
fidelíssimo, e nunca assaz louvado Amador Bueno de Ribeira aonde pela primeira
vez Fui Aclamado Imperador.
Grande tem sido
seguramente o sentimento, que enluta Minha Alma, por não Puder Ir à Baía, como
já Quis, a não Executei, Cedendo às Representações da Meu Conselho de Estado,
misturar Meu sangue com o daqueles guerreiros, que tão denodadamente tem
pelejado pela Pátria.
A todo o custo, até
arriscando a Vida, se preciso for, Desempenharei o Título, com que os Povos
deste Vasto, e Rico Continente em 13 de Maio do ano pretérito, Me honraram de
Defensor Perpétuo do Brasil. Este Título penhorou muito mais Meu Coração, do
que quanta glória Alcancei com a espontânea, e unânime Aclamação de Imperador
deste invejado Império.
Graças sejam dadas à
Providência, que vemos hoje a Nação representada por tão dignos Deputados.
Oxalá, que a mais tempo pudesse ter sido; mas as circunstâncias anteriores, ao
Decreto de 3 de Junho não o permitiam, assim como depois as grandes distâncias,
a falta de amor da Pátria em alguns, e tolos aqueles incómodos, que em longas
viagens se sofrem , principalmente num País tão novo, e extenso, como o Brasil,
são quem tem retardado esta apetecida, e necessária junção apesar de todas as
recomendações, que Fiz de brevidade por diferentes vezes.
Afinal raiou o grande
Dia para este vasto Império, que fará época na sua história. Está junta a
Assembleia para constituir a Nação. Que prazer! Que fortuna para todos Nós!
Como Imperador
Constitucional, e muito especialmente como Defensor Perpétuo deste Império,
Disse ao Povo no Dia 1.º de Dezembro do ano próximo passado, em que, Fui
Coroado, e Sagrado , «Que com a Minha Espada Defenderia a Pátria, a Nação, e a
Constituição, se fosse digna do Brasil , e de Mim» Ratifico hoje muito
solenemente perante vós esta promessa, e Espero, que Me ajudeis a
desempenhá-la, fazendo uma Constituição sábia , justa , adequada, e executável,
ditada pela Razão, e não pelo capricho que tenha em vista somente a felicidade
geral, que nunca pode ser grande, sem que esta Constituição tenha bases sólidas
, bases, que a sabedoria dos séculos tenha mostrado, que são as verdadeiras, para
darem uma justa liberdade aos Povos, e toda a força necessária ao Poder
executivo. Uma Constituição, em que os três Poderes sejam bem divididos de
forma; que não possam arrogar direitos, que lhe não compitam, mas que sejam de
tal modo organizados, e harmonizados, que se lhes torne impossível, ainda pelo
decurso do tempo, fazerem-se inimigos, e cada vai mais concorram de mãos dadas
para a felicidade geral do Estado. A final uma Constituição, que pondo
barreiras inacessíveis ao despotismo, quer Real, quer Aristocrático, quer
Democrático, afugente a anarquia, e plante a árvore daquela liberdade, a cuja
sombra deve crescer a União, Tranquilidade, e lndependência deste Império, que
será o assombro do Mundo novo, e velho.
Todas as
Constituições, que à maneira das de 1791, e 92 têm estabelecido suas bases, e
se tem querido organizar, a experiência nos tem mostrado, que são totalmente
teoréticas e metafísicas, e por isso inexequíveis, assim o prova a França,
Espanha, e ultimamente Portugal. Elas não tem feito, como deviam, a felicidade
geral; mas sim, depois de uma licenciosa liberdade, ventos, que em uns Países
já apareceu, e em outros ainda não tarda a aparecer o Despotismo em um, depois
de ter sido exercitado por muitos, sendo consequência necessária, ficarem os
Povos reduzidos à triste situação de presenciarem, e sofrerem todos os horrores
da Anarquia.
Longe de nós tão
melancólicas recordações; elas enlutariam a alegria, e júbilo de tão fausto
Dia. Vós não as ignorais, e Eu certo, que a firmeza dos verdadeiros princípios
Constitucionais, que têm sido sancionados; pela experiência, caracteriza cada
um dos Deputados, que compõe esta Ilustre Assembleia, Espero, que a
Constituição, que façais, mereça a Minha Imperial Aceitação, seja tão sábia, e
tão justa, quanto apropriada à localidade, e civilização do Povo Brasileiro;
igualmente, que haja de ser louvada por todas as Nações; que até os nossos
inimigos venham a imitar a santidade, e sabedoria de seus princípios, e que por
fim a executem.
Uma Assembleia tão
Ilustrada, e tão patriótica, olhará só a fazer prosperar o Império, e cobri-lo
de felicidades; quererá, que seu Imperador seja respeitado, Não só pela Sua,
mas pelas mais Nações: e que o Seu Defensor Perpétuo, Cumpra Exactamente a
Promessa feita no 1.º de Dezembro do ano passado, e ratificada hoje
solenissimamente perante a Nação legalmente representada.
Na abertura
dos trabalhos legislativos de 1826, Dom
Pedro I pediu:
— Deve
merecer-vos sumo cuidado a educação da mocidade de ambos os sexos.
O Brasil
oferecia escola apenas para os meninos. A palavra do imperador foi decisiva.
No ano
seguinte, o Senado e a Câmara aprovaram uma lei determinando que se instalassem “escolas de primeiras
letras” para meninas nas cidades mais populosas.
Relações Exteriores
A leitura das
Falas do Trono leva a uma viagem panorâmica pelas quase sete décadas do Brasil
monárquico. Além das prioridades para o ano, o soberano falava da situação interna
do Império e das relações com outros países.
Em 1826, Dom Pedro I citou a guerra pela
Província Cisplatina (atual Uruguai):
— A província
Cisplatina é a única que não está em sossego, pois homens ingratos e que muito
deviam ao Brasil contra ele se levantaram e hoje se acham apoiados pelo governo
de Buenos Aires, atualmente em luta contra nós. A honra nacional exige que se
sustente a província Cisplatina, pois está jurada a integridade do Império.
Regencia
Maioridade
Em 1831, Dom Pedro I abdicou e voltou para
Portugal. O príncipe Dom Pedro II,
com apenas cinco anos, não poderia ser coroado. Instalou-se, então, um governo
de regentes, que conduziria o Império até a maioridade.
Na primeira
Fala do Trono no período, os três regentes provisórios frisaram o fato do
menino Pedro ser brasileiro, e não
português como seu pai Pedro I, o
que permitiria a consolidação da Independência:
— Não foi só
solene esse dia [o da aclamação de Pedro
II]. Ele se fez também memorável pelo contentamento geral e demonstrações
não equívocas do intenso amor e respeito com que o povo saúda o seu novo
monarca, ainda infante, genuíno brasileiro e sagrado objeto da sua patriótica
veneração.
Na década dos
regentes, as falas do trono abordaram as rebeliões que incendiavam o país. A
Cabanagem, no Grão-Pará, e a Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul, foram
citadas pelo Padre Feijó em 1836.
De acordo com
ele, “o
vulcão da anarquia” ameaçava “devorar o Império”.
— Do Pará,
faltam notícias modernas. Por bem ou por mal, será a cidade de Belém arrancada
às feras que a dominam. A sedição [insurreição] de Porto Alegre foi tão rápida
que em poucos dias compreendeu a província inteira. O governo tem deixado
entrever aos sediciosos que, no caso de contumácia [insistência], porá em
movimento todos os recursos para sujeitá-los à obediência.
As convulsões
do período acabaram forçando a antecipação da maioridade de Dom Pedro II.
Apostava-se na figura do
jovem monarca como capaz de pacificar o Império. Em vez dos 18 anos, assumiu o
poder aos 14, em 1840.
Segundo Império
Primeiro Pronunciamento - Segundo Império
Dom Pedro II fez seu primeiro pronunciamento ao
senadores e deputados no final daquele ano — as Falas do Trono eram proferidas
também no encerramento do ano legislativo.
— A
resolução, por vós tomada e aplaudida pelos meus fiéis súditos em todo o
Império, de apressar a época de minha maioridade, confio, senhores, que produzirá
os mais salutares efeitos para a causa pública — disse.
Banco do Brasil
Em 1853, Dom Pedro II apresentou outra
prioridade:
—
Recomendo-vos a criação de um banco, solidamente constituído, que dê atividade
e expansão às operações do comércio e indústria.
Naquele
momento, apenas bancos privados operavam no Império. O Banco do Brasil, fundado
por Dom João VI em 1808, não
suportara as polpudas retiradas feitas pela corte portuguesa antes do regresso
para Lisboa (Portugal) e acabara indo à bancarrota em 1829. Faltava um banco
estatal.
Passados dois
meses da Fala do Trono, os senadores e deputados avalizaram a criação do
segundo
Banco do Brasil, o mesmo que existe até hoje.
Guerra do Paraguai
A Guerra do
Paraguai foi o tema dominante nas Falas do Trono entre 1865 e 1870.
Em 1866, Dom Pedro II comemorava o avanço das
tropas aliadas sobre o solo paraguaio:
— Deploro
profundamente as vidas preciosas sacrificadas nesta guerra, mas é indizível meu
orgulho contemplando o heroísmo que acompanha o nome brasileiro e a glória que
imortaliza a memória de tantos bravos. As bandeiras aliadas já tremulam no
território inimigo. Espero ver em pouco tempo terminada a guerra.
A previsão
não se confirmou. A guerra ainda se arrastaria por mais quatro anos.
Escravidão
A gradual eliminação
da escravidão, o tema mais sensível da Monarquia, apareceu em diversas Falas do
Trono. Chama a atenção o uso dos eufemismos. Diante dos parlamentares, Dom Pedro II se referia aos negros como “elemento servil”, afirmou ele em 1867.
— O elemento
servil no Império não pode deixar de merecer oportunamente a vossa
consideração, provendo-se de modo que, respeitada a propriedade atual e sem
abalo profundo em nossa primeira indústria, a agricultura, sejam atendidos os
altos interesses que se ligam à emancipação.
O excessivo
cuidado com as palavras tem explicação. Os ouvintes da Fala do Trono —
senadores, deputados, ministros e nobres — eram, em grande parte,
latifundiários, a quem não interessava a “emancipação do elemento servil”. Dom
Pedro II não podia atropelar a classe social que dava sustentação ao
Império.
Os
parlamentares aprovariam a Lei do Ventre Livre, em 1871. A Lei dos
Sexagenários, em 1885. A Lei Áurea, em 1888.
Importantes na Época
Até mesmo
episódios hoje menores da história surgiam nas Falas do Trono.
Em 1875, Dom Pedro II comentou a Revolta do
Quebra-Quilos, em quatro províncias do Nordeste. O Império havia adotado o
sistema métrico, mas parte da população se recusou a abandonar as incontáveis e
ultrapassadas medidas usadas desde a Colônia, como a braça, a légua, o grão e a
onça.
— Bandos
sediciosos, em geral movidos por fanatismo religioso e preconceitos contra a
prática do sistema métrico, assaltaram as povoações, destruindo os arquivos de
algumas repartições públicas e os padrões dos novos pesos e medidas.
Felizmente, sufocou-se de pronto o movimento criminoso.
Tecnologia
Pelas Falas
do Trono, percebe-se a paixão que o segundo imperador nutria pelas novidades
tecnológicas.
Em 1872,
anunciou que seria instalado um cabo telegráfico submarino conectando o Brasil
à Europa. Ele chamou o telégrafo de “tão maravilhoso instrumento da atividade do nosso
século”.
Em 1873,
comentou a participação brasileira na Exposição Universal de Viena, onde o
Império exibiu seus “adiantamentos” e a “riqueza do
território”.
Deus
As
referências a Deus eram constantes.
Em 1850, o
imperador afirmou que uma “febre epidêmica” se espalhava pelo litoral e pediu à “Divina
Misericórdia” que livrasse “para sempre do
Brasil semelhante flagelo”.
Em 1860, ele
disse que a grave seca que castigava parte das províncias do Norte — como se
chamava o Nordeste — vinha diminuindo “graças à Providência Divina”.
Conjunto das Falas do Trono
O historiador
Mauro Henrique Miranda de Alcântara,
professor do Instituto Federal de Rondônia, fez um estudo sobre as referências
à escravidão nas Falas do Trono. De acordo com ele, ainda há nesses
pronunciamentos farta e inexplorada matéria-prima à espera dos pesquisadores:
— Os historiadores
que se dedicam ao Império sempre recorrem às Falas do Trono para buscar
informações sobre pontos muito específicos, como a abolição da escravidão.
Por um lado,
há questões recorrentes nos pronunciamentos que ainda não foram esmiuçadas,
como as epidemias e as secas.
Por outro
lado, falta uma pesquisa mais ampla, que esquadrinhe todo o conjunto das Falas
do Trono.
Por Ricardo Westin
FONTE:
FONTE:
Senado Federal - Praça dos Três
Poderes - Brasília DF
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