Nomes
do Brasil
- Uma das características da chegada de portugueses e
espanhóis ao continente atualmente chamado de América foi a incerteza em relação à natureza da coisa.
Eram as Índias, era um mundo novo, uma ilha, um continente?
- Cristóvão Colombo
achava que eram as Índias Ocidentais,
- Pedro Alvarez
Cabral pensou que era uma ilha,
- Américo Vespúcio
desconfiou que seria um continente novamente descoberto.
- A incerteza em relação ao todo reproduziu-se em relação às
partes, sobretudo àquelas habitadas por povos nômades com baixo grau de
organização social.
- Foi o caso da parte visitada por Pedro Alvarez Cabral em 1500.
- Ao longo dos séculos XVI e XVII, esta terra foi batizada
com vários nomes. A disputa sobre como grafar “Brasil” estendeu-se até o século XX. E até hoje se discute a
origem do nome.
- Difícil imaginar outro país com tão grande dificuldade de
decidir até mesmo seu próprio nome.
- A nova terra era e foi denominada:
Pindorama (antes
de 1500),
Ilha (Terra) de Vera Cruz (1500),
Terra de Santa Cruz
(1501),
Terra Papagalli
(1502),
Mundus Novus
(1503),
América (1507),
Terra do Brasil
(1507),
Índia Ocidental
(1578),
Brazil (século
XIX),
Brasil (século
XX).
- Assim que chegaram ao território brasileiro em 1500, os
viajantes portugueses estiveram diante de uma terra que inicialmente para eles
era uma ilha. Após outras expedições e do reconhecimento territorial, os
lusitanos perceberam que estavam diante de uma área de proporção continental.
Iniciava-se, então, uma discussão simbólica e importante acerca do nome a ser
dado para a terra recém-descoberta.
- Há uma polêmica entre historiadores quanto ao nome “Brasil”.
Há uma interpretação tradicional que vincula este nome à árvore pau-brasil, largamente
explorada no início da colonização por conta da pigmentação avermelhada de sua
madeira, que era usada para tingir tecidos.
Aqueles que trabalhavam com a extração de pau-brasil foram
chamados, desse modo, de "brasileiros".
- Entretanto, outras investigações apontam para uma antiga
lenda medieval, que circula na Península Ibérica, que se referia à “Ilha Brasil”.
Assim como a ilha perdida de Atlântida, a Ilha Brasil também era um lugar
mitológico, que alimentava o imaginário medieval, e estaria situada no
Atlântico, tendo sido representada diversas vezes em cartografias da Idade
Média.
- A despeito da versão estritamente correta para o nome “Brasil”, o fato é que seu uso se
tornou notório e se sobrepôs às outras denominações.
Outros nomes menos conhecidos atualmente também eram populares
ao Brasil, como:
- Nova Lusitânia,
se dando ao fato de ser a primeira terra de outro continente descoberta pelos
lusitanos (portugueses),
- Cabrália,
referente a Pedro Álvares Cabral.
- Outros navegadores ibéricos, como Vicente Yáñez Pinzón e Duarte
Pacheco Pereira já realizaram expedições na costa da região hoje conhecida
como "Brasil"
antes de Pedro Alvarez Cabral, embora não tenham batizado
especificamente.
Os nomes acima foram frequentemente utilizados no período
pré-colonial.
BRAZILL
BRAZIL
BRASIL
- Sabemos que nem sempre o país teve o nome “Brasil”, e que esse já foi alvo de transformações gramaticais, como a mudança da grafia com “z” (Brazil) para o atual, com “s”, e a retirada de duas letras “ll” no final para uma letra “l”.
BRAZIL
BRASIL
- Sabemos que nem sempre o país teve o nome “Brasil”, e que esse já foi alvo de transformações gramaticais, como a mudança da grafia com “z” (Brazil) para o atual, com “s”, e a retirada de duas letras “ll” no final para uma letra “l”.
Hy Brazil
Pindorama
Do re-descobrimento
Do re-descobrimento
- Quando encontrado pelos portugueses em 1500, estima-se que
a costa oriental da América do Sul era habitada por cerca de dois milhões de
nativos, do norte ao sul.
- A população ameríndia era repartida em grandes nações
indígenas compostas por vários grupos étnicos entre os quais se destacam os
grandes grupos:
- Tupi-guarani,
- Macro-jê,
- Aruaque.
- Os primeiros eram subdivididos em guaranis, tupiniquins e tupinambás, entre inúmeros outros. Os tupis se espalhavam do atual Rio Grande
do Sul ao Rio Grande do Norte de hoje, sendo "a primeira raça indígena que teve
contato com o colonizador e decorrentemente a de maior presença, com influência
no mameluco, no mestiço, no luso-brasileiro que nascia e no europeu que se
fixava".
- As fronteiras entre estes grupos e seus subgrupos, antes
da chegada dos europeus, eram demarcadas pelas guerras entre os mesmos,
oriundas das diferenças de cultura, língua e costumes. Guerras estas que também
envolviam ações bélicas em larga escala, em terra e na água, com a antropofagia
ritual sobre os prisioneiros de guerra.
- Embora a hereditariedade tivesse algum peso, a liderança
era um status mais conquistado ao longo do tempo, do que atribuído em
cerimônias e convenções sucessórias.
- A escravidão entre os índios tinha um significado
diferente da escravidão européia, uma vez que se originava de uma organização
socioeconômica diversa, na qual as assimetrias eram traduzidas em relações de
parentesco.
1500
Em 22 de abril de 1500, a terra a que Pedro Álvares Cabral aportou era chamada pelos habitantes com quem
travou conhecimento de Pindorama ou Terra das Palmeiras. O capitão Cabral permaneceu por dez dias em
terra. Viu gentes estranhas, nem pretas nem brancas, que caminhavam totalmente
nuas pelas praias, tinham furos nos beiços em que enfiavam ossos, estavam
armadas de arcos e flechas. Viu ainda muitos papagaios e uma terra cheia de
palmeiras e outras árvores.
- Pero Vaz de Caminha,
afirma em sua carta que mandou ao rei D.
Manuel que Pedro Álvares Cabral
inicialmente deu à terra o nome de Terra
de Vera Cruz.
- No mesmo documento, corrige para Ilha de Vera Cruz, indicando a incerteza sobre a geografia da
região, visto que os portugueses também acreditavam que a aquelas terras
compunham parte de uma ilha que estava entreposta no Atlântico, separando a
Europa das Índias.
Só não houve incerteza quanto ao termo “Vera Cruz”.
Nota:
- Pedro Álvares Cabral
era cavaleiro da Ordem de Cristo, cuja bandeira trazia uma grande cruz. Essa
bandeira lhe fora entregue por D. Manuel
antes da partida da frota e mais tarde foi içada no mastro da nave principal e
colocada ao lado do Evangelho durante a primeira missa celebrada em uma ilhota
da nova terra.
Pindorama
- Esse nome foi mais usado no período anterior à chegada dos
portugueses ao Brasil (1500).
- Os nativos – chamados de “índios” pelos portugueses –,
denominaram aquela terra como “Pindorama”, que em língua tupi-guarani
significa “terra
das palmeiras”.
- Segundo Theodoro
Sampaio, o termo da língua tupi pode ser traduzido como “o país das
palmeiras”. A denominação continuou sendo usada pelos nativos, por
muito tempo. Provavelmente, designava apenas parte do litoral do Nordeste.
Nota:
- O poeta modernista
brasileiro Oswald de Andrade, um dos
organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922, em seu “Manifesto antropófago”, faz referência a essa denominação tupi
com o objetivo de reabilitar a cultura indígena à identidade brasileira.
- Na Língua Guarani, uma língua oficial do Paraguai, o
Brasil é chamado de "Pindorama".
Este era o nome que os índios davam à região, significando "terra de palmeiras".
Nomes utilizados pelos Portugueses
- Os seguintes nomes foram utilizados inicialmente por Pedro Álvares Cabral e outros
navegadores:
Monte Pascoal
- O primeiro nome concebido do Brasil, na ocasião
desconhecido continente, quando avistaram terra firme pela primeira vez.
Ilha de Vera Cruz
- Denominação presente na Carta de Pero Vaz de Caminha ao Brasil, idealizado após os portugueses
pisarem no continente,
Terra da Vera Cruz
Em 22 de abril de 1500, segundo a Carta de Pero Vaz de Caminha, esse foi o
primeiro nome dado por Pedro Álvares
Cabral.
Ilha de Vera Cruz
Em 01 de maio de 1500, nome usado por Pero Vaz de Caminha na assinatura de sua Carta.
Período Inicial (1501-1530)
Em 1501, o primeiro nome da terra durou pouco. Ao tomar
conhecimento da descoberta, D. Manuel
tratou de apressar seu casamento com a infanta de Espanha e enviou Gonçalo Coelho para confirmar o achado.
Além de confirmar, Gonçalo Coelho
informou que a nova terra era grande demais para ser uma ilha.
- Na volta, carregou o navio com pau-brasil e papagaios.
Em 29 de julho, D.
Manuel escreveu aos reis católicos Fernando
e Isabel, agora seus sogros,
informando sobre a descoberta da terra a que Pedro Álvares Cabral dera o nome de Terra de Santa Cruz.
Nota:
- El-rei trocou Ilha
por Terra e Vera Cruz por Santa Cruz. O novo nome foi logo adotado.
- Com a expedição de Gonçalo
Coelho que os portugueses, tendo melhor conhecimento do tamanho do
território, criaram outros nomes para a região, como “Terra dos papagaios” e “Terra de Santa
Cruz”, sendo esta última nomenclatura criada pelo rei português D. Emanuel.
Terra de Vera Cruz
(de 1500 a 1501)
- Nome provisório de referência cristã.
Ilha da Cruz
No início de 1501, aparece no regimento de D. Manuel entregue a João da Nova, que deveria fazer escala
no Brasil, à caminho da Índia.
- O mesmo nome, ou com variações como ylha da † ou ylha da
Cruz, aparece em outros textos portugueses até 1507.
A cruz referida foi aquela erguida em Porto Seguro para a
Segunda Missa.
Terra Nova (1501)
Terra dos Papagaios
(1501)
- Essa denominação foi feita, principalmente por italianos,
desde 1501, e depois na França. A denominação está em alguns mapas feitos até
os anos 1520.
Terra de Santa Cruz
ou simplesmente Santa Cruz (1501 a 1503)
- Nome concebido mais tarde, que reflete o contexto de
propagação da fé cristã.
Em 29 de julho de 1501, esse nome foi registrado na carta,
em espanhol, do rei Dom Manuel, que
informou aos Reis Católicos a descoberta do Brasil.
Em 1505, o rei D.
Manuel cita aos Reis Católicos de Espanha em outra carta:
"...á qual terra puz o nome de Santa
Cruz: e isto foi porque na praia arvorou uma cruz muito alta. Outros chamam-lhe
terra nova ou novo mundo".
Em 1640, o nome Terra de Santa Cruz continuava sendo usado,
como indica o Atlas de João Teixeira
Albernaz.
Terra Santa Cruz do Brasil
(1505)
Terra do Brasil (1505)
Brazil (1503 a
1824)
- Sua origem é incerta, mas o nome era usado séculos antes
da descoberta do Brasil.
Nome dado pelos portugueses em função da grande quantidade
de árvores de pau-brasil existentes na região do litoral brasileiro.
- A palavra Brasil deriva de brasa, pois esta árvore possui
uma seiva avermelhada, cor de brasa.
Brasil
- Não se sabe, ao certo, quando o nome “Brasil” começou a ser atribuído à “Santa Cruz”, designando as terras descobertas por Pedro Álvarez Cabral. Talvez, pelos
primeiros mercadores da preciosa madeira.
- A referência de que uma carta de João Empoli, de 1504, tenha realizado essa conexão foi descartada
por Afrânio Peixoto (História do
Brasil, 1944), que observou erros de tradução.
- Clemente
Brandenburger (em A nova Gazeta da terra do Brasil, 1922) também descarta
uma referência de historiadores do século XIX de que um diário de bordo
registrou Terra de Brazil, em
1505/6. O artigo original foi encontrado em 1895, em Augsburg, e data de 1514.
- Forram possivelmente os franceses que começaram a falar na
“terre du
brésil”. A partir de 1511, já se encontra alguns textos portugueses
referindo-se à Terra do Brasil.
Em 1511, o primeiro mapa conhecido a colocar o nome Brasil,
designando a América Austral, foi o Planisfério de Jerônimo Marini.
- Existiram também variações como: - Brasill, Brrasil, Brasyll, Brasyl e outras. As grafias Brasil e Brazil (com s e com z) foram
usadas por portugueses e brasileiros até o início do século XX.
América
- O Brasil tem mais a ver com a origem desse nome do que
qualquer outro país do Novo Mundo.
Não foi erro de cartógrafo, como querem alguns.
Em 1507, ao confeccionar seu monumental planisfério, o
alemão Martin Waldseemüller batizou
uma parte da América do Sul em homenagem a Américo
Vespúcio. O nome AMERICA foi
colocado em cima do Brasil e era o único topônimo regional dessa parte do Continente.
As terras descobertas por Cristóvão Colombo
tinham outros nomes, dados pelos espanhóis.
- Após acompanhar a primeira expedição exploratória ao
Brasil, em 1501, Américo Vespúcio
publicou os primeiros textos conhecidos em que se afirma que aquelas terras
seriam um “Novo
Mundo” e não parte da Ásia (Índias), como se pensava até então. Para
Martin Waldseemüller, Américo Vespúcio foi quem descobriu que
se tratava de um novo continente e colocou o nome AMERICA ao lado dos levantamentos da expedição em que ele
participou, quando chegou a essa conclusão, não por acaso, o Brasil.
- Após ler os textos de Américo
Vespúcio sobre sua viagem na costa brasileira, Martin Waldseemüller colocou o nome AMERICA em cima do Brasil, em homenagem ao navegador florentino.
No século XVII, o nome “Brasil” já era usado para ser referir a tais
terras, ainda que não oficialmente.
O nome “Brasil” só se consolidou no século XIX.
Período
Colonial (1530-1815)
Colônia do Brazil do Reino de
Portugal
A partir de 1530, quando o Brasil tornou-se uma colônia de
Portugal, esse era seu nome mais comum.
Às vezes, Principado
do Brazil e Vice-reino do Brazil
também eram utilizados.
Província de Santa Cruz
- O português Pero de
Magalhães Gandavo escreveu o primeiro livro de História do Brasil
conhecido, com o título “Historia da Província Santa Cruz” a que
vulgarmente chamamos “Brasil...”, publicado em 1576. Gandavo era um homem culto e provedor
da Fazenda, em Salvador, com acesso à burocracia portuguesa.
- Entretanto, de 1572 a 1578, o Brasil estava dividido em
dois, com duas capitais, o que torna a denominação de Província de Santa Cruz,
para todo o Brasil, um tanto confusa.
Em 1548, não facilita o fato de que, Dom João III, em seu Regimento, dado a Thomé de Sousa, referia-se as Capitanias e povoações das terras do
Brazil.
O nome Santa Cruz simplesmente não pegou.
Província / Estado
- Dos séculos XVI ao XVIII, o Brasil aparece ora como
província, ora como estado, em textos da época. Parece que os reis de Portugal
e os próprios brasileiros davam pouca importância aos nomes oficiais da América
Lusitana.
Um bom exemplo está no Atlas de Albernaz, cartógrafo oficial de Portugal, que registrou no seu
Atlas de (1640), que "Brazil" era o nome vulgar da Terra de Santa Cruz, sem indicar se era
província ou estado.
- Rocha Pitta, em
sua Historia da America Portugueza (1730) chamou de províncias as capitanias do
Brasil, muito antes que elas assim fossem oficialmente chamadas no início do
século XIX.
Em 03 de março de 1550, o Provedor-mor da Fazenda Antônio Cardoso de Barros registrou em
uma provisão:
“...Villa da Victoria Provincia do Espirito
Santo Capitania de Vasco Fernandes Coutinho...”
Província do Brasil
- Segundo Jaboatão,
em seu Novo Orbe Seráfico Brasilico, ou Chronica dos Frades Menores da
Província do Brasil, publicado em 1761, o nome Província de Santa Cruz foi mudado para Província do Brasil. Jaboatão observa desgostoso que "...a
indiscreta politica dos homens, ou a sua imprudente ambição mudou depois em o
de Provincia do Brasil, mostrando sem o querer, que fazia mais estimação do
valor destes páos vermelhos, de que dependem os seus lucros temporaes, do que
do inestimável preço daquelle sagrado Madeiro,..."
- Por Sagrado Madeiro,
Jaboatão referia-se à grande “Cruz”
levantada em Porto Seguro para a realização da Segunda Missa, em 1º de maio de
1500.
Estado do Brazil
Em 1548, em sua carta a Caramuru,
Dom João III refere-se ao Estado do Brazyl.
Em 06 de outubro de 1612, a condição de estado para a
América Lusitana tornou-se oficial com o Regimento passado a Gaspar de Sousa, nomeado Governador do
Brasil. Essa condição também é atestada no Livro que dá Razão ao Estado do Brasil, um documento oficial
publicado naquele ano, em Portugal.
Em 1621, o Brasil foi dividido em dois estados pela terceira
vez:
- Estado do Maranhão
(depois Estado do Maranhão e Grão-Pará), com capital em São Luís,
-Estado do Brasil,
com capital em Salvador.
- Essa divisão ocorreu durante a União Ibérica, quando não
havia mais preocupação com o Meridiano de Tordesilhas.
Em 1772, o Estado do
Grão-Pará e Maranhão foi
dividido em dois estados, ficando a América Lusitana com três estados.
1808
Em maio de 1808, entretanto, o primeiro livro da Imprensa
Régia no Brasil, publicado, “Relação dos Despachos Publicados na Corte...”,
faz referência, em sua folha de rosto, aos Estados do Brazil, dando a entender
que o nome “Brazil”
era usado para toda a América Lusitana.
Era mesmo isso, Brasil era o nome genérico, informal, da América Lusitana e outros documentos o comprovam.
Era mesmo isso, Brasil era o nome genérico, informal, da América Lusitana e outros documentos o comprovam.
Reino do Brazil do Reino
Unido de Portugal, Brazil e Algarves
- Após a transferência da nobreza portuguesa para o Brasil
(1815-1822).
Em 1815, anos após a transferência da Família Real para o
Rio de Janeiro, o Brasil foi elevado à condição de Reino, como parte do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves, nome este é oficializado e passou a ser o
nome frequentemente utilizado.
Independência do
Brazil
Império (1822-1889)
Império do Brazil (1824
a 1891)
Em 1822, após a Independência do Brasil ser proclamada pelo
Príncipe Regente Pedro de Alcântara
(D. Pedro I) ordenou a elaboração de uma nova constituição.
Em 1824, promulgada a Carta Magna, ficou definido o novo nome do
país, fazendo referência ao sistema imperial de governo e reconhecida em 1825.
- O Império do Brazil
foi o primeiro estado brasileiro independente, e por consequência, o primeiro a
ter um nome definitivamente oficial.
- Note que o nome é "Império do Brazil" e não "Império
Brasileiro".
República (1889 em diante)
Estados Unidos do Brazil
(1891 a 1969)
Em 1889, com a Proclamação da República, e com a primeira
constituição republicana, de 1891, o nome passou a ser “Estados Unidos do Brazil” –
pois era necessário retirar a referência ao sistema monárquico, mas com nítida
inspiração nos Estados Unidos da América.
- A denominação do País, como república, dada na folha de
rosto da Constituição promulgada em 24 de fevereiro de 1891.
Em seu preâmbulo, o nome Republica (sem acento) é inserido, ficando “Republica dos Estados Unidos do Brazil”.
Em seu preâmbulo, o nome Republica (sem acento) é inserido, ficando “Republica dos Estados Unidos do Brazil”.
- A expressão "Estados Unidos" reforçava a unidade
territorial e o sistema federativo.
República Federativa do
Brasil (1967 até os dias de hoje)
Em 1967, com a constituição elaborada durante a Ditadura Militar, o nome passou a ser “República
Federativa do Brasil”, por conta do sistema federativo então já
consolidado.
- Este nome adotado antes da junta militar de 1969, assumir
o poder foi por motivos desconhecidos.
Em 1988, o nome “República Federativa do Brasil” foi mantido pela constituição cidadã, reforçando
assim o termo que faz referência ao sistema republicano.
Nomes que não foram oficialmente adotados
- Mesmo após a adoção do nome "Brasil", a
denominação oficial do Estado brasileiro ainda mudou algumas vezes. Durante o
período do Brasil Colônia, ainda foram usados os nomes "Principado do Brasil", "Vice-reino do Brasil" e "Reino do Brasil".
- Referidos por alguns historiadores:
Brasil Colônia,
Principado do Brasil e
Vice-Reino do Brasil.
Colônia
- O Brasil não era juridicamente uma colônia de Portugal.
Essa denominação ganhou popularidade entre alguns historiadores no início do
século XX, quando o mundo era repleto de colônias de países europeus. Portugal
tinha colônias na África e na Ásia, resultado de uma redefinição política de
seus domínios, no século XIX, quando o Brasil já era independente.
- No século XVI, o Brasil era uma província portuguesa e foi
elevado à condição de Estado já no século XVII, sendo Estado até 1815, quando
foi elevado a Reino. Os brasileiros eram também súditos do Rei, como os
portugueses nascidos em Portugal. A história nos conta, entretanto, que
existiam claras preferências dadas aos nascidos em Portugal, tanto no comércio,
quanto nos cargos públicos. Além disso, existiam muitas restrições a atividades
comerciais e intelectuais no Brasil, o que levou os brasileiros à Guerra da
Independência.
Nos primeiros anos do século XVI, os demais países europeus
não reconheciam a divisão do mundo feita por Portugal e Espanha. Em muitos
casos adotavam seus próprios nomes às regiões descobertas.
Principado
De 1645 a 1815, o herdeiro da Coroa portuguesa recebia o
título de “Príncipe
do Brasil”. Parecido com o que ocorre no Reino Unido (Príncipe de
Gales).
Vice-Reino
- O Brasil teve vice-reis, mas eram títulos nobiliárquicos
ou administrativos. Não se conhece documentos oficiais que façam referência a
um Vice-Reino do Brasil.
Etimologia
- As raízes etimológicas do termo "Brasil" são de difícil reconstrução. O filólogo Adelino José da Silva Azevedo postulou
que se trata de uma palavra de procedência celta (uma lenda que fala de uma "terra de
delícias", vista entre nuvens), mas advertiu também que as
origens mais remotas do termo poderiam ser encontradas na língua dos antigos
fenícios.
Brasileiro
- Na época colonial, cronistas da importância de João de Barros, frei Vicente do Salvador e Pero de Magalhães Gândavo apresentaram
explicações concordantes acerca da origem do nome "Brasil". De acordo com eles, o nome "Brasil" é derivado de "pau-brasil",
designação dada a um tipo de madeira empregada na tinturaria de tecidos. Na
época dos descobrimentos, era comum aos exploradores guardar cuidadosamente o
segredo de tudo quanto achavam ou conquistavam, a fim de explorá-lo
vantajosamente, mas não tardou em se espalhar na Europa que haviam descoberto
certa "ilha
Brasil" no meio do oceano Atlântico, de onde extraíam o
pau-brasil (madeira cor de brasa).
- Os habitantes naturais do Brasil são denominados “brasileiros”.
- Há ainda a possibilidade do uso do gentílico brasiliano
para designar os naturais da República Federativa do Brasil.
Em 1706, o termo gentílico “brasileiro” é registrado em português e se referia inicialmente
apenas aos que comercializavam pau-brasil.
- Passou depois a ser usado informal e costumeiramente para
identificar os nascidos na colônia e diferenciá-los dos vindos de Portugal.
Em 1824, na primeira constituição brasileira, que o
gentílico "brasileiro"
passou legalmente a designar as pessoas naturais do Brasil.
Outros Gentílicos
- Há ainda a possibilidade do uso de outros gentílicos como:
- brasiliano,
- brasílico,
- brasílio, para
designar os naturais do Brasil.
- brasiliense
(esse último também atribuído aos habitantes de Brasília-DF).
Teorias
- Todas as tentativas de se buscar as raízes para o nome “Brasil”, são também especulativas.
O autor Edgardo Otero
apresenta uma pesquisa que postula que existem três vertentes que procuram
explicar a origem do nome Brasil.
Pau-brasil
- O nome proveniente da árvore Pau-brasil, chamado assim por
causa de sua cor vermelha, que lembrava brasas de fogo; A origem derivada da
madeira já era defendida na época colonial, onde cronistas da importância de João de Barros, Frei Vicente do Salvador e Pero
de Magalhães Gandavo apresentaram explicações concordantes acerca da origem
do nome "Brasil". De
acordo com eles, o nome "Brasil"
deriva de "pau-brasil",
a designação de um tipo de madeira empregada na tinturaria de tecidos.
- Na época dos descobrimentos, era comum aos exploradores
guardar cuidadosamente o segredo de tudo quanto achavam ou conquistavam, a fim
de explorá-lo vantajosamente, mas não tardou em se espalhar na Europa que
haviam descoberto certa "ilha Brasil" no meio do Atlântico,
de onde extraíam o pau-brasil.
Essa teoria é oficial e ensinada nas escolas brasileiras e
portuguesas.
- Os navegantes começaram a denominar o território de Brasil
por causa dessa árvore que durante as três primeiras décadas foi o principal
motivo de viagens dos portugueses à região encontrada por Cabral. Portanto, o nome Brasil fixou-se no imaginário dos
viajantes e dos colonizadores e prevaleceu sobre as outras nomenclaturas.
- O nome atribuído à madeira vermelha também é mais antigo
que a descoberta da América Lusitana. Existem, por exemplo, variedades diferentes
dessa árvore na África, na Ásia e na Oceania (o pau brasil do Brasil é a
Caesalpinia echinata).
Em 1501, na descoberta pela expedição de Gonçalo Coelho, de pau brasil nas
margens de um rio perto de Porto Seguro, batizado de “Rio de Brasil”. Acredita-se que
seja algum rio entre Porto Seguro e Trancoso. Entende-se, assim, que o nome “brasil”
já era associado à madeira vermelha, antes de ser associado à América Lusitana.
No início do século XX, a polêmica em relação ao nome do
território que hoje se chama Brasil voltou à tona na escrita de alguns
estudiosos após o processo de colonização da América Portuguesa, autores como Adolfo Varnhagen e Capistrano de Abreu contestaram a versão original de que o nome
Brasil teria surgido em virtude da extração de pau-brasil.
- Na concepção de Capistrano,
a origem do termo relaciona-se à existência de uma ilha imaginária na costa da
Irlanda. Essa ilha irlandesa era um local cercado por misticismo e sua
existência real não foi comprovada.
Ilha Brazil (Hy Brazil)
- O nome proveniente de uma ilha mítica chamada Brazil (com
z). Essa lenda teria surgido entre os Celtas que diziam ser uma ilha no meio do
oceano que pegava fogo constantemente. Esse local era cercado por mistérios e
as tradições célticas afirmavam que o rei “Brasal” fixou moradia nela após sua morte.
Dessa forma, poetas relatavam que essa ilha coberta de bruma não era de fácil
acesso, e o simbolismo em volta dela continuava vivo.
- Por volta de 1339, muitos documentos da época mostram que
já existia essa ilha no meio do Oceano Atlântico a oeste da ilha dos Açores,
porém a localização exata variava entre galegos e germânicos.
Nota:
- O nome Brazil deu
origem ao sobrenome de uma família na Idade Média e ainda hoje presente na
Irlanda.
- Como os portugueses tinham a representação desta curiosa
ilha em seus mapas, alguns escritores do século XX, como Gustavo Barroso, defenderam a tese de que o nome do Brasil estaria
relacionado originalmente a esta ilha, e não à extração de pau-brasil como se
acreditava.
Brasile
- O nome proveniente da derivação de "Balj ibn Bishr",
primeiro chefe muçulmano a conquistar Andaluzia (na Espanha). Este famoso
guerreiro teve seu nome pronunciado de diversas formas e, com o passar dos
anos, seu nome ficou para a história como "Brasile".
Açores
- Estudos arqueológicos recentes demonstram que povos do
Mediterrâneo estiveram em ilhas do arquipélago dos Açores, na Idade do Bronze.
Inscrições em rochas indicam que as ocupações continuaram até, pelo menos, dois
mil anos atrás, possivelmente por fenícios ou cartagineses. Os portugueses
chegarem lá, no século XIV.
- Cartas do editor alemão Valentin Ferdinands, estabelecido em Lisboa, em 1495, indicavam o
nome “Brasill”
para a ilha Terceira do arquipélago dos Açores.
Nessa ilha existe o Monte Brasil, um vulcão extinto.
- O nome “brasil” deriva possivelmente de brasa, talvez
como sinônimo de braseiro. Os Açores possuem 26 vulcões ativos. Também, no
latim medieval, “brasile”
significava ter aspecto de brasa, razão por que, os italianos chamam nosso “País de
Brasile”.
- Mapas de 1325 e 1329 registravam ilhas no Atlântico com o
nome de “Bracile”,
que se acredita serem os Açores. Esses registros são posteriores aos primeiros
empreendimentos portugueses no Atlântico, durante o reinado de Dom Dinis (1279-1325), quando se
acredita que os Açores foram descobertos.
Antilhas
- Cristóvão Colombo,
em sua segunda viagem (1493-1496), faz referência a “brasil”, como uma das riquezas
trazidas das Índias. Américo Vespúcio,
em carta de julho de 1500, relata que na Ilha dos Gigantes (Antilhas) a maioria
das árvores eram de “brasil”.
- O Cantino, um mapa português anônimo de 1502, indica o “Río de brasil”,
junto a Porto Seguro e o nome “Brasill” é atribuído a uma das Antilhas. A
denominação foi seguida por Martin
Waldseemüller, só que o cartógrafo alemão adotou apenas a grafia com um “l”.
- O Cantino é o primeiro mapa do Brasil conhecido. O “Rio de Brasil”
é o primeiro registro do nome Brasil em nosso território.
Transcrição de Mapa de Cantino, 1502
Mapa de Cantino (1502) Contexto do Cartógrafo - Mapa
encomendado por Hercules d'Este, duque de Ferrara.
- Fornecido por Alberto Cantino, espião italiano.
- Informaçoes das rotas de navegação portuguesas e
espanholas.
- Objetivo governamental. - Bases em medições realizadas por
chineses (alta precisão nas medidas longitudinais)
- Modificações feitas posteriormente, com novas navegações.
- África pela primeira vez completa em um mapa.
- China nunca havia sido representada em mapa por
ocidentais. - 10 meses de trabalho.
- 3 folhas de pergaminho
- 1050 x 2200 mm.
- Iluminuras (coloridas).
- Abrange 257 graus em longitude. Técnicas Contexto de
outros mapas Qual a relação de Cantino com outros mapas do mesmo
autor/instituição que produziu o mapa? Qual a relação do conteúdo do mapa de
Cantino com o de outros mapas da época? Conteúdo Primeiro a retratar Brasil,
Groenlândia e Flórida.
Meridiano de Tordesilhas.
Cálculo longitudinal.
Representação do Equador e Trópicos.
Sem escalas.
Sistema de Rosa dos ventos. Mapa de Colombo (1490) Mapa de
Cavéri (1506) Representação do Equador e dos trópicos (anterior a Cantino) Mapa
de Pierre d’ Ailly (1482) Mapa de Waldseemüller (1507) Representação do Equador
e dos trópicos (posterior a Cantino) Mapa anônimo (1502) Inovações Inspirou um
modelo de mapa-múndi aos cartógrafos futuros
Representa a superfície terrestre em seu conjunto
Apresenta os hemisférios ocidental e oriental lado a lado. -
Autoria do planisfério
- A família D'este Hércules D'este, o Duque de Ferrara Qual
sua relação com outros planisférios? - Contexto histórico da época Henricus
Martellus (1489) Martin Behaim (1492-1493) Juan de la Cosa (1500) Waldsemüller
(1507) Contexto Social Estratégias iconográficas de análise Topônimos
(1) Representa a Groenlândia com uma bandeira de Portugal.
(2) “Terra Del Rey de Portugall” representando a Terra Nova
com os pinheiros do Canadá.
(3) “Este he o marco dantre Castela e Portuguall”- Linha de
Tordesilhas dividindo a esfera da terra entre Portugal e Espanha.
(4) Açores.
(5) Portugal Continental.
(6) África.
(7) Arquipélago Cabo Verde. (8) Ilha Spanhola, hoje Haiti e
S. Domingos.
(9) “Ilha Yssabella”, atual Ilha de Cuba.
(10) Península da Flórida.
(11) “Las Antilhas del Rey de castella”. Nesta frase o nome
“antilhas” está escrito em português e não em espanhol (“antilles”).
As verdadeiras Antilhas são: Terra Nova, Nova Escócia e Ilha
do Príncipe Eduardo, no Canadá. (12) “Toda esta terra he descoberta per mandato
del Rey de Castella” (Toda esta terra foi descoberta por mandado do Rei de
Castela).
(13) Brasil.
Golfo chamado de Fremosso, no ponto onde a linha de Tordesilhas passa pelo
litoral norte brasileiro. Verso do planisfério "Carta da navigar per le
Isole nouam trovate in le parte de l'India: dono Alberto Cantino al S. Duca
Hercole".
("Carta náutica das ilhas novamente descobertas na
região da Índia: dado por Alberto Cantino ao Sr. duque Hercule"). A
nomenclatura usada é quase toda portuguesa, sendo apenas os oceanos, trópicos,
Círculo Ártico e Pólo Sul escritos em latim. Precisão do continente africano.
Índia peninsular.
Costa indiana próxima à China.
Perfil das Índias Ocidentais
Costa oriental da Am. do Norte.
Polêmica da Flórida.
Costas da Venezuela, Guianas e Brasil.
Ilha Brasilis.
Observações representativas Relações de poder
Centralidade
Hierarquia icônica
Meridiano de origem
Tradução exemplar, porém manipulada. Retórica simbólica
Apêndice iconográfico Sistema de 21 rosas-dos-ventos coloridas, de 32 rumos, um
deles a Leste e outro a Oeste.
Rosa-dos-ventos em destaque no continente africano,
constituindo o centro do planisfério e contendo a flor-de-lis apontando para o
norte.
Seis troncos de
léguas. Bandeiras de Portugal
– 1 escudo azul
- 5 bolas em forma de cruz
- fundo vermelho
- 7 castelos amarelos.
Bandeira branca com
cruz vermelha:
- Cruz de São Jorge (Inglaterra)
- Cruz de São Patrício (Irlanda)
Bandeira branca com a
cruz amarela
(Cruz de Santo André/Escócia)
2 bandeiras de
Portugal estão representadas:
- uma na altura da Ilha de Fernando de Noronha,
- outra na altura de Porto Seguro (onde os portugueses
aportaram no Brasil depois de “descoberto”). América Espanhola
- 3 bandeiras dos reinos de Leão e Castela.
Brasil
- 3 araras vermelhas, que simbolizam a presença de ouro.
Jerusalém
- Destaque com a representação de um castelo imenso.
- Importância dessa localidade para a cristandade.
Torre de Babel (Babilônia)
- Bandeira árabe.
- Também aparece representada no Egito (norte da África).
Veneza (única cidade europeia representada)
- Mar Adriático.
- Bandeiras azuis e vermelhas com uma lua crescente, do
Império Turco Otomano.
Região da Guiné
- 4 papagaios (habitantes negros)
- 4 araras (presença de ouro)
Serra Leoa
- Leão em dourado, segurando uma bandeira de Portugal.
- Ordem da Cruz de Cristo.
Fortaleza de São
Jorge da Mina
- Objetivo de escoar e defender o ouro (enviado do interior
para o litoral).
- Primeiro depósito de escravos da Idade Moderna.
Outras denominações:
Em 07 de setembro de 1822, como Estado soberano, o "Reino Independente do Brasil"
declara-se independente do Reino Unido
de Portugal, Brasil e Algarves.
Em 12 de outubro de 1822, o nome foi trocado para "Império do Brasil".
- Assim o Brasil ficou até a proclamação da República,
quando a designação oficial passou a ser "República
dos Estados Unidos do Brasil".
Em 24 de janeiro de 1967, data na qual a Constituição
brasileira de 1967 foi votada, o atual nome "República Federativa do Brasil" foi escolhido e perdura
na atualidade.
Como outros países chamam o Brasil:
Brazil (países de
língua inglesa),
Brésil (países de
língua francesa),
Brasile (Itália),
Brasilien (países
de língua alemã, Dinamarca),
Brazylia (Polônia),
Brazilėjė
(Lituânia),
Brazílie (República
Tcheca),
Бразилия
(Rússia),
ब्राज़िल (Índia),
巴西 (China).
Citações:
Para Martin
Waldseemüller, o Brasil era também uma das ilhas das Antilhas, como
mostrado em um outro mapa seu (fragmento embaixo, à esquerda). Nomenclatura
parecida foi usada pelos portugueses no Cantino, em 1502 (fragmento, à
direita), na Ilha do Brasill.
Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal
A Terra dos Papagaios
No Cantino, as araras são o maior destaque ilustrativo do
Brasil.
O Brasil foi referido, principalmente pelos italianos, como
a Terra dos Papagaios nos primeiros anos após sua descoberta. Entretanto, era
normalmente uma referência alegórica.
O Brasil no Planisfério de Jerônimo Marini (1511). Este é o primeiro registro conhecido em que
a Terra de Santa Cruz recebe o nome da madeira vermelha. O sul está em cima e o
autor ainda acreditava que o Brasil era parte da costa oriental da Ásia.
Colombo, também acreditava que o Brasil estava nas Índias. No início do século
XVI, alguns cartógrafos ainda confundiam o Brasil com a Austrália.
O Río de Brasil, junto a Porto Seguro, registrado no
Cantino, de 1502. A expedição de Gonçalo
Coelho achou “pau
brasil” em suas margens e o batizou com o nome de Rio de Brasil.
Essa é a primeira associação conhecida da Terra de Santa Cruz com a madeira
vermelha.
Re-Descobrimento Brasil
Acima, cédula de 500 Réis, da época do Império do Brasil.
Cédula de dois mil Reis, de 1918, da República dos Estados
Unidos do Brazil.
A grafia Brazil (com z) conviveu com a grafia com s desde o
século 16.
A partir de 1920, as moedas passaram a adotar apenas a
grafia de Brazil com "s".
Brazil o Paraíso na Terra
- São muitas as interpretações
que, ao longo dos séculos, a Humanidade fez do texto bíblico do Gênesis, sobre
a localização do Paraíso de que Adão
e Eva foram expulsos. Todas
coincidem em que seria um lugar muito difícil de atingir, mas não impossível,
especialmente com a ajuda divina.
- Seria um lugar de
agradabilíssimo e permanente clima temperado, situado no Oriente, talvez em
lugar bem alto para que não fosse alcançado pelas águas do Dilúvio Universal,
cercado por grande extensão de terra ou de água que dificultassem ao homem
atingi-lo. Se situado em terra, dele sairiam quatro grandes rios (Fison, Gion,
Heidequel e Eufrates), em direção aos pontos cardeais.
- Além de pássaros cantando
durante o ano inteiro, árvores sempre carregadas de frutos existiriam grandes
quantidades de minérios e pedras preciosas. Os quatro rios teriam origem comum
em uma grande lagoa, que seria dourada por ali se depositar o ouro carregado
dos terrenos vizinhos.
- Esse mito inicialmente situava o
Paraíso Terrestre em algum ponto entre o centro da África e o Subcontinente
Indiano, sendo o Nilo possivelmente um dos quatro famosos rios (o Gion),
enquanto o Ganges (o bíblico Fison) seria a saída fluvial oriental do Paraíso -
relacionando-se ainda com essa lenda os rios Tigre (que seria o bíblico rio Heidequel) e o Eufrates, que banham a
Mesopotâmia.
- Um dos primeiros locais do
Paraíso Terrestre ficaria em algum ponto, que mostra o Rio Nilo e o
Egito em primeiro plano, tendo acima a Península do Sinai delimitada pelos
golfos de Suez e Akaba (convergindo à
direita para o Mar Vermelho), e à esquerda o Mediterrâneo, sendo
visíveis ainda a cidade do Cairo, o Canal de Suez. Na parte superior, vê-se o
Mar Morto (entre Israel, Palestina e Jordânia), os desertos da Síria e do
Noroeste do Iraque.
- O mito viaja para Oeste –
Misturado com as epopéias gregas, com a história das colunas de Hércules (que
seriam as laterais do Estreito de Gibraltar, por onde o Mediterrâneo se liga ao
Atlântico) e da montanha de Atlas que sustentaria o céu, podendo ser vista de
tais colunas, o Paraíso, já em forma insular, foi depois transportado para as
Ilhas Canárias, não por acaso chamadas Ilhas Afortunadas, e que já seriam conhecidas
desde o tempo dos primeiros navegadores fenícios que se aventuraram no
Atlântico.
Por volta do século X, essa lenda
começou a ganhar forma mais definida na Irlanda, e perduraria por mais 600
anos, com inúmeras versões, conhecidas principalmente como Navigatio Sancti
Brandani, em que São Brandão noticia a existência de uma ilha povoada de aves
falantes (... e lembre-se que no Paraíso todas as aves falavam, emudecendo em
conseqüência do Pecado Original).
Em 1467, como no mapa de André Benincasa, a mítica Ilha de São
Brandão, por ele atingida após 40 dias e noites de navegação, aparece às vezes
na forma de um arquipélago, que inclui certa ilha do Brasil ou Braçile, também
referida em 1367 na carta marítima de Pizzigano,
que inclui a Ysola de Braçir entre
as chamadas ilhas Benaventuras.
- Tal ilha do Brasil, e toda a
mitologia céltica de São Brandão, não teriam relação - segundo Sérgio Buarque de Holanda - com "a presença
em certas ilhas atlânticas de plantas tais como a urzela ou o sangue-de-drago,
que dão um produto tintorial semelhante, na cor purpurina, a outro que,
pelo menos desde o século IX, era conhecido no comércio árabe e italiano sob os
nomes de brasil e verzino".
Continua o historiador:
- Segundo já o mostrou
decisivamente Richard Hennig, aparenta-se
o topônimo antes às vozes irlandesas Hy Bressail e O'Brazil, que significariam
ilha afortunada. Essa, melhor do que outras razões, poderia explicar a forma
alternativa de O brasil e Obrasil que aparece em vários mapas. Até em cartas
portuguesas como a de Lázaro Luís,
datada de 1563, vê-se essa designação obrasil atribuída à ilha mítica. Em
outra, de Fernão Vaz Dourado -
existente na Biblioteca Huntington e composta, segundo parece, pelo ano de 1570
-, já se transfere, sob a forma de O Brasil, encimando as armas de Portugal
(...) para a própria terra que descobriu Pedro
Álvares Cabral. Aliás, antes de 1568, em mapa do mesmo autor, incluído no
atlas Palmela, temos o nome hobrasill, juntamente com o do cabo de Santo
Agostinho, aplicado a terras compreendidas no Brasil atual. Curioso que a nova
naturalização americana do designativo não impeça que, no referido atlas,
continue esse obrasill a indicar uma ilha misteriosa localizada a Sudoeste da
Irlanda e representada por um pequeno círculo vermelho atravessado de uma raia
branca.
"Nascido de uma inspiração religiosa ou paradisíaca,
esse topônimo, se não o mito que o originou, perseguirá teimosamente os
cartógrafos, revelando uma longevidade que ultrapassa a da própria Ilha de São
Brandão. Com efeito, representada pela primeira vez em 1330 (ou 1325) na carta
catalã de Angelino Dalorto, ainda surge mais de cinco séculos depois, em 1853,
numa carta inglesa de Findlay, com o nome de High Brazil Rocks, isto é,
Rochedos do Brasil ou de Obrasil, tal como nos mapas medievais e
quinhentistas", cita ainda Sérgio Buarque.
- O autor de Visão do Paraíso
comenta, em outro ponto dessa obra, que "não há motivos para se pôr em dúvida
que fenícios e cartagineses tivessem efetivamente alcançado alguma parte das
Canárias atuais e do grupo da Madeira",
relembrando comparações de vários pesquisadores de que a ilha citada por Aristóteles como situada para o
ocidente das colunas de Hércules seria precisamente a Ilha da Madeira.
- Por outro lado, Richard Hennig, em sua antologia de
viajantes antigos e medievais às terras desconhecidas, recolhe notícias da
presença de certas matérias corantes raras nas ilhas atlânticas. A cidade de
Tiro tinha célebre indústria de púrpura que possivelmente devia sua fama ao uso
da urzela das ilhas Canárias.
- A vinculação histórica das
Canárias com as Ilhas Afortunadas tem duas outras razões: para o historiador Kiepert, o nome de Makaron Nesoi,
atribuído tardiamente pelos gregos ao arquipélago, correspondia literalmente à
forma latina de Insulae Fortunatae, que seria uma deturpação fonética da
primitiva designação fenícia do mesmo lugar (Ilha de Macário, ou seja, de
Melkert, o deus local de Tiro). Lembre-se ainda que o Melkert fenício chegou a
ser identificado com Hércules, a cuja história se prende a do pomo das
Hespérides, que por sua vez se relaciona com as ilhas ocidentais.
- Humboldt aventa a
hipótese de que o pico de Tenerife (que emerge do oceano, alcançando 3.710
metros de altitude) seria o primitivo monte Atlas citado por Homero, e que em dias claros pode ser
visto desde o africano Cabo Bojador, sendo apontado como a mais ocidental das
colunas que - segundo mitos egípcios - suportavam a abóbada celeste.
Paraíso sulamericano -
Com o avanço dos descobrimentos marítimos ibéricos, e a percepção de que numa Terra
redonda o Oriente bíblico poderia estar inclusive no Ocidente (ou as cartas
geográficas poderiam ser desenhadas de ponta-cabeça, de forma que os locais
imaginados para o Éden ficariam em posição nobre, na parte superior), aliada às
maravilhas do Novo Mundo descritas pelos navegadores, o Paraíso Terrestre e
todo o conjunto de lendas que o cerca foi rapidamente transportado para o
interior da América do Sul.
- A nova localização reunia todas
as características descritas no Éden: - clima temperado, vegetação luxuriante,
fauna exuberante o ano todo (com muitas espécies desconhecidas e associáveis à
mitologia paradisíaca), a aparente pureza de alma dos indígenas, os quatro rios
(Orinoco, Amazonas, São Francisco e Prata). Espécimes da flora como a
sensitiva, e da fauna como o louva-a-deus, o beija-flor e o colibri, a jibóia
que troca de pele (associada à serpente bíblica), a anhuma (comparada ao
unicórnio) apenas reforçavam a idéia da proximidade com as regiões
paradisíacas.
- E os papagaios, além de terem
também status de aves-do-paraíso (ao lado do rouxinol e da mítica fênix),
apresentavam em alguns casos as mesmas cores dos até então só encontrados na
Índia (o papagaio de coleira vermelha, que existia no famoso Reino cristão do Preste João - que seria próximo ao rio
Ganges, antes de ser trasladado nos relatos portugueses para a
Abissínia/Etiópia), o que Cristóvão
Colombo usou como argumento para sua tese de que tinha alcançado tão
distante região.
Em 1501, o Brasil já foi
denominado Terra dos Papagaios e o fascínio dessas aves sobre os navegadores é
bem demonstrado neste mapa elaborado por Cantino,
em 1502 - aqui parcialmente reproduzido, com a região Nordeste e a linha conservado
na Biblioteca Universitária de Modena, na Itália.
- A própria forma de coração do
continente sulamericano, destacada pelo historiador e geógrafo Antonio de León Pinelo, conselheiro
real de Castela, na obra El Paraíso en el Nuevo Mundo, provaria que os
primeiros homens nasceram em seu interior, habitando a América do Sul até o
Dilúvio Universal, quando Noé
construiu sua arca na vertente ocidental da cordilheira dos Andes, com cedros e
madeiras fortes. Segundo seu relato, Noé
rumou em sua Arca diretamente dos Andes peruanos para a Ásia e, depois de
propagar-se ali a nova espécie humana, voltou ao Novo Mundo.
- E se o Éden era cercado por
ricas muralhas, não seriam novos indícios de sua proximidade o ouro, a prata e
as pedras preciosas descobertos pelos espanhóis nos montes do Peru? - Peru que,
nas descrições da época, quase chegava ao Atlântico e à Bacia do Prata, pouco
espaço deixando ao Brasil dos portugueses em certas cartas geográficas. Como o
cosmógrafo e matemático italiano João
Batista Gésio, que define a América Portuguesa como "terra
continuata con el Peru".
Fins do século XVI, num mapa, o de
Arnoldus Florentinus, o Peru ocupava
quase toda a América do Sul, com espaços mínimos para os vizinhos Chile,
Castilla del Oro e Brasilia.
Em 1612, o Brasil também foi
descrito no Livro que Dá Razão do Estado do Brasil, como apenas a "parte oriental do Peru, povoada na
costa do mar Etiópico".
Em 1545, na carta de mestre Pedro de Medina, o Peru já quase se
confunde com toda a América do Sul, o mesmo ocorrendo na que Alonso Peres elaborou em 1640.
- Consultados os indígenas, a
respeito dos caminhos para se chegar ao Eldorado, à Fonte da Juventude, à Lagoa
Dourada, ao próprio Paraíso, estes acabaram reunindo um pouco de suas próprias
lendas nativas às fantásticas histórias trazidas pelos navegadores. O mesmo São
Tomé - que viveu e foi sepultado em Meliapor, na Índia - deixou assim pegadas e
marcas de seu bastão gravadas em milagrosas rochas sulamericanas desde a Bahia
até o Paraguai, sendo que seu caminho pela capitania de São Vicente até as
terras do atual Paraguai é bastante citado nas crônicas da época.
- Porém, o que mais queriam os
navegadores portugueses era estabelecer um caminho por terra entre o litoral
brasileiro e as riquíssimas regiões peruanas, ainda mais após a descoberta
espanhola das minas de Potosi, em 1545. Para maior controle da Coroa, uma vez
que a capital da colônia estava em Salvador, as primeiras expedições partiram
da Bahia. Com a transferência da sede administrativa para o Rio de Janeiro,
novas expedições foram feitas a partir dessa região.
- Mas, bem antes de Martim Afonso se instalar em São
Vicente, já era conhecido o caminho do Peabiru, que, com uma das ramificações
partindo do litoral vicentino (outra delas começaria na Ilha de Santa
Catarina), atingiria os contrafortes dos Andes - onde as montanhas nevadas, com
certos efeitos luminosos causados pelo Sol sobre a neve, se transformavam
facilmente em montanhas de encostas douradas, de ouro, confirmando assim os
mitos do Paraíso Terrestre e da Lagoa Dourada.
- Desde São Vicente - Em sua obra
Visão do Paraíso, toda ela dedicada à análise desses mitos especialmente na
época dos Descobrimentos, conta Sérgio
Buarque de Holanda que "a possibilidade de se acharem pelo caminho de São
Paulo as mesmas riquezas que tinham sido procuradas a partir de Porto Seguro,
do Espírito Santo e da Bahia ficara demonstrada, aliás, desde que Brás Cubas, conforme já foi notado,
trouxera ou fizera trazer do sertão mostras de ouro, além de recolher pedras
verdes de suas mesmas propriedades, que corriam, como se sabe, até o limite
ocidental da demarcação lusitana, ou seja, até as raias do Peru. E, em 1574,
segundo um documento divulgado por Jaime Cortesão (Pauliceae Lusitana Monumenta
Historica, I, págs. XCLX e CI), certo Domingos Garrucho (ou Garocho?), morador
na capitania de São Vicente, e possivelmente em Santos, onde devera ter
conhecido Braz Cubas, recebeu
patente de mestre de campo do descobrimento da lagoa do Ouro".
- Além das referências sobre
caminhos possíveis para se chegar a esses lugares fantásticos, dadas pelos
degredados e pelos indígenas, São Vicente tinha uma outra vantagem sobre os
pontos litorâneos mais ao Norte: - a menor distância entre o litoral e os
Andes, encurtando bastante a viagem. De fato, os antecessores dos primeiros
bandeirantes teriam - mesmo com todas as adversidades - chegado por terra aos
rios da Prata/Paraná e São Francisco, senão ao território inca peruano. Assim
pensou Dom Francisco de Sousa, "nomeado
capitão-general de São Vicente, Espírito Santo e Rio de Janeiro, ou melhor,
quando ainda governador-geral do Brasil".
Em 1553, chegava a Lisboa a
notícia levada por Tomé de Sousa,
atribuída a certo mameluco do Brasil que o acompanhava, que pretendia ter
andado no Peru, de onde tornara por terra à costa do Brasil e afirmava que tal
percurso poderia ser feito em muito poucos dias. Em 1560 e no ano anterior,
tinham-se realizado as expedições de Brás
Cubas e Luís Martins, a partir
do litoral vicentino, e "de uma delas há boas razões para presumir que teria
alcançado a área do São Francisco, onde recolheu amostras de minerais preciosos.
Marcava-se, assim, um trajeto que seria freqüentemente utilizado, no século
seguinte, pelas bandeiras paulistas",
refere Sérgio Buarque de Holanda.
- O historiador Capistrano de Abreu tentou identificar
tal mameluco citado por Tomé de Sousa
como sendo Diogo Nunes,
provavelmente natural da capitania de São Vicente, que por volta de 1554
ofereceu a Dom João III curiosos
Apontamentos sobre uma viagem ao Peru, relatando que seria possível "ir por São
Vicente, atravessando pelas cabeceiras do Brasil, tudo por terra firme". Nesse ponto, contradiz outro historiador, Varnhagen, que acreditou ser o espanhol
Diogo Nuñes de Quesada o autor de
tal documento.
Antes de setembro de 1554, um
documento aparentemente definitivo sobre o tema seria a relação que Martin de Orue escreveu (conservada no
Arquivo de Índias de Sevilha), com o trecho "del peru vyno por el año pasado un
pasajero natural portugues que se dize domyngo nunes natural de Moron ques
Junto ala Raya de Castilla el qual trujo de veynte a treynta myll ducados este
andando persuadiento al Rey por uma conquysta por el Brasil para por ally
entrar a las espaldas de cuzcol [...]".
Com as abreviaturas usadas na época e o pouco esmero de Orue na transcrição de
nomes portugueses, não é difícil a Sérgio
Buarque de Holanda apontar que Domingos
e Diego sejam o mesmo prenome do
viajante natural de Mourão (Moron), junto à raia de Castela, na Espanha.
- Sérgio Buarque cita
por sua vez o Archivo de Indias (Sevilha), conforme cópia da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro:
"[...] traxo consigo vn ombre hijo de vn portugues ~q
lo ubo de vna mujer del brasil el qual se crió por la tierra del brasil
adelante y ~q el dho ombre dize que ha estado en d peru y ~q del peru vino alli
al brasyl por tiérra y ~q esta muy çerca de aquello y ~q donde estan los
portugueses en el peru y ~q creis ~qlo que este ombre dize deue ser en la
demarcaçion de sua mag.de el brasyl em muy pocos dias por tierra yran y ~q ay
mas mynas de oro e plata ~q en y tenesys por çierto que juntamente con los que
alla tiene en el brasyl lleguen al cauo esto que dize ese ombre y tengoos en
seruiº el aviso que dello nos days que ha sydo açertado [...]".
- Ele observa a respeito que "este
ofício do príncipe, datado de Valladolid aos 17 de novembro de 1553, responde à
carta de Luís Sarmiento de 8 do mesmo mês e ano." Luís Sarmiento de
Mendoza era embaixador espanhol em Lisboa.
- São também citadas as narrativas
de Anthony Knivet sobre como seria
bem mais curto o trajeto do litoral vicentino (que abrangia Cananéia, um dos
pontos de entrada dos expedicionários) ao Serro de Potosi. Outro inglês - Thomas Griggs, tesoureiro do navio
Minion of London, mandado ao Brasil em 1580 por uma companhia londrina de
aventureiros - informava que certa parte do Peru estaria situada "por água
ou terra a doze dias apenas" da vila
de Santos. Seu testemunho confirma as informações do compatriota John Whithall, então morador em Santos,
que atraíra a atenção dos aventureiros londrinos.
- Não por acaso, Santos e São
Vicente passaram subitamente a despertar grande interesse entre mercadores,
navegantes e piratas ingleses, que pensaram em estabelecer na ilha vicentina um
trampolim para a conquista das minas espanholas de Potosi, já que São Vicente
era pouco fortificada e bastante abastecida de víveres que sustentariam "infinitas
multidões" de conquistadores.
- Desinteresse - Enquanto isso, os
paulistas estavam mais interessados na caça aos índios para escravização que na
busca de riquezas minerais, e convencidos de que, se o ouro e as esmeraldas
fossem encontrados, imediatamente a Metrópole reforçaria seu controle sobre São
Paulo, tirando sua liberdade de ação. Assim, havia um amplo desinteresse,
quando não um verdadeiro boicote, à busca dessas riquezas pelas terras
paulistas.
No século XVI, a propósito, vale
recordar que, os diamantes (incolores) eram considerados desinteressantes,
tendo muito maior valor as esmeraldas, verdes, estas bem mais procuradas, pelo
papel importante que tinham nas visões paradisíacas (eram encontradas no
bíblico rio Fison), em que a tais pedras verdes eram atribuídas virtudes
sobrenaturais, como a identificação de venenos e resistir a quaisquer
malefícios, garantindo ainda a castidade de suas portadoras e sendo um símbolo
da vida eterna.
- A cidade de Sabará foi fundada
pelo bandeirante Borba Gato nas
montanhas de Sabarabuçu
- O comércio de escravos indígenas
era mais compensador que a busca de lendárias riquezas, e o insucesso de várias
expedições ao Peru, algumas massacradas por indígenas hostis, não animavam
muitas tentativas.
Em 1600, por volta, registram-se algumas
entradas em busca dessas riquezas, especialmente da lendária lagoa dourada de
Paraupeba ou Paraupava (nas montanhas de Sabarabuçu ou Sabaroasu - topônimo
proveniente de Taberaboçu, forma corrompida do tupi Itaberaba e seu aumentativo
Itaberabaoçu, significando "serra resplandecente", onde começariam importantes rios, como o São Francisco, o
Prata e o Amazonas - que se acreditava estarem interligados a ela, pelo fato de
serem rios caudalosos e perenes.
- Tal lagoa - que explicaria o
fato desses rios serem ainda mais caudalosos no verão, quando se esperaria que
secassem devido ao calor - estaria no território do atual estado de Goiás ou em
Minas Gerais, onde inclusive existe ainda o assim denominado sítio de Paraopeba
(e o Rio Paraopeba é um dos principais afluentes do alto curso do Rio São
Francisco).
- Assim acreditava João de Laet, que reproduziu em sua
obra as observações do compatriota Guilherme
Glimmer "acerca de uma viagem que pudera empreender em 1601,
quando morador na capitania de São Vicente, e que até hoje representa o único
documento conhecido sobre o percurso da bandeira confiada ao mando de André de
Leão. As origens dessa expedição prendem-se, de acordo com o testemunho de
Glimmer, ao fato de ter recebido Dom Francisco de Sousa de certo brasileiro,
pela mesma época, amostras de uma pedra de cor tirante ao azul, de mistura com
grãos dourados. Submetida ao exame dos entendidos, um quintal dessa pedra
chegara a dar nada menos do que trinta marcos de prata pura."
- A respeito, Sérgio Buarque cita a Historia Naturalis Brasiliae, pág. 263: "Is narrat
eo tempore quo ipse in Praefectura S. Vicentii degeret, venisse ad illas partes
à Praefectura Bahiae Franciscum de Sousa; acceperat enim à quodam Brasiliamo
mettalum quoddam, è montibus Sabaroason, ut serebat, erutum, coloris cyanei
sive caelestis arenulis quibusdam aurei coloris interstictum quod unu à
minerariss esset provatum, in quintali triginta marcas puri argenti continere
deprehensum fuit".
- Depois de aludir às expedições
de Aleixo Garcia e do espanhol Cabeza de Vaca, pelo caminho iniciado
em Cananéia, nos primeiros anos do século XIV, o autor de Visão do Paraíso
observa ser "provável que a via de São Vicente a Assunção,
aberta aparentemente pelo ano de 1552 ou pouco antes, fosse um dos galhos da
mesma estrada. Não há prova de que antes da vinda dos europeus fosse
correntemente usada, em todo o seu curso, pelos Tupi vicentinos. Ao menos em
certa informação que, depois de 1554, escreveu do Paraguai Dona Mencia
Calderón, a viúva de Juan de Sanabria, diz-se que 'de São Vicente se podia ir
até Assunção por certo camiño nuevo que se habia descubierto'."
"Esse novo caminho - continua Sérgio Buarque -,
descrito no livro do célebre aventureiro alemão Ulrico Schmidl, que em 1553 o
percorreu de regresso ao Velho Mundo, foi largamente trilhado naqueles tempos,
em toda a sua extensão, pelos portugueses de São Vicente, em busca dos Carijó, e
ainda mais pelos castelhanos do Paraguai, que vinham à costa do Brasil ou
pretendiam ir por ela à Espanha, até que os mandou cegar Tomé de Sousa no mesmo
ano de 1553. Com alguma possível variante, deve ser uma das trilhas que no
século seguinte percorrerão numerosos bandeirantes de São Paulo para seus
assaltos ao Guairá".
Referências:
Adaptado por Jaime Muller
Me. Cláudio Fernandes,
Wikipédia,
SANTOS, Fabrício Barroso dos. "Origem do nome Brasil"; Brasil Escola. Disponível em . Acesso em 28 de novembro de 2015.
Mina de Prata em Potosi, na atual
Bolívia, em estampa de Theodor de Bry e Matthäus Merian
Reprodução de Americae Praeterita
Eventa, de Helmut Andrä e Edgard de Cerqueira Falcão,
Editora da Universidade de São
Paulo, 1966, São Paulo/SP
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